terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Entenda porque bispo espanhol erra ao criticar Star Wars: The Last Jedi

No dia 09 de janeiro a Agência Católica Internacional (ACI) publicou a notícia de que o bispo de San Sebastián, na Espanha, Dom José Ignacio Munilla, criticou o filme Star Wars: Os Últimos Jedi por ter um “aceno” ao pensamento da Nova Era.

ATENÇÃO SPOILERS!


A primeira critica do bispo


Segundo o portal de notícias, o prelado criticou que o filme destaca coisas como “os livros sagrados não são necessários, pode-se queimar o templo”. O bispo erroneamente interpretou que o novo filme propõe que “no fundo, a sabedoria esta dentro de você, não está nos livros, não está nessa tradição de nossos pais, mas queimemos os livros sagrados porque a sabedoria é você”. “Aqui, estamos vendo uma reedição de ‘espiritualidade sim, religião não’”, comentou. Para ele trata-se de “uma espécie de aceno à ‘nova era’ de espiritualidade sim, e você é a espiritualidade, você é a sabedoria. Mas não religiosidade, não uma tradição que foi entregue aos livros sagrados, que foi guardada no templo”.

O bispo cochilou no filme

Somos levados a crer que Yoda queimou os livros Jedi quando fez o raio cair na árvore que os abrigava em Ahch-to. Mas não é isso que acontece! No final do filme, descobrimos que os livros estão intactos! Quando Finn abre uma gaveta da Millennium Falcon para pegar um cobertor para Rose, percebemos que os livros estão ali. Com certeza Rey pegou os livros antes de ir embora de Ahch-to. Nada foi queimado e Yoda sabia disso.

Em Star Wars: O Império Contra-Ataca, Yoda, bem humorado, brinca com Luke enquanto treina o jovem herói. Nesse último episódio da saga, vemos de novo aquele mesmo Yoda, brincalhão, ajudando o velho Luke a libertar-se da inércia em que estava. Aqui, Luke entendia que devia morrer no exílio em Ahch-to, que estava fora de cena. Yoda o desperta para a ação: desapega-o das leis dos livros Jedi e o impulsiona para a missão. A missão está acima da lei porque a lei serve à missão. Algo muito parecido com que Jesus faz nos seus conflitos com os fariseus apegados à rigidez da lei e distantes da prática do amor ao próximo.        

Terminar o filme com os livros guardados na Millenium Falcon, é terminar o filme com os livros sagrados guardados num lugar especial e cheio de valor para o universo Star Wars. 

A outra critica do bispo


Além disso, o bispo indicou “também era notório na forma confusa da distinção do bem e do mal, como se o próprio bem e o mal necessitassem mutuamente um do outro para se desenvolver”.


Como resolver o impasse do bispo


É difícil indicar de onde o bispo elaborou que "era notório" a "forma confusa da distinção do bem e do mal". Talvez Dom Munilla é que tenha se confundido ao assistir ao filme. Não obstante, é possível que ele se referia à relação entre a protagonista Rey (bem) e o vilão Kylo (mal) - já que a relação deles é o arco mais notório do filme. 

Aqui não há confusão. Nenhum dos dois personagens personifica o bem ou o mal. Star Wars é e sempre foi carregado de esperança #Hope, mesmo para aqueles que parecem completamente perdidos - como aconteceu com Darth Vader. 

Nesse sentido, Kylo não está perdido, pelo menos não ainda. Estamos assistindo a sua tragédia (matar o pai, tornar-se Líder Supremo da Primeira Ordem), porém, assistimos também a sua hesitação quando teve a oportunidade de matar sua mãe. Nem tudo está perdido para Kylo. A compaixão sempre moveu os personagens de Star Wars. A protagonista, Rey, acredita na redenção de Kylo; E Luke deixa claro essa possibilidade quando encontra Leia:

 "Leia: “Eu mantive a esperança durante tanto tempo… Mas sei que meu filho desapareceu.”

Luke: “Ninguém desaparece realmente.” ". 

Portanto, há esperança para Kylo. Ele não está totalmente consumido pelo lado sombrio da força (mal). Daí que ele não pode ser a personificação do mal e nem ser visto como um personagem simples em que a distinção do bem e do mal esteja clara. Kylo é conflito e nisso Kylo é bem humano.

Fim do problema?


Star Wars: The Last Jedi não é o meu filme favorito da saga. O problema do filme é de ordem narrativa e conceitual na continuidade com os filmes anteriores. O problema do filme não é de ordem ideológica! Dom Munilla erra ao criticar Star Wars: The Last JediDe qualquer forma, o próprio bispo admite “não sou um especialista nessa saga”, logo ele pode errar quando fala sobre o assunto. Recomendaria a ele um conhecimento mais aprofundado antes de emitir uma opinião tão categórica. Star Wars é sobre amar os outros, resistir ao mal, ter fé nas outras pessoas, encorajar a amizade e a necessidade de comunidade. 

De acordo com a ACI, o prelado fez seus comentário sobre o filme na edição de 5 de janeiro de seu programa ‘Sexto Continente’, transmitido pela Radio Maria.

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