A
Catequese de Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal veio para ficar!
E junto com ela, surge um novo ministério: o Introdutor. Em tempos em que buscamos
superar a prática de uma catequese tradicional, centrada nos sacramentos e na
doutrinação porque era acostumada a supor que aqueles que estão sendo
catequizados já tinham sido evangelizados, a Igreja nos impulsiona para a
implementação de um processo catequético semelhante ao itinerário de iniciação
das primeiras comunidades cristãs, o catecumenato. Estamos falando de algo
muito mais sério do que um “modismo eclesial”, trata-se de “abandonar as ultrapassadas
estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé[1]” e renovar os itinerários
catequéticos paroquiais.
Em
nossa época que é mais marcada por uma mudança de época do que época de
mudanças, ou seja, um tempo marcado por rápidas, profundas e constantes alterações
no modo de pensar e encarar a vida, nos valores e contra-valores que servem de
critério para julgar as situações cotidianas da vida... não se pode supor que
aqueles que chegam até nós em busca de catequese sejam evangelizados, conheçam
Jesus ou sequer tenham fé.
A catequese é propriamente o processo
de educação da fé, mas se não há fé, se o iniciando não conhece Jesus, então é
preciso antes despertar a fé dele!
Podemos
dizer que antigamente, de uma maneira ou de outra, a família, que era casa de
iniciação à vida cristã, tratava de desempenhar muito bem essa tarefa de
apresentar Jesus e garantir a primeira adesão do iniciando; Com ela, por muito
tempo esteve a escola e o ensino religioso e a própria sociedade enraizada na
cultura e nos valores cristãos. Hoje não é mais assim.
Situação
no passado:
Família
(Igreja Doméstica[2]
& casa da iniciação à vida cristã) + Escola
(educação cristã & ensino religioso confessional) + Sociedade (enraizada na cultura e nos valores cristãos) = Cristão Evangelizado!
Cristão Evangelizado
+ Catequese Paroquial Tradicional (doutrinação)
= Cristão Catequizado!
Situação
no presente:
Família (falha
na missão de transmissão da fé) + Escola
(educação laica & ensino religioso como estudo do fenômeno religioso) + Sociedade (marcada pelo pluralismo
cultural e religioso e pelo relativismo) = Cristão(?)
não Evangelizado!
Cristão não Evangelizado
+ Catequese Paroquial Tradicional
(doutrinação) = Cristão AINDA não
Evangelizado!
Acaba-se
supondo “que as pessoas tenham recebido o primeiro contato com Jesus Cristo na
sociedade, na cultura e na família, chegando à catequese para a complementação
e a formação doutrinária.[3]”. Isso não é verdade,
esses caminhos já não transmitem a fé com eficácia.
No
tempo das primeiras comunidades cristãs que viviam em meio aos pagãos e eram
minorias, também era assim, não haviam famílias, escolas e sociedades que
iniciavam na fé as pessoas. Com o tempo e a oficialização do cristianismo como
religião do Estado, a coisa começou a mudar...
É
hora de olhar para esse primeiro período da história da Igreja e aprender dele
como hoje podemos melhor levar em frente a nossa prática catequética. O
catecumenato “era o caminho ordinário para conduzir os adultos aos mistérios
divinos, à plena conversão, à profissão de fé e à participação na comunidade;
portanto o modelo daquilo que nós gostaríamos que fosse hoje a catequese[4]”.
Pela
inspiração do Espírito Santo que conduz a Igreja, e com as devidas adaptações
aos tempos atuais, vários esforços, experiências e orientações estão sendo
feitas nesse caminho... o Ritual de
Iniciação Cristã de Adultos (nos números 1 a 40) apresenta um itinerário
dividido em 4 tempos:1) O Pré-catecumentato; 2) O Catecumenato; 3)
A Purificação (ou Iluminação); 4) A Mistagogia;
“A catequese é concebida
dentro do processo de iniciação cristã,
pelo qual a pessoa não é apenas instruída
nas “verdades” da fé, mas passa por um processo, em geral longo, de
aprendizado, assimilação, prática e vivência do evangelho, cujo ponto alto são
os sacramentos da iniciação. Sua
finalidade é fazer discípulos,
seguidores de Jesus, na comunidade eclesial. A metodologia para a iniciação
aos mistérios da fé deverá ser não apenas a instrução doutrinal, mas,
sobretudo o processo catecumenal[5]”.
Há
uma infinidade de materiais, textos, subsídios sobre esse assunto... Porém,
toda boa proposta só é bem sucedida se começa bem. Se não começarmos “com o pé
direito” a proposta de uma catequese catecumenal, ela estará fadada ao
fracasso. Por isso, hoje, quero me deter no primeiro tempo desse processo, o
pré-catecumenato. Sobre ele há muito pouco escrito ou publicado (como se faz,
quem faz, o que é esse primeiro anúncio, etc), principalmente porque nesse
primeiro tempo surge uma figura que para muitos de nós é ainda desconhecida, o
papel do INTRODUTOR.
Afinal, quem é o Introdutor? O que
ele faz? Como faz? Em que consiste o seu ministério?
Vamos por partes...
Primeiro, precisamos olhar para Jesus Mestre, que é a razão de ser de nossa
ação catequética e modelo de catequista e também de Introdutor. Os gestos, a
palavra e a vida de Jesus são inspiradores da nossa ação pastoral. É Dele que
aprendemos a evangelizar e catequizar e é por Ele, para que se torne conhecido
e amado e para que Sua proposta de salvação e de adesão ao Reino de Deus seja
realidade no hoje e plenitude na vida eterna que realizamos qualquer ação
pastoral. Nesse sentido, é que vemos Nele, particularmente no episódio bíblico
do encontro com a Samaritana (Jo 4, 3-30) o paradigma do Introdutor. Esse
trecho é um particular itinerário iniciáticos:
Jesus 3 saiu da Judéia e voltou para
a Galileia. 4 Era preciso que ele passasse pela Samaria. 5 Chegou, pois, a uma
cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da propriedade que Jacó tinha dado a
seu filho José.
Na verdade, Jesus não
precisava passar pela Samaria, não era o único caminho. Ele poderia fazer o
caminho pelo vale do Jordão, como era costume entre os judeus. Os samaritanos,
por razões históricas, misturaram sua fé no único Deus a alguns elementos de
religiões pagãs. Sabendo disso, os judeus os consideravam impuros, por isso não
passavam por ali. Jesus “precisava” passar por lá porque são justamente aqueles
mais afastados que precisam Dele, indica a necessidade da missão entre aquele
povo. Jesus não faz “pastoral da manutenção”: desafia-se ao novo e vai ao
encontro dos afastados. E a missão dá resultados: Só o leproso da Samaria voltou
para agradecer a cura (Lc 17, 11-19). Como Jesus, o Introdutor é aquele que se
disponibiliza a ir ao encontro...
6 Havia ali a fonte de Jacó. Jesus,
cansado da viagem, sentou-se junto à fonte. Era por volta do meio-dia. 7 Veio
uma mulher da Samaria buscar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber!” 8 Os seus
discípulos tinham ido à cidade comprar algo para comer.
O poço de Jacó era símbolo da sabedoria do
Antigo Testamento (Eclo 24,1). O cansaço da viagem de
Jesus revela o árduo caminho que Ele percorre. Nesses percursos de Jesus, ele
se encontra com as pessoas, ele se aproxima. Abeirar-se da fonte e sentar ali é
o meio que Jesus encontra para provocar o encontro com a samaritana. É sempre
Jesus que tem a iniciativa de procurar o homem apesar dos distanciamentos que
provocamos, tornando a busca mais cansativa. Não somos nós que vamos atrás de
Deus, Ele é que deixa-se encontrar.
Meio-dia
é o horário mais quente para se ir buscar água em uma fonte. É o horário da
forte sede e do desejo de água... e uma mulher vêm
justamente nesse horário. Por quê? Qual é essa sede tão grande que ela tem?
Jesus pede a água
material para provocar a reação da mulher, esse tipo de encontro é recorrente
no Antigo Testamento (Gn 24, 11-27; 29, 1-12; Ex 2, 15-17).
9 A samaritana disse a Jesus: “Como
é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” De
fato, os judeus não se relacionam com os samaritanos.
A distância entre os
dois, judeus e samaritanos, é superada. Jesus quebra “o gelo”, o preconceito e
se aproxima, com uma desculpa, um assunto trivial e cotidiano para ir
preparando o terreno para o anúncio... O Introdutor é alguém que escuta e é
capaz de falar sobre o cotidiano da vida, de ser próximo e amigo.
10 Jesus respondeu: “Se conhecesses
o dom de Deus e quem é aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e
ele te daria água viva”. 11 A mulher disse: “Senhor, não tens sequer um balde,
e o poço é fundo; de onde tens essa água viva? 12 Serás maior que nosso pai
Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele mesmo, como também seus filhos e
seus animais?” 13 Jesus respondeu: “Todo o que beber desta água, terá sede de
novo; 14 mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, porque a
água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida
eterna”. 15 A mulher disse então a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que
eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água”.
Foi Jesus quem provocou a
mulher e acaba respondendo que conhecer ao dom de Deus equivale a conhecer Ele
mesmo. A sua primeira revelação é mais enigmática (v. 10): A água viva é
símbolo da salvação oferecida em Jesus. Ela passa a referir-se a Jesus como o
Senhor - Kýrios – reconhecendo que Ele é o enviado do Pai.
A segunda revelação de
Jesus é mais clara (v. 13-14) e a samaritana compreende (v 15): Em Jesus não se
terá mais sede (Pr 18, 4; 20, 5; Eclo 21, 13). De fato, sozinho o ser humano
não chega à compreensão das coisas de Deus. Jesus tenta despertar nela o desejo
por uma água que não há de se esgotar. E a situação se inverteu: Era Jesus quem
no início pedia água material a samaritana e, agora, ela é quem pede a água
viva a Jesus.
16 Ele lhe disse: “Vai chamar teu
marido e volta aqui!” 17 – “Eu não tenho marido”, respondeu a mulher. Ao que
Jesus retrucou: “Disseste bem que não tens marido. 18 De fato, tiveste cinco
maridos, e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste a verdade”.
Quando a mulher pede a
água viva a Jesus, ele responde dizendo a ela para chamar teu marido. Com essa
fala, é como se Jesus perguntasse a ela com quem está casada, isto é, com quem
ou o que ela sente plena satisfação que sacia o seu desejo de água viva – de
alegria e felicidade. Os cinco maridos podem ser referência aos cinco cultos
idolátricos da Samaria (2Rs 17, 29-41). No Antigo Testamento a infidelidade do
povo a Deus é comparada à infidelidade matrimonial (cf. Os 2). Os “muitos
maridos” ou amantes ocupam um lugar no coração da mulher mas não lhe dão a
felicidade. Jesus a leva a descobrir em si mesma um desejo mais profundo que
suas paixões e que ainda está insatisfeita. O seu estado de vida exige
conversão, tem sede de um novo amor.
19 A mulher lhe disse: “Senhor, vejo
que és um profeta! 20 Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas vós
dizeis que em Jerusalém está o lugar em que se deve adorar”. 21 Jesus lhe
respondeu: “Mulher, acredita-me: vem a hora em que nem nesta montanha, nem em
Jerusalém adorareis o Pai. 22 Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o
que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23 Mas vem a hora, e é agora,
em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Estes
são os adoradores que o Pai procura. 24 Deus é Espírito, e os que o adoram
devem adorá-lo em espírito e verdade”.
A samaritana não nega ou
disfarça a sua situação de vida diante de Jesus porque reconhece Nele um
profeta, criou-se confiança e intimidade. Agora que ela reconhece um outro
desejo mais profundo que está vinculado à sua vida de fé, ela, então, aproveita
a ocasião para colocar uma inquietação de seu tempo: trata-se da controvérsia
sobre o lugar autêntico do culto, samaritanos e judeus divergiam sobre o
assunto. As grandes perguntas e as dúvidas da samaritana são conteúdos
trabalhados por Jesus.
A resposta é radical: nem
um, nem o outro, não é isso que importa; Verdadeiros adoradores são os que se
relacionam de forma pessoal e íntima com Deus e vivem de acordo com a sua
vontade e não conforme aspectos puramente pessoais;
25 A mulher disse-lhe: “Eu sei que
virá o Messias (isto é, o Cristo); quando ele vier, nos fará conhecer todas as
coisas”. 26 Jesus lhe disse: “Sou eu, que estou falando contigo”.
Quando a mulher fala da vinda do Messias ela não faz
outra coisa se não reconhecer a sua inquietude religiosa e admitir que espera o
Salvador e dele necessita. Jesus se declara abertamente! Eis aí algo muito
próprio do processo iniciáticos: todos esses rodeios, esse jogo de paciência,
de perguntas, de respostas cada vez mais profundas para chegar a ver quem Ele
é!
27 Nisto chegaram os discípulos e
ficaram admirados ao ver Jesus conversando com uma mulher. Mas ninguém
perguntou: “Que procuras?”, nem: “Por que conversas com ela?”. 28 A mulher
deixou o seu balde e foi à cidade, dizendo às pessoas: 29 “Vinde ver um homem
que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?” 30 Saíram da cidade ao
encontro de Jesus.
Os discípulos se admiram porque aquilo lhes é
estranho. Mas a história não
se encerra ali. Agora ela pode dar testemunho na cidade. Abandonar o balde, é o
abandona do que é efêmero, passageiro para abraçar a fonte de água viva que dá
novo sentido e horizonte à vida.
Alguns aspectos do texto Jesus e a
samaritana para o Introdutor:
1) Escolher o caminho da Samaria: Ir ao encontro
daqueles que se encontram mais afastados da fé em Jesus;
2) Avançar em direção ao poço: Reconhecer com
humildade que é Jesus que nos atrai a si. O Introdutor não é o protagonista, a
iniciativa primeira de nos encontrar é sempre de Jesus;
3) Sentar-se perto do poço: Colocar-se à escuta
para despertar o desejo do conhecimento de Jesus;
4) Dar de beber aquele que está aí: Incentivar a
busca de respostas ao apelos e questões da vida em Jesus no tempo e no espaço
oportuno;
5) Descobrir o dom de Deus: Anunciar corajosamente
o querigma;
6) Descobrir “com quem estamos casados”: Apresentar
em Jesus a misericórdia de Deus que nos convida a conversão e a mudança de
vida;
7) Deixar o balde: Ser testemunha de Jesus Cristo no
mundo.
O episódio bíblico do
encontro entre Jesus e Zaqueu (Lc 10, 1-10) também é paradigmático para pensar
a ação evangelizadora do ministério dos Introdutores, consulte “Elementos para uma catequese personalizada: O encontro entre Jesus eZaqueu”
O
Introdutor está a serviço da Iniciação à Vida Cristã
Etimologicamente, a
palavra “iniciação” vem do latim “in-ire”, ou seja, ir para dentro; donde:
“in-iter”, ou seja, ingresso, “em-caminhamento”. Iniciação é o processo que
coloca alguém na condição de entrar num novo estado de vida, numa nova
comunidade. Iniciação cristã, prtanto, é a maneira ordinária e indispensável de
introdução na vida cristã e de catequese
básica e fundamental[6].
“O Introdutor é alguém mais experiente na vida
de fé, um verdadeiro guia espiritual, mais aprofundado na fé, um amigo que,
partilhando sua própria experiência com o iniciando, vai ajudá-lo a caminhar na
fé e estabelecer uma relação com Deus e com a comunidade[7]”.
Tudo
acontece dentro do primeiro tempo, o pré-catecumenato...
O pré-catecumenato é o nome desse tempo em que o Introdutor faz o
acompanhamento espiritual e pessoal do iniciando que busca a catequese. Esse
período também é chamado de “Primeira Evangelização”, “Evangelização”, “Tempo
Querigmático” ou ainda “Primeiro Anúncio”; O pré-catecumento é o 1º Tempo da Iniciação
à Vida Cristã de estilo catecumenal que está proposta no Ritual da Iniciação Cristã de Adultos
(RICA) que é hoje o meio que a Igreja orienta-se para colocar adultos, jovens e
também crianças em contato com Jesus Cristo e ajudá-los a tornarem-se seus
discípulos missionários. Nele, é feito o anúncio querigmático, ou seja, é nesse
período que o querigma é anunciado por um tempo adequado aos iniciandos para
lhes despertar a fé e prepará-los para a catequese propriamente dita.
O
que é querigma?
Podemos definir querigma de
diversas formas que, entretanto, estão conexas entre si:
a.
A
palavra querigma, do grego Kérygma,
significa proclamar, gritar, anunciar. Querigma
é, portanto, proclamar Jesus Cristo morto e ressuscitado, é anunciar a Boa-Nova
(Evangelho)[8];
b.
Querigma é a proclamação de um evento
histórico-salvífico, mas ao mesmo tempo encarnado na vida dos homens e mulheres
de hoje como salvação oferecida a todos[9];
c.
O
querigma é também anúncio do nome,
ensinamentos, vida, promessas, chegada do Reino e mistério pascal de Jesus de
Nazaré[10];
d.
Querigma
pode, ainda, ser identificado como primeiro anúncio ou primeira
evangelização que ocorre no primeiro tempo do processo de iniciação à vida
cristã, também chamada de “pré-catecumenato”[11];
e.
Contudo,
“o querigma não é somente uma etapa,
mas o fio condutor de um processo que culmina na maturidade do discípulo de
Jesus Cristo”[12].
“Proclamar o querigma é
suscitar a fé em Jesus de Nazaré como Messias e Filho de Deus, de modo que tal
aceitação se atualize em salvação para o crente[13]”. É fazer a experiência de Jesus Cristo como
Messias e Salvador. É Anúncio da Boa-Nova de Jesus morto e ressuscitado. A
proclamação do querigma é “o anúncio central da fé em Cristo, do Reino que
começa com a sua chegada, da salvação que oferece a todo aquele que crê, do
destino de vida eterna e da vivência da fé como irmãos na Igreja, antecipação e
realização do Reino neste mundo[14]”.
“Não devemos querer que as pessoas
conheçam e amem a doutrina sem que antes elas tenham feito uma real experiência
de Cristo em suas vidas[15]”. “A doutrina não deve
ser a primeira preocupação de um anúncio querigmático, mas a apresentação da
pessoa de Jesus Cristo, de uma forma simples e direta[16]”.
À
luz do Estudos da CNBB 97: Iniciação À Vida Cristã: Um Processo de Inspiração
Catecumenal. n. 127-130.
...Trata-se de uma pessoa
que tem uma tarefa específica no início do processo de Iniciação à Vida Cristã
de inspiração catecumenal, isto é, a de acompanhar, durante o tempo do
Pré-catecumenato os interessados em percorrer o caminho da Iniciação. É esta
pessoa que prepara o iniciando para acolher na liberdade o dom da fé, o anúncio
da Boa Nova para assumir o encontro pessoal com o Senhor e as condições para a
conversão e a fidelidade. Com um Introdutor, dedicado e competente, tornar-se
mais fácil o processo de Iniciação à Vida Cristã de inspiração catecumenal. É
ele quem coloca as bases para o segundo tempo, o Catecumenato propriamente
dito, no qual atuam os catequistas.
Então o Introdutor é um
ministério diferente do catequista?
Sim. O Introdutor é aquele
amigo que conversa particularmente com o iniciando, escutará sua história de
vida, seus anseios e projetos. Também vai ajudá-lo a dar os primeiros passos na
vida de comunidade e vai acompanha-lo no crescimento de sua vida de oração.
Fundamentalmente, é alguém próximo que escuta, acompanha e testemunha a
grandeza e a força da fé na vida de uma pessoa. O Catequista é aquele que dará
continuação no processo de iniciação com encontros catequéticos, celebrações,
ensino e educação da fé.
O que faz o Introdutor?
A tarefa principal do Introdutor
é anunciar Jesus Cristo. Cabe-lhe, sobretudo através da vida e de seu
entusiasmo, ajudar o iniciando a encantar-se por Jesus Cristo, pessoa, mensagem
e missão. Pelo exemplo desse Introdutor o iniciando alimenta seu desejo de
viver a experiência do encontro pessoal com o Senhor e se sente estimulado para
inserir-se na comunidade cristã e a comprometer-se na missão. O iniciando sabe
e sente que pode contar com o apoio afetivo e de fé por parte de alguém que,
para ele, é fidedigno. O Introdutor, porém, deve deixar claro em sua missão,
que não está isolado, e tampouco o iniciando, pois toda a comunidade eclesial
está envolvida no processo. Além disso, o Introdutor:
-Suscita a fé e um
primeiro passo para a conversão. Já há uma avaliação das motivações e
disposições do iniciando;
-Tem encontros periódicos
e sistemáticos para partilha da caminhada de fé, dos desafios, dificuldades,
alegrias e descobertas. Participam antecipadamente, junto com os ministros
ordenados e catequistas, da avaliação das disposições do candidato (cf. RICA,
n. 16);
-Acompanha o candidato na
celebração de entrada no catecumenato (cf. RICA, n. 71). Na celebração de
acolhida no catecumenato, quem preside pergunta aos Introdutores e à comunidade
se estão “dispostos a ajuda-los a encontrar e seguir o Cristo (cf. RICA n. 77).
Depois de se comprometerem, fazem eles o sinal da cruz (cf. RICA, n. 83).
Quem pode ser Introdutor?
Todo membro da comunidade
paroquial pode ser chamado a ser Introdutor. Mas, para bem viver este
importante ministério na Igreja, o Introdutor precisa ter percorrido, ele
mesmo, o caminho dos Sacramentos da Iniciação (Batismo, Confirmação e
Eucaristia). E ele necessita, também, cultivar sua vida de fé, participar da
vida da comunidade, alimentar-se com a Palavra de Deus, com a Eucaristia e a
oração pessoal, ser fiel à Igreja e zelar por sua formação continuada. Sua
missão requer dele grande capacidade de ouvir e dialogar, paz interior e
disposição para acompanhar com paciência quem começa um processo que não apenas
apresenta novidades, mas vai crescendo em exigências quanto à uma especial
mudança de vida.
Uma vez criteriosamente
escolhidos pela Coordenação da Iniciação Cristã e submetidos à aprovação do
Conselho Pastoral, os Introdutores serão devidamente preparados. O processo
formativo não é apenas de conteúdo, em estilo acentuadamente acadêmico e
formal, mas segundo a dinâmica da fé e da vivência, que por si mesma criam um
clima propício e alimenta a espiritualidade. Além de uma visão geral da Iniciação
à Vida Cristã, os Introdutores devem conseguir captar bem o pré-catecumenato,
que é um tempo precioso e básico para todo o resto do processo. A parte mais
importante da formação destes ministros se refere à pessoa, mensagem e missão
de Jesus Cristo, para que tenham solidez, convicção e entusiasmo para este
tempo dedicado, sobretudo, à Evangelização. Para um bom desempenho de sua
missão eles precisam de elementos fundamentais de como lidar com as pessoas e
fazer o acompanhamento delas para assessorá-las no caminho da opção de fé e do
encontro pessoal com Jesus Cristo.
Quando é que o Introdutor
entra em cena?
Antes da catequese
começar. Depois da inscrição, cada Introdutor entra em contato com o seu
iniciando e marca a primeira conversa. Na maior parte dos lugares que fizeram a
experiência da instituição do Ministério dos Introdutores, os Introdutores
acompanhavam os iniciandos de forma pessoal, em conversas com horário marcado
na igreja, no salão paroquial ou nas casas do Introdutor ou do iniciando. Tratando-se
de iniciação de crianças e jovens, o pré-catecumenato ganha uma dimensão
familiar, isto é, as conversas e encontros do introdutor acontecem como
“catequese familiar”.
O NÚMERO DE INTRODUTORES
EM UMA COMUNIDADE PAROQUIAL É MAIOR DO QUE O NÚMERO DE CATEQUISTAS
Desse modo, o ideal é que
cada iniciando tenha o seu introdutor e cada introdutor acompanhe um iniciando.
O Introdutor possivelmente será membro ativo de alguma pastoral ou movimento na
comunidade paroquial. Ele deverá ser alguém acolhedor, acessível, capaz de
linguagem simples e compreensiva. Conduzirá os encontros de acompanhamento
espiritual de maneira informal e com simplicidade. Assim, a comunidade
paroquial inteira participa ativamente no processo de iniciação de novos
discípulos missionários de Jesus Cristo.
Quando tempo dura o
pré-catecumenato?
A tarefa do Introdutor
termina quando o iniciando deixa de ser acompanhado de forma personalizada e
passa para o grupo maior dos iniciandos, aos cuidados do catequista. Em geral o
período do pré-catecumenato dura de três a doze meses, dependendo da proposta
de cada comunidade paroquial ou do plano diocesano. Isso, no entanto, não
significa que o Introdutor deve contar os laços com o iniciando e a sua
família.
Como funciona o anúncio
do querigma no pré-catecumenato feito pelo Introdutor?
Existem várias
possibilidades de como propor o período de pré-catecumenato com a atuação do
ministério do Introdutor. As modalidades podem variar, mas a parceria entre
iniciando e Introdutor nos encontros semanais é um dos grandes segredos- se não
o maior – do bom êxito da Iniciação. Outra sugestão é valorizar os textos
bíblicos dos evangelhos da liturgia do Domingo por meio da Leitura Orante (Lectio Divina).
No modelo catecumenal, em
qualquer época do ano, as pessoas que querem viver o processo são recebidas e acompanhadas
por um Introdutor ou Introdutora e vão entrando em contato com a comunidade.
Faz-se um primeiro anúncio – o querigma – (ou o novo anúncio, dependendo do
caso) do mistério de Cristo, no diálogo com a pessoa, sua cultura e experiência
religiosa. Esse é o tempo do despertar ou reaviver (para os que já tiveram
alguma participação) a fé em Jesus Cristo e a conversão, tempo de perceber
melhor a função da Igreja. O iniciando é incentivado a vivenciar a fé pela
oração e pela mudança de relações com os outros e com a vida. Esperam-se
pequenas atitudes que mostrem que isso está acontecendo. Os que vão alcançando
esse estágio são convidados ao catecumenato. Os já batizados são incentivados a
buscar o Sacramento da Reconciliação. O primeiro anúncio, porém, deve ser
precedido pelo testemunho, feito de presença, serviço, respeito, diálogo.
Espera-se que, diante desse anúncio, a pessoa, tocada interiormente pela graça
de Deus, responda com uma atitude global de fé, uma disposição de conversão e
uma aproximação maior da comunidade eclesial. Dessa primeira adesão a Jesus e
ao seu Evangelho depende a passagem para o tempo seguinte.
--
É preciso abandonar as estruturas que já não favorecem a iniciação
cristã de inspiração catecumenal e instituir o Ministério dos Introdutores!
Dicas para aprofundar o
assunto:
CNBB.
Iniciação À Vida Cristã: Um Processo
de Inspiração Catecumenal. Brasília: Edições CNBB, 2009 (Coleção Estudos da
CNBB n. 97).
CNBB.
Itinerário Catequético: Iniciação à
vida cristã - Um Processo de Inspiração Catecumenal. Brasília: Edições CNBB,
2014.
[1]
CELAM. Documento de Aparecida n.365.
[2] Lumen
Gentium n. 11; João Paulo II, Familiaris Consortio, n. 21.
[3] PORTELLA,
Joel. Catequese num mundo em transformação: Desafios do Contexto
sócio-cultural, religioso, eclesial para a iniciação cristã. In: Comissão
Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética. 3ª Semana Brasileira de Catequese – Iniciação à Vida Cristã.
Brasília: Edições CNBB, 2010, p. 53.
[4] LIMA,
Luiz Alves de. A Iniciação Cristã ontem e hoje – história e documental atual.
In: Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética. 3ª Semana Brasileira de Catequese –
Iniciação à Vida Cristã. Brasília: Edições CNBB, 2010, p. 64.
[5] Ib.
p. 64; cf. CNBB. Diretório Nacional de
Catequese (DNC). São Paulo: Paulinas, 2007, n. 35-28, 45-50.
[6]
Cf. CELAM. Documento de Aparecida
(DAp). São Paulo: Paulus; Paulinas; Brasília: Edições CNBB, 2007, n. 294.
[7] LELO,
Antonio F. Introdução à edição brasileira. in: GEVAERT, Joseph. O Primeiro Anúncio: Finalidades,
destinatários, conteúdos, modalidade de presença. São Paulo: Paulinas, 2009, p.
18.
[8] Cf. DIOCESE DE OSASCO. Querigma e Mistagogia.
Caminhos à Iniciação Cristã. São Paulo: Paulus, 2011. p. 46 .
[9] Cf. CNBB. Anúncio Querigmático e Evangelização
Fundamental. Brasília: Edições CNBB, 2009. n. 17-20. (Subsídios
Doutrinais 4)
[10] Cf. Ibid.
n. 18, 21.
[11] Cf. DGC, n. 98.
[12] DAp, n. 278a.
[13]
Ib. p. 10.
[14] LELO,
Antonio F. Introdução à edição brasileira. in: GEVAERT, Joseph. O Primeiro Anúncio: Finalidades,
destinatários, conteúdos, modalidade de presença. São Paulo: Paulinas,
2009, p. 5.
[15] DIOCESE
DE OSASCO. Querigma e Mistagogia. Caminhos à Iniciação Cristã. São
Paulo: Paulus, 2011, p. 46.