terça-feira, 1 de abril de 2014

Frozen: uma Aventura de Fuga e de Amor Ágape

Frozen já é a animação mais assistida no cinema de todos os tempos. Ora, uma vez que o filme está cada vez mais popular, cabe aqui, portanto, valorizar os vários aspectos positivos que a animação da Disney mostra.
Elsa é a rainha amaldiçoada por ter o poder de congelar as coisas. Seu drama é não saber como controlar o seu poder e ferir os outros, como fez quando era pequena, em um acidente com sua irmã mais nova, Anna. Diante de uma crise, sobre forte pressão no dia de sua coroação, Elsa que até então escondeu o seu poder de todos e se vê desmascarada, foge para uma montanha. Ela decide deixar tudo para trás, sua irmã, reino e problemas. O seu Deixar tudo para trás, cena da música “Let it Go” (em português ficou “Livre Estou”– embora a música seja ótima e mereça o Oscar de Melhor Canção Original 2014 que ganhou)  não se mostrou a melhor solução, aliás a aparente liberdade em deixar tudo, “chutar o balde”, pode até ser prazeroso e trazer a sensação de liberdade inicial como mostra a música :  “I know I left a life behind / But I'm too relieved to grieve” – tradução livre :Eu sei que deixei uma vida para trás/Mas estou aliviada demais para lamentar.
 Não é a primeira vez que isso acontece. Outro famoso personagem da Disney já tinha feito o mesmo e não foi bem sucedido também. O Hit “hakuna matata” é também, como o Hit de Elsa, o momento em que o leão Simba decide por deixar de lado os problemas mal resolvidos da vida e tentar seguir adiante. Seguir adiante não é o problema, o problema é não fazer isso direito. O profeta Jonas, na Bíblia, faz a mesma bobagem, segue a vida “fugindo” de sua missão (cf. Jn 1,1-3), os reis Simba e Elsa fogem da responsabilidade e de todas as dificuldades que isso implica. Jonas foge da sua responsabilidade incumbida por Deus (cf. Jn 1, 1-2). Fugir não é a solução! Felizmente todos eles, Jonas (cf. Jn 3, 1-5), Elsa e Simba voltam e cumprem o seu chamado, sua vocação. Não adie, não deixe pra lá, não fuga da sua vida, enfrente-a!
Elsa é amaldiçoada. Nasceu com o poder de congelar, fazer gelo e neve. Seus poderes com o tempo só aumentam e ela torna-se capaz de causar um inverno constante e uma tempestade sem fim. Com a morte dos pais e o acidente com a irmã mais nova, Elsa cresce convicta de que sua condição é, de fato, a condição de alguém amaldiçoado, por isso resolve isolar-se, para não ferir ninguém. A sua condição natural, inerente à sua vida a fez assim, não foi uma escolha. Nem todas as situações da vida são escolhas. Elsa demorou em perceber que é a sua atitude diante do que a vida é, é que fará de sua condição uma maldição ou um dom. A sua condição existencial não define toda a sua vida. É preciso optar por fazer o melhor de uma situação controversa. O caminho? Acho que aqui está o grande valor do filme Frozen – Uma Aventura Congelante , Elsa verbaliza, quase no fim da animação holywoodiana, o caminho para fazer de uma condição irreversível, o melhor possível: o Amor.
De fato, Frozen não apresenta a idéia de amor apenas em seu víeis romântico (Eros), mas explora também o conceito do amor filia entre Elsa e Anna e – o mais eloqüente – o amor ágape. O coração congelado de Anna só pode ser curado por um “ato de verdadeiro amor”. O espectador é levado a acreditar que se trata do clássico beijo do amor verdadeiro (romântico – Eros), explorado em outros contos da Disney e DreamWorks –para citar alguns exemplos – mas, é na verdade um gesto de amor agápico que cura Anna. O amor que é o sacrificar-se pelo outro, um amor-doação que o cristão bem conhece. O dar a vida pelos seus amigos (cf. Jo 15, 13). Anna estava totalmente congelada, sem vida, mas não por acaso. Seu sofrimento tinha um sentido, resgatar a sua irmã, salvar sua vida. Não há como não lembrar o sofrimento enfrentado por Jesus que sofre pelo gênero humano, para sua salvação. De alguma maneira, Anna parece por em prática o que Jesus outrora disse: “Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 35). Ora, o Amor é o ponto auge do viver cristão “porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8)

Com a vitória do Amor, o inverno chega ao fim!

Um comentário:

Camilla Nunes disse...

Excelente reflexão. Ainda não vi a animação, mas certamente está na minha lista. Parabéns pelo texto e pelo poder de observação! É importante ter um olhar atento ao que vemos, há muitas mensagens valiosas e outras, perigosas. Se um dia puder fazer uma reflexão sobre o desenho A origem dos guardiões.