domingo, 23 de abril de 2017

São Jorge é sim santo da Igreja!

  Ele é Santo Católico, mas têm gente que tem reservas em venerá-lo. Bobagem!

Certa vez, alguém perguntou sobre o porquê das paróquias não celebrarem a memória de São Jorge na liturgia do dia 23 de Abril.
Ocorre que, muitas vezes, o dia 23 de abril cai em plena oitava da Páscoa, quando nenhuma festa de santo, memória obrigatória ou facultativa pode ser celebrada. Os dias seguintes a Ressurreição de Jesus estendem a Solenidade da Páscoa do Senhor. Outras vezes, o dia 23 de Abril cai em um dos Domingos da Páscoa, dia em que também não é  celebrada a memória de santos.
Além disso, depois da reforma litúrgica pós-conciliar do Vaticano II, a festa litúrgica de São Jorge e de outros santos tornou-se facultativa, isto é, pode ou não ser celebrada, de acordo com a devoção do povo local. Igrejas e locais que têm São Jorge como patrono, podem celebrá-lo em caráter de festa solene no dia de sua memória.

Outros ficam na dúvida se São Jorge existiu  mesmo...

Os tempos difíceis em que os primeiros cristãos viveram não nos permitem ter fontes seguras de que São Jorge existiu, pois o que temos é apenas um pequeno e comprometido “fio” histórico na vida do Santo que consta, dentre outras obras, nos manuscritos cópticos  - que em português há uma edição pela Sá Editora recolhida pelo historiador Ernest A. Wallis Budge. Esses textos que narram o martírio e milagres de São Jorge da Capadócia nos mostram um jovem fiel a sua fé em Cristo que sofre até a morte. Um jovem mártir, testemunho e herói da fé. Embora o texto seja repleto de simbologias e alegorias, trata de mostrar de forma clara que historicamente o “dragão” com que São Jorge luta é o imperador Diocleciano. A narrativa vale a pena, é cristológica! Jorge revela o discípulo que segue de forma apaixonada o caminho de Jesus Cristo! Nunca teremos certeza se o jovem soldado Jorge que desertou de seu posto militar pela fé em Cristo e por Ele deu a vida, verdadeiramente existiu. É verdade também que jovens que tenham queimado éditos de condenação contra cristãos e por isso e por outras razões tenham sido perseguidos e feitos mártires, não devem ter faltado. Se algum deles era soldado e chamava-se Jorge, não se tem certeza, mas a probabilidade é alta! O testemunho dessa comunidade primitiva perseguida ficou. São Jorge é símbolo delas. Portanto, são mesmo necessárias profundas bases históricas para legitimar a memória de um santo dos primórdios da Igreja?

Na Idade Média a história mudou... surgiu a lenda de Jorge e o dragão. Muita confusão foi feita. É tempo de evangelizar e purificar essa devoção, embora ela não esteja totalmente desprovida de sua riqueza evangélica (cf. DAp 262). Essa ideia de “dragão” está presente como um arquétipo na humanidade em diversas culturas, como nos mostram o livro “How to kill a dragon: aspects of Indo-European poetics” de Calvert Watkins e obras da brasileira Rosana Rios. O dragão faz parte. De fato, o livro bíblico de Daniel não é um livro menos deuterocanônico por ter na narrativa um dragão (Dn 14); nem o Apocalipse menos protocanônico (Ap 12); não é “brincadeira de fé”, é a riqueza da narrativa simbólica que é narrativa de fé!

Ao povo brasileiro essa devoção é tão cara que São Jorge figurava entre os intercessores oficiais da JMJ 2013. Quem já esteve na capital do Rio de Janeiro, sabe do que estou falando. São Jorge é patrono de muitos lugares na Europa e na Ásia.
Alguns pensam que é mais fácil abrir mão de um dado não essencial da tradição popular do que purificá-lo. São Jorge é muito mais do que a figura de um mito que luta contra um dragão fictício. Eis, portanto, o tempo favorável para resgatar a figura de um Jorge, jovem soldado cristão que por amor a sua fé em Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado na história humana, prefere perder a vida do que negar a fé. Num mundo onde cristãos na Síria e em tantos outros lugares ainda sofrem a mesma pena, essa devoção ainda encontra pleno sentido se purificada.

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