segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

ELEMENTOS PARA UMA CATEQUESE PERSONALIZADA: O ENCONTRO ENTRE JESUS E ZAQUEU

A catequese de inspiração catecumenal não pressupõe que os iniciandos já estejam evangelizados ou que sequer conheçam Jesus, “esse pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado” (Porta Fidei, 2). A catequese que busca responder de forma adequada ao desafio de anunciar a Boa Nova de Jesus nos dias de hoje é consciente de que aqueles que chegam a nós para serem catequizados, sejam adultos, jovens ou crianças, muitas vezes – e cada vez mais – não receberam o primeiro anúncio de Jesus Cristo, portanto, não têm ainda uma adesão à fé Nele como o sentido maior e último de suas vidas. Antes de aprofundar ou educar a fé é preciso primeiro que haja adesão à fé, portanto, ela precisa ser despertada! A fé é um dom de Deus, mas é também uma resposta do homem. Como poderíamos aprofundar por meio da catequese o conteúdo da fé, a doutrina com um iniciando que a fé em Jesus ainda não foi acolhida? Não há como! Precisamos
começar pelo que é essencial, o que é mais importante, Jesus Cristo, Filho de Deus que nos ama, veio ao mundo e por Seu mistério de paixão, morte e ressurreição nos salva e oferece a todos aqueles que Nele creem a vida eterna (cf. Jo 3, 16-21). Então, a nossa preocupação precisa ser antes essa: como suscitar em nossos iniciandos a fé em Jesus Cristo? A resposta: anunciando Jesus Cristo! Precisamos ajudá-los a fazerem a experiência pessoal do encontro com o Filho do Deus vivo. No processo catequético de iniciação à vida cristã isso implica em “grande atenção às pessoas, com atendimento personalizado” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2012- 2015, 87). Trata-se, portanto de assumir novas práticas pastorais que possam corresponder a essa urgência de iniciar as pessoas a partir do primeiro anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado à fé e à vida cristã. Tal tarefa se fará por meio do diálogo, da proximidade, da reflexão sobre a experiência de vida, da amizade e do anúncio explícito do Evangelho de forma pessoal e personalizada a cada pessoa inicianda. De fato, todos trazem em si “o desejo e a capacidade de encontro com a Palavra de Deus, que o próprio Espírito Santo suscita” (idem). De modo prático, isso implica em um novo perfil de agente evangelizador, o Ministério dos Introdutores (cf. idem, 42).

O Evangelho de São Lucas nos apresenta um episódio em que o cobrador de impostos Zaqueu faz a experiência pessoal de encontro com Cristo. Essa narrativa é baluarte e modelo para nós porque está carregada de elementos para uma catequese personalizada que se preocupa em fazer – ou repetir – o primeiro anúncio aos iniciandos.

Nesse texto, precisamos olhar para Jesus Mestre, que é a razão de ser de nossa ação catequética, modelo de catequista e, como veremos, também de introdutor. Os gestos, a palavra e a vida de Jesus são inspiradores da nossa ação pastoral. É Dele que aprendemos a evangelizar e catequizar e é por Ele, para que se torne conhecido e amado e para que Sua proposta de salvação e de adesão ao Reino de Deus seja realidade no hoje e plenitude na vida eterna, que realizamos qualquer ação pastoral. Nesse sentido é que vemos Nele a identidade do introdutor e sua ação catequética.

Primeiro, vejamos todo o episódio bíblico em Lucas 19, 1-10.



Jesus entrou em Jericó e estava atravessando a cidade.” (Lucas 19,1)
Jericó era uma cidade conhecida, Jesus vai até lá e caminha no meio do povo, pela cidade... é Ele que possibilita o encontro Consigo, criar as condições. A iniciativa é Dele porque o primeiro amor é Dele, que nos amou primeiro e por isso nos atrai a Si (cf. 1 Jo 4,10). É ele a entrar nos lugares que nos encontramos.

Morava ali um homem rico, chamado Zaqueu que era chefe dos cobradores de impostos.” (Lucas 19,2)
O evangelista nos narra QUEM era Zaqueu, seu nome, o que fazia (era cobrador de impostos), como era (homem de baixa estatura), onde morava (cidade de Jericó)... E Jesus chama Zaqueu pelo nome, ou seja, Jesus sabe quem ele é, Ele conhece Zaqueu. O chamado do introdutor e do catequista é a conhecer, aproximarse, ir ao encontro e criar um vínculo de amizade sadia com o iniciando. Saber quem ele é, sua história, suas motivações, e deixar-se conhecer por ele também.

Ele estava tentando ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, pois Zaqueu era muito baixo.” (Lucas 19,3)
Como em Zaqueu, há em nós uma sede de VERDADE, um desejo de Deus, pois só Ele confere pleno sentido à vida... Muitas vezes não sabemos direito ou não identificamos isso em nós, mas todo ser humano “buscar ver” algo que faça sentido, que fale ao nosso coração inquieto. Mas há “multidões de ruídos” que atrapalham o encontro com o Cristo, muitos, por isso, são de “baixa estatura” na fé.

Então correu adiante da multidão e subiu numa árvore para ver Jesus, que devia passar por ali.” (Lucas 19,4)
O texto diz que Zaqueu CORREU, ou seja, ele fez um percurso, um caminho... A catequese, a iniciação à vida cristã é o caminho a ser percorrido para “ver Jesus”. Como está o caminho que propomos aos nossos iniciandos? Zaqueu subiu em uma árvore para conseguir ver Jesus. A árvore foi o instrumento que para ele foi necessário para deixar de estar “em baixa estatura”, inclusive de fé...
Nossa catequese é esse instrumento – árvore – para os nossos iniciandos aproximarem-se de Jesus. A catequese iniciática é instrumento que facilita o encontro pessoal do iniciando com a pessoa de Jesus Cristo, mas ela haverá de prepará-lo para continuar em busca do mesmo Cristo, para o discipulado, para a catequese permanente! Um dia, nosso iniciando “descerá da árvore”, queremos que seja para seguir Jesus...

Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse a Zaqueu: ‘Zaqueu, desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa’.” (Lucas 19, 5)
 O olhar penetrante de Jesus expressa Seu desejo de estar na casa, na intimidade, na vida de quem O encontra. Jesus diz que PRECISA ficar na casa de Zaqueu, Ele quer estar lá. O exemplo de Jesus nos impulsiona a promover uma catequese personalizada, familiar, no lar, na casa, especialmente por meio do ministério dos introdutores. O ministério dos introdutores é responsável por fazer o primeiro anúncio de Jesus Cristo – o primeiro tempo do itinerário da iniciação à vida cristã. Os introdutores são pessoas que conhecem o iniciando, acompanham e são testemunhas de sua caminhada de fé e desejo de celebrar os sacramentos. Agem como padrinho ou madrinha, mas não precisam necessariamente sê-lo (cf. RICA, 42). São membros das diversas pastorais e movimentos da comunidade que acompanham de forma personalizada a cada um dos iniciandos nessa fase inicial que antecede a catequese. Na maior parte das vezes, esse atendimento personalizado prestado pelos introdutores é feito nas casas dos iniciandos, com hora marcada e no caso das crianças, com a presença da família.

Zaqueu desceu depressa e o recebeu na sua casa, com muita alegria.” (Lucas 19,6)
Diante da Palavra de Jesus, Zaqueu tem uma atitude... Acolhe a Palavra e isso lhe traz grande alegria, é a Alegria do Evangelho (cf. Evangelii Gaudium, 1), característica própria do cristão. Como motivar os nossos iniciandos e suas famílias para acolherem a Palavra de Jesus? Como contagiá-los com a alegria de ser cristão?

“Todos os que viram isso começaram a resmungar: ‘Este homem foi se hospedar na casa de um pecador!’.” (Lucas 19,7)
Muitos não compreendem e por isso reagem de forma negativa. A atitude de Jesus é incompreendida, por muitos não é aceita. A proposta de um processo de catequese de inspiração catecumenal não é fácil. Articular dentro da catequese um processo personalizado e pessoal exige ter a atitude de Jesus que mesmo na incompreensão da comunidade persistiu.

Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: ‘Escute, Senhor, eu vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais’.” (Lucas 19,8)
Zaqueu, que encontrou com Jesus e acolheu Sua Palavra, agora O chama de SENHOR. Jesus ocupa a centralidade da sua vida. O encontro com Jesus possui uma dimensão transformadora, leva à ação. Zaqueu age para o bem e por meio de atitudes concretas. A catequese é educação da fé comprometida com a realidade, gera conversão pessoal e transformação da realidade.

 “Então Jesus disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, pois este homem também é descendente de Abraão’.” (Lucas 19,9)
A salvação alcança Zaqueu, que permite ser alcançado. Jesus diz que Zaqueu é filho de Abraão, ou seja, que ele pertence ao povo escolhido, à comunidade dos filhos de Deus. Por meio do processo catequético nossos iniciandos e suas famílias são inseridos em nossa comunidade, cresce neles a consciência de serem também Igreja. Quais os espaços e a acolhida que eles encontram em nossa comunidade?

Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar quem está perdido.” (Lucas 19,10)
Ser introdutor, ser catequista é cumprir o mandato de Jesus de ir e anunciar a Boa Nova (cf. Mt 28, 19-20), é contribuir para a realização do Reino de Deus. O objetivo da Catequese é fazer discípulos missionários de Jesus Cristo.



Diretrizes para uma catequese personalizada


  1.   Abrir-se a ação do Espírito Santo e ao dom da humildade, pois é Jesus que nos atrai a si;
  2.  Conhecer os iniciandos e sua família, sua realidade, o que pensam, o que fazem, etc.;
  3.  Anunciar o Evangelho de forma pessoal e particular a partir de uma interação entre fé e vida;
  4.  Revisar o itinerário ou o tipo de catequese que estamos propondo;
  5.  Promover uma catequese iniciática que depois se torne discipulado por meio de uma catequese permanente;
  6. Instituir o ministério dos introdutores;
  7. Perseverar mesmo em meio às dificuldades e incompreensões da comunidade;
  8. Encorajar uma catequese que seja educação da fé comprometida com a realidade;
  9. Articular a catequese de modo que os iniciandos sejam inseridos na comunidade e percebam que pertencem a Igreja;
  10. Conscientizar e pautar as ações pastorais a partir do objetivo da catequese que é fazer discípulos missionários de Jesus Cristo.
Texto de João Melo originalmente publicado na Revista Digital Sou Catequista, edição 6, ano 2, agosto/2014, págs, 54-59.

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