sábado, 4 de abril de 2020

Amazônia de amanhã: Ramos secos ou árvore verde?



 “Se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” (Lc 23,31)

Jesus fala de si mesmo como uma árvore verde. E não é de se estranhar: De fato, no caminho do calvário, quando Ele profere essas palavras, está carregando um madeiro de árvore cortada: a Cruz. A árvore verde é árvore viva que dá frutos. A árvore seca é árvore sem vida, sem frutos. Hoje, na dolorosa paixão do Cristo, a árvore da Cruz parece mais uma árvore seca do que uma árvore verde. Quitaram a vida da árvore verde - do Cristo – no madeiro da Cruz. Secaram-na de vida. E, não obstante, essa árvore seca produz seu fruto de vida para todos: ‘eis o lenho da Cruz da qual pendeu a salvação do mundo’. As queimadas, o extrativismo, o desmatamento para o uso desmedido do agronegócio e pecuária mudam milhões de árvores verdes em árvores secas. A Criação geme em dores de Cruz. Os biomas brasileiros estão ameaçados pela secura dos corações que tratam a Casa Comum como casa de ninguém.

“Se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” (Lc 23,31).

Essas palavras de Jesus são dirigidas às mulheres que ele encontra em uma das estações da Via Crucis às quais Ele recomenda que não chorem por Ele, mas por elas mesmas e pelos seus descendentes (cf. Lc 23,28). Chorai pelos que virão, disse Jesus. Chorai hoje pelos descendentes dos povos que mais padecem com a exploração da Mãe Terra, chorai, hoje, com os empobrecidos, com os ribeirinhos, os quilombolas e os povos indígenas.

Nesse ano, com a exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, do papa Francisco, nossos corações se voltam para aquela realidade e seus povos. Aqui também se encontra o rosto do Cristo padecente, o rosto de Cristo encarnado no rosto dos povos amazônicos: é o rosto da Igreja amazônica. É um rosto também sofredor de povos que resistem e lutam. “Não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50, 6-7). Cristo padece bofetões e cusparadas na Amazônia. “Transpassaram minhas mãos e os meus pés e eu posso contar todos os meus ossos” (Sl 21). Os territórios tradicionais indígenas são transpassados e retalhados por fazendeiros. “Cães numerosos me rodeiam furiosos e por um bando de malvados fui cercado” (Sl 21). A atual política de demarcação da terra cerca os territórios dos povos tradicionais por regiões de plantio e cria de gado, onde já não é mais possível caçar e pescar para a sobrevivência.

“Se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” (Lc 23,31).

O Domingo de Ramos contém uma referência também aos ramos do Evangelho da Procissão de Ramos. Os ramos são a manifestação expressiva do povo que acolhe o Senhor como profeta poderoso em Jerusalém. Nesse episódio, “do meio da multidão, alguns dos fariseus disseram a Jesus: ‘Mestre, repreende teus discípulos!’ Jesus, porém, respondeu: ‘Eu vos declaro: se eles se calarem, as pedras gritarão’”. De rosto impassível como pedra (cf. Is 50,7) os povos amazônicos seguem sua luta pela vida em suas terras. Este é o rosto da Igreja Amazônica: Um rosto resistente e forte. Pois, se os discípulos de Jesus se calarem, as pedras gritarão, seus rostos impassíveis como pedra gritarão, e até os ramos das palmeiras de oliveira gritarão, os ramos de açaí gritarão, os ramos de coco e tucumã gritarão, os ramos de buriti gritarão, a Floresta gritará; caso os discípulos de Jesus se calarem na Amazônia.


quinta-feira, 2 de abril de 2020

Decretos e Formulários para Missa em tempo de pandemia

Íntegra dos Decretos e Formulários para a 'missa em tempo de pandemia' e oração especial para Sexta-feira Santa em português (Covid19 em 2020) promulgados pela Congregação para o Culto Divino:

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