quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A CATEQUESE DA CARIDADE: Como educar para o compromisso do amor ao próximo

Na matéria desta edição, vamos mostrar porque caridade e catequese são inseparáveis. A Catequese é educação da fé comprometida com a realidade. Isso significa que ela é também educação da fé para o serviço, para o amor ao próximo e para a caridade. Para isso, queremos olhar para dois grandes exemplos inspiradores: São Francisco de Assis e Madre Teresa de Calcutá. Além disso, também partilhamos algumas orientações e sugestões de como desenvolver a dimensão caritativa da catequese. A fé cresce e amadurece quando se tornar exercício de caridade.

COMPROMISSO A PARTIR DO NOVO MANDAMENTO DO AMOR (Jo 13, 34-35)

Muitas paróquias enfeitam os tapetes da procissão eucarística de Corpus Christi com roupas, cobertores e até mesmo alimentos. Em uma dessas paróquias, uma criança perguntou para a catequista porque estavam usando roupas no tapete daquele ano. A resposta estava na ponta da língua: “Nós vamos distribuir depois para os pobres, pelo serviço da caridade!”. Mesmo que não saiba o significado da palavra caridade, certamente aquela criança entendeu que aquelas roupas seriam dadas para quem mais precisa. A experiência já lhe proporcionou uma noção do que é caridade.
No linguajar popular, caridade é o mesmo que “fazer algo de bom para alguém”, dar esmolas ou assistência. É verdade que essas coisas têm a ver com a prática da caridade, mas não definem tudo o que essa palavra significa, ela é mais do que isso. Caridade é o mesmo que amor ágape, isto é, o amor que se doa. A caridade está radicada em um ponto central da fé cristã, o Novo Mandamento de Jesus “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 13, 34-35; 15, 12-17). Então, é certo dizer que caridade e amor são sinônimos? Mais ou menos... A palavra amor é outra que anda desgastada e mal compreendida. Bento XVI falou sobre essa dificuldade logo no início da sua primeira carta encíclica “Deus caritas est – Deus é amor”, vale a pena conferir: http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html
O cardeal Robert Sarah, presidente do Conselho Pontifício Cor Unum, órgão da Cúria Romana responsável pelas obras de caridade, assim explica a diferença: "Amor não é o mesmo que caridade. O termo 'amor' já existia antes de Cristo, mas Ele nos ensinou o ápice do amor, que é precisamente a caridade, ou seja, entregar-se pelo outro". http://www.aleteia.org/pt/estilo-de-vida/artigo/qual-e-a-diferenca-entre-amor-e-caridade-6382303014027264
Existem outros tipos de amor, como o amor entre um homem e uma mulher, ou seja, o amor entre os amantes (eros) e o amor entre os amigos (philia). O amor gratuito, desinteressado, o “amor sem olhar a quem”, é o amor ágape, o amor-caridade. Dessa forma, muitas vezes, as palavras amor e caridade são entendidas como sinônimos, veja no YouCat e no Catecismo da Igreja Católica:

O amor é a força com que nos entregamos a Deus, que nos amou primeiro, para nos unirmos a Ele e assim acolhermos os outros como a nós mesmos, por amor a Deus, sem reservas e com o coração. (Youcat, n. 309)
A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Jesus fez da caridade o novo mandamento (cf. Jo 13,34). Amando os seus “até o fim” (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. (Catecismo n. 1822-1823).  


Caridade é...                                      ...amar gratuitamente e sem distinção ao próximo pelo amor a Deus

A prática da caridade é...                 ... a expressão do amor cristão ao próximo

Exemplos: Colocar-se a serviço, dar esmolas ou assistência, lutar contra as injustiças sociais, etc.

A CATEQUESE POSSUI UMA DIMENSÃO CARITATIVA

Há uma relação indispensável entre a educação da fé e o testemunho da caridade. A separação entre catequese e a prática da caridade resulta em uma catequese fria e distante da vida. “A catequese assume especial valor educativo quando é ligada ao exercício da caridade, que oferece um fomento válido para que se acolha e se traduza em prática a visão cristã das realidades sociais, econômicas, políticas e culturais” (proposta 4 do Sínodo de 1977 sobre a Catequese).
Dessa forma, torna-se importante uma saudável integração entre movimentos e pastorais “sociais” e as outras pastorais da comunidade. O testemunho da caridade não é tarefa de alguns membros de pastorais específicas, mas é tarefa de toda a comunidade eclesial. Os que fazem esses trabalhos precisam encontrar apoio em toda a comunidade. Os catequistas estabelecem pontes entre essas pastorais para engajar e envolver os iniciandos na prática caritativa que a comunidade realiza. Essas experiências não são somente catequéticas, como também indispensáveis para a iniciação à vida cristã. Com efeito, “a Igreja não aceita circunscrever a própria missão exclusivamente ao campo religioso, desinteressando-se dos problemas temporais do homem” (Paulo VI, Evangelii Nuntiandi n. 34). Mais. A autenticidade da adesão à mensagem de Jesus e a centralidade do mandamento do amor ao próximo se verifica na prática da caridade.

 “A caridade é uma forma muito preciosa de fazer Deus acontecer na sociedade” Padre Fábio de Melo – Uma reflexão muito adulta sobre Mt 25, 31-45:  https://www.youtube.com/watch?v=flnZv4Gxw6A “A importância da Caridade, programa Direção Espiritual”. 

Na verdade, não basta falar e ensinar a doutrina, é preciso vivê-la, ou seja, iniciar à prática dos valores aprendidos! Diz Bento XVI: Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama. Os Santos — pensemos, por exemplo, na Beata Teresa de Calcutá — hauriram a sua capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, do seu encontro com o Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro ganhou o seu realismo e profundidade precisamente no serviço deles aos outros. Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, constituem um único mandamento(Deus caritas est Deus é amor n.18).
 “Não adianta ir à Igreja e fazer tudo errado!”, dirá o trecho de uma música de Fernando Mendes. Ninguém é obrigado a ter fé ou aderir à proposta de Jesus Cristo. Mas uma vez feito isso, a cristã e o cristão precisam revisar e adequar suas vidas, sempre mais, aos princípios e ao estilo de vida de Jesus. As palavras de ordem são coerência e testemunho de vida, ainda mais indispensáveis se propõem-se a iniciar outros no caminho de Jesus, como catequistas.
De fato, o catequista é sensível aos problemas sociais e políticos. Quando algo de comoção acontece no bairro, na cidade, no país ou mesmo em nível mundial, ele interrompe o cronograma para tratar do assunto à luz da fé. Veja no quadro comparativo a seguir como é, e como não deve ser o estilo de vida do catequista:

Sua vida pessoal não dá testemunho da fé que professa
Evangeliza pelas palavras, mas também pelo testemunho
Desconhece a Doutrina Social da Igreja
Conhece minimamente a Doutrina Social da Igreja
Desinteresse pelos pobres e excluídos
Abraça junto com a Igreja a opção preferencial pelos pobres
Esquecimento da dimensão social da fé (Novo Mandamento de Jesus - Jo 13, 34-35)
Empenho em superar a dicotomia entre fé e vida (Centralidade do Mandamento do Amor ao próximo – Jo 13, 34-35)
Adesão a experiências espiritualistas interessadas na aquisição de bens e “graças” pessoais, mas não pensa nos outros
Compromisso com os valores do Reino – justiça amor e paz – para todos, a partir da experiência amorosa de Deus (cf. 1Jo 4, 8)

É bem verdade que a Igreja existe para evangelizar, no entanto, o cristão não é um alienado da realidade em que está inserido. O amor a Deus não é verdadeiro se não é traduzido no amor aos irmãos. No entanto, o outro extremo também é perigoso: transformar a catequese somente em um grupo ativista de causas sociais. Uma atitude equilibrada é a melhor maneira de conduzir as coisas. A catequese é sobretudo educação da fé, mas isso não deve excluir a vivência e a promoção da prática da caridade.
“De tudo isto resulta a importância na catequese, das exigências morais e pessoais em correspondência com o Evangelho, e das atitudes cristãs frente à vida e frente ao mundo, quer sejam heroicas quer sejam muito simples (...). Daqui também o cuidado que se há de ter na catequese em não omitir, mas sim esclarecer como convém, no constante esforço de educação da fé, realidades como a ação do homem para sua libertação integral, o empenho na busca de uma sociedade mais solidária e mais fraternal e as lutas pela justiça e pela construção da paz” (São João Paulo II, Catechesi Tradendae n. 29)

FRANCISCO DE ASSIS E TERESA DE CALCUTÁ: MODELOS DE SERVIÇO E AMOR AO PRÓXIMO

Mais de 700 anos separam as vidas de São Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá. O primeiro viveu entre os pobres e indigentes na Itália medieval. Madre Teresa atuou a maior parte de sua vida nas periferias de Calcutá, cidade da Índia. Ambos, Teresa e Francisco, têm algo de muito especial em comum: demostraram de forma sublime seu amor a Deus amando o próximo, especialmente os mais pobres. Eles entenderam que a caridade não é simples assistencialismo. Não é o exercício de somente responder as necessidades reais e imediatas das pessoas, sem pensar nas causas estruturais e sociais das situações de indigência.
Conta-se que, certa vez, Francisco estava rezando em uma pequena capela dedicada a São Damião, semidestruída pelo abandono. Estava ajoelhado em oração aos pés de um crucifixo, em profunda meditação, quando uma voz, saída do crucifixo, lhe falou: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”. Francisco, então, foi e reformou toda a capelinha. Mas, aos poucos, compreendeu que a reforma a que era chamado, era algo muito maior...tratava-se de reconduzir as estruturas da Igreja aos valores evangélicos, corrigindo as incoerências de muitos clérigos e fiéis de seu tempo que eram indiferentes ao sofrimento dos mais pobres e doentes.

A História de São Francisco de Assis em desenho: https://www.youtube.com/watch?v=iFtsv7uX2ks

Desenho animado Católico: Francisco: o Cavaleiro de Assis (São Francisco de Assis):

https://www.youtube.com/watch?v=Oyl_K4wUa4w

 

Francisco decidiu tornar-se um pregador itinerante, percorrendo as localidades vizinhas e pregando, em palavras simples, o Evangelho de Cristo. Não demorou muito e juntaram-se a ele vários seguidores, tocados pelo seu jeito simples, desapegado, pobre e livre de viver. Acredita-se que ele não tinha a mínima intenção de fundar uma comunidade. Mas, assim como nos Atos dos Apóstolos, os seguidores de Francisco tinham tudo em comum (cf. At 2, 43-47) e a comunidade cresceu ao ponto de tornar-se uma ordem religiosa que até hoje inspira novos carismas à Igreja. Pensando nisso, qual mensagem o papa Bergoglio quis nos transmitir quando escolheu para si o nome de Francisco?  

Para saber mais sobre a vida de São Francisco acesse: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=1089

A caridade não se restringe somente para os que fazem parte da Igreja, é serviço para o mundo, para todas as pessoas, “sem discriminações raciais, sociais ou religiosas” (Ad gentes n. 12). Madre Teresa entendia bem disso. Nas periferias de Calcutá, ela atendia hindus, mulçumanos, cristãos...sem distinção!
Um dia, um jornalista estrangeiro visitou Madre Teresa em Calcutá e lhe pediu permissão para acompanha-la por uma jornada em sua andança e ação pela cidade. Madre Teresa aceitou e juntos começaram a percorrer as ruas. Num dado momento, encontraram um homem esfarrapado e sujo, deitado no meio de um monte de lixo. Madre Teresa e o jornalista se aproximaram. O pobre jogado ali parecia muito doente, de todo desnutrido, pele e osso, misturado aos detritos. Madre Teresa tomou-o nos braços e conseguiu erguê-lo, de tão magro que estava o pobre. O jornalista, perplexo, não sabia o que fazer. Madre Teresa simplesmente começou a caminhar, carregando o homem. Chegando a casa, deitou-o numa cama limpa. O jornalista, que registrou o fato, disse, depois, que o homem olhava com imensa gratidão para a Madre. Talvez ele nunca tivesse tido uma cama para se deitar. Sem dizer uma palavra, o pobre deu um grande sorriso para Madre Teresa e morreu ali. Atordoado com a rapidez com que tudo ocorrera e diante da ação da Madre, o jornalista disse-lhe: “Madre, por nenhum ouro deste mundo eu teria feito o que a senhora fez”. E ela respondeu, rápida: “E eu também não!”. Não há dinheiro no mundo que pague o amor-caridade, movido pela certeza de fazer o bem.




Para saber mais sobre a vida da Beata Teresa de Calcutá: http://www.motherteresa.org/portu/layout.html

            Mesmo diante da grande correria dos afazeres do dia-a-dia, os momentos de oração diários não ficavam em segundo plano. Madre Teresa nunca descuidou de sua vida de oração e alertava sua comunidade para fazer o mesmo. Com efeito, “quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a ação. A piedade não afrouxa a luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo. A Beata Teresa de Calcutá é um exemplo evidentíssimo do fato que o tempo dedicado a Deus na oração não só não lesa a eficácia nem a operosidade do amor ao próximo, mas é realmente a sua fonte inexaurível. Na sua carta para a Quaresma de 1996, esta Beata escrevia aos seus colaboradores leigos: « Nós precisamos desta união íntima com Deus na nossa vida quotidiana. E como poderemos obtê-la? Através da oração »” (Bento XVI, Deus caritas est Deus é amor n. 36).

Caridade entre os mais pobres dos pobres... esse é o carisma de Teresa de Calcutá e de sua congregação. Estamos falando de algo que, sobretudo aqui na América Latina, chamamos de opção ou amor preferencial pelos pobres. Quem explica é São João Paulo II: “Trata-se de uma opção, ou de uma forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja. (...) Mais ainda: hoje, dada a dimensão mundial que a questão social assumiu, este amor preferencial, com as decisões que ele nos inspira, não pode deixar de abranger as imensas multidões de famintos, de mendigos, sem-teto, sem assistência médica e, sobretudo, sem esperança de um futuro melhor: não se pode deixar de ter em conta a existência destas realidades. Ignorá-las significaria tornar-nos como o «rico epulão», que fingia não conhecer o pobre Lázaro, que jazia ao seu portão (Lc 16, 19-31)” (Sollicitudo Rei Socialis, n. 42).

É fato que acordamos de manhã, olhamos para o espelho e podemos dizer a nós mesmos que somos pessoas boas porque fazemos o bem. Talvez não cometamos grandes erros ou pecados graves, vamos à Igreja e até somos catequistas na comunidade. Gente boa. Mas isso tudo afirmamos a partir do nosso próprio referencial, isto é, olhamos para nós mesmos. No entanto, quando nos deparamos com figuras como São Francisco de Assis e Madre Teresa de Calcutá, a coisa muda. Percebemos que a proposta de seguimento de Jesus é muito mais comprometedora e exigente. Daí, ao invés de nos perguntarmos “Eu sou bom? ”, podemos substituir a pergunta por “Faço todo o bem que poderia fazer? ” E para quem é catequista ainda pode-se acrescentar: “Inspiro meus iniciandos à prática do bem, da caridade, por amor ao próximo? ”. É impossível conhecer o Evangelho e o estilo de vida de Teresa de Calcutá e Francisco de Assis e não perceber que há algo de errado e de muito grave com a sociedade de hoje e mesmo com algumas de nossas práticas catequéticas. Urge uma conversão, a começar por nós mesmos, que gere um autêntico compromisso na transformação em nível familiar, social, cultural, político, internacional, ecológico, etc. “Figuras de Santos como Francisco de Assis, Inácio de Loyola, João de Deus, Camilo de Léllis, Vicente de Paulo, Luísa de Marillac, José B. Cottolengo, João Bosco, Luís Orione, Teresa de Calcutá — para citar apenas alguns nomes — permanecem modelos insignes de caridade social para todos os homens de boa vontade. Os Santos são os verdadeiros portadores de luz dentro da história, porque são homens e mulheres de fé, esperança e caridade” (Bento XVI, Deus caritas est Deus é amor n. 40)

A CATEQUESE DA CARIDADE

A única forma de aprendermos sobre a caridade é praticando atos de bondade para com as pessoas a nossa volta. Portanto, a única forma de ensinar a prática da caridade a nossos iniciandos é lhes dar a oportunidade de experimentar a alegria que decorre do serviço ao próximo. Para educar a fé para a prática da caridade é preciso:
1)      Informar e envolver: O Catequista será intermediário no processo de educação à prática da caridade. Ele traz informações e sugestões de meios, lugares e métodos de iniciativas caritativas, procurando engajar os iniciandos nessas propostas;
2)      Dar motivações: O seu testemunho e o testemunho de outros membros da comunidade, além da fundamental inspiração evangélica do seguimento de Jesus, serão durante os encontros de catequese aspectos motivacionais para a prática da caridade.  Nesse vídeo, a atitude insistente e determinada de um garoto foi capaz de motivar todos a lhe ajudarem: O Menino e a árvore: https://www.youtube.com/watch?v=bNIoNXFNiFY ;
3)      Desenvolver o senso crítico: Trata-se de um olhar crítico, capaz de entrever as estruturas que perpetuam as injustiças sociais. A seguinte metáfora ilustra essa ideia: Por vezes, a caridade da Igreja era exercida somente pela doação de alimentos, remédios, roupas, etc. Tudo isso é como “dar o peixe”. Com o tempo, percebeu-se a necessidade de também “ensinar a pescar”. Daí a Igreja promoveu cursos, oportunidades de empregos, criou ONGs, apoiou manifestações e grupos de iniciativas populares, etc. No entanto, uma visão mais crítica da desigualdade levou a Igreja a concluir que o problema estava no “próprio rio” que está poluído e não é aberto a todos. Por isso, faz-se necessário o empenho de todos os cristãos na promoção dos valores de justiça e igualdade para todos. (Inspirado em Dom Cláudio Hummes Diálogo com a cidade, pág. 47);
4)      Orientar a ação: Seja uma proposta de um gesto simples ou seja um projeto comunitário, o catequista e outros membros da comunidade orientam, participam e acompanham a ação caridade desempenhada pelos iniciandos;
5)      Promover vocações específicas no âmbito do serviço aos irmãos: Quando o catequista e a comunidade são testemunhas alegres de doação e amor ao próximo pela prática da caridade, essa alegria é capaz de contagiar os iniciandos que, pouco a pouco, manifestam o seu desejo de também protagonizar as iniciativas caritativas da comunidade. Outros, ainda, serão despertados para tarefas específicas de serviço aos mais pobres, dentro e fora da Igreja.  

A Catequese e também as outras pastorais da comunidade precisam descobrir e dar atenção aos “novos pobres”, os marginalizados dos dias de hoje. Muitos deles são imigrantes, nômades, presos, doentes crônicos ou em fase terminal, dependentes químicos... Para isso, a catequese exige pessoas corajosos e capazes de revisar a sua própria vida e a prática pessoal da caridade; Revisar os conteúdos catequéticos para que estejam em sintonia com a realidade; E revisar os métodos catequéticos, de modo a proporcionar experiências de educação à caridade.

A Caridade dentro da Igreja...
A Cáritas Brasileira http://caritas.org.br/ é uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos e excluídas em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural.
A caridade para além da Igreja...
A ONG Make-A-Wish® Brasil http://www.makeawish.org.br/ tem como missão a realização de sonhos de crianças com doenças que colocam em risco as suas vidas, enriquecendo a experiência humana com esperança, força e alegria.

Educando para a caridade no encontro de catequese...

Como vimos, a Catequese enquanto educação da fé, também possui uma dimensão caritativa, isto é, ela também tem como tarefa iniciar à prática da caridade e do amor ao próximo. De forma concreta, isso significa propor momentos para que crianças, jovens e adultos tenham a oportunidade de se colocar a serviço dos outros de forma gratuita.
Uma catequista me contou que um dos adolescentes iniciandos da sua turma de Catequese de Confirmação não levava os encontros a sério. “Ele parece impermeável”, dizia ela. Considerava tudo aquilo um blábláblá furado da catequista e participava dos encontros para não ter que ouvir sua avó em casa reclamando depois. Tudo mudou quando a turma foi visitar um asilo, levando presentes que compraram com a arrecadação que fizeram durante os encontros e com a ajuda de familiares. Aquele jovem emocionou-se profundamente. A alegria dos idosos ao vê-los, o carinho da acolhida calorosa, os abraços afetuosos e a felicidade porque alguém lembrara deles e até trouxera presentes, foi uma experiência que o marcou para sempre. Dalí para frente, tudo que a catequista dizia nos encontros “passou a fazer sentido”. Não era só palavreado, era algo possível de ser vivido e era bom. Confira algumas sugestões de como desenvolver a dimensão da caridade no encontro de catequese:
·         Crianças pequenas tem dificuldade em dividir ou partilhar as coisas. Ajude-as a compreender que quando ela compartilha suas coisas, faz outras pessoas felizes. Diga que Deus gosta quando ela faz o bem e expresse sua satisfação com sorrisos e elogios toda vez que ela compartilhar algo com alguém;
·         Organize uma campanha para arrecadar agasalhos ou alimentos que serão doados para pessoas assistidas pela comunidade ou para uma instituição de caridade – ou vocês podem aderir a alguma campanha já existente. Se possível, envolva os iniciandos em todas as etapas da campanha: divulgação com cartazes, arrecadação, separação das roupas ou alimentos doados e a entrega do material arrecadado;
·         Organize uma visita a um asilo, orfanato, ONG ou instituição de caridade. Converse antes com a administração da instituição para acertar todos os detalhes. Se possível, levem um bolo ou lanchinho e envolva os iniciandos em todas as etapas da preparação ou ainda presentes arrecadados por eles;
·         Aproveite datas comemorativas e confeccione cartões com belas mensagens – que podem ser espontâneas! -  e incentive os iniciandos a dar os cartões para as pessoas da família, amigos, vizinhos ou mesmo desconhecidos;
·         Promova com os jovens manifestações de afeto e amor gratuito com iniciativas criativas, como o “Free hugs - Abraços gratuitoshttps://www.youtube.com/watch?v=jNFwzRgAkZE ;
·         Engaje os iniciandos em atividades de pastorais e movimentos sociais da comunidade ou do bairro, como os vicentinos. Em algumas paróquias a catequese de crisma é feita com um encontro de catequese “tradicional” do grupo a cada 15 dias, intercalado com a interação dos jovens em alguma dessas outras pastorais e movimentos sociais;
·         No Brasil as experiências da Campanha da Fraternidade (CF) na Quaresma são emblemáticas e pioneiras na prática caritativa à luz do Evangelho. Informe-se e procure desenvolver o tema e atingir os gestos concretos sugeridos pelos materiais produzidos para cada campanha – há inclusive materiais específicos para a catequese. Visite o site das Campanhas da CNBB http://campanhas.cnbb.org.br/ ;

Para nunca esquecer...
“Pregue o Evangelho. Se necessário, use as palavras”. São Francisco de Assis 

“Onde houver tristeza, que eu leve a alegria”. São Francisco de Assis 

“A todos os que sofrem e estão sós, dê sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporcione apenas seus cuidados, mas também seu coração” Madre Teresa de Calcutá

Texto de João Melo originalmente publicado em Revista Digital Sou Catequista, edição 12, ano 3, outubro/2015, págs. 44-61. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Catequese com Idosos: Evangelizando a terceira idade num Brasil que caminha para se tornar um país de população majoritariamente idosa

A quem interessa o saber sobre os idosos? Aos próprios idosos? Àqueles que cuidam de idosos? Não. A resposta correta é que interessa para toda a sociedade, pois o respeito e cuidados que lhes desprenderemos são os mesmos que tão logo desejaremos para nós mesmos.  Assim, nosso olhar deve atentar-se à importância de catequistas e educadores desenvolverem em nossos jovens, crianças e adultos o respeito e a estima pelos idosos; estender-se aos nossos agentes de pastoral que em diversos momentos lidam com idosos em nossas paróquias; e voltar-se, ainda, a todos esses importantes colaboradores que muitas vezes são nossos idosos, para que, utilizando-se de suas experiências e necessidades, obtenhamos uma abordagem para a educação dos diferentes grupos, das diversas idades, e por meio da revisão de nossas atitudes possamos empreender uma catequese com e para aqueles em que o tempo já deixou suas marcas: uma catequese com idosos.

Desafios do idoso

Dona Maria é assistida pelos vicentinos na distante periferia da zona leste de São Paulo. Aposentada, aos 65 anos, ela mora sozinha em uma casa escura, com um quintal grande nos fundos. Dona Maria passa seus dias entretida com os afazeres da casa. Quase que diariamente, ela prepara o almoço para o seu irmão mais novo, que passa por lá todos os dias para ver se está tudo bem. O restante do tempo, dona Maria passa no quintal, em meio a plantas e verduras. Não há hora do dia em que se chega à casa de dona Maria e não se é bem recebido com um forte abraço, seguido de uma risada de quem sabe apreciar o tempo e a vida. Para ela, morar sozinha não é sinônimo de solidão. Dona Maria é um exemplo entre tantas e tantos idosos no Brasil, número que não para de aumentar...
Essa grande multidão de pessoas idosas enfrenta, hoje, desafios muito próprios da fase idosa da vida. Confira os mais comuns:

A solidão: a viuvez, a perda ou a distância dos amigos e conhecidos de quando se era mais novo e o abandono da família podem causar solidão. Pessoas idosas gostam de estar perto das pessoas de que gostam, da família. Mas, elas também gostam de ser independentes. A família deve ser o primeiro espaço de catequese com idosos, porque nela o anúncio da fé pode dar-se em um clima de acolhimento e de amor natural e de intimidade (cf. DGC n. 186). 

As doenças: por vezes, o idoso sofre com doenças e enfermidades. O Diretório Nacional de Catequese aconselha que seja feita nessa fase uma catequese de preparação para o Sacramento da Unção dos Enfermos (cf. DNC 185). São João Paulo II certa vez afirmou que “quando este corpo está gravemente doente (...) e o homem se sente como que incapaz de viver e agir, é então que se põem mais em evidência a sua maturidade interior e grandeza espiritual; e estas constituem uma lição comovedora para as pessoas sãs. Esta maturidade interior e grandeza espiritual no sofrimento são fruto , certamente, de uma particular conversão e cooperação com a graça do Redentor crucificado” (Salvifici Doloris, 26).

Mau humor: as frustrações e decepções podem tornar qualquer um, inclusive da pessoa idosa, alguém “mal humorado”. É preciso ter motivos de alegria para quebrar o ciclo da “rabugice”. Ora, o anúncio do Evangelho produz a Alegria do Evangelho! A catequese com idosos não pode ser mera doutrinação, precisa falar à vida, por isso, é preciso que a mensagem do evangelho seja apresenta em conexão com a vida dos idosos.

Medo da morte: o medo da morte está ligado à maneira como o idoso viveu as outras fases da sua vida e a sua maturidade espiritual. Com efeito, a certeza cristã de que “no entardecer da vida, seremos julgados pelo Amor” (São João da Cruz), deve trazer tranquilidade e esperança também ao idoso. A morte não deveria ser encarada como o “fim da linha”, mas como a “porta” para outra fase da vida, a fase eterna. São Francisco de Assis chegou a dizer: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum vivente pode escapar”. Fomos criados para a comunhão plena com Deus na eternidade. É verdade que não é fácil encarar a realidade da morte, mas podemos, aos poucos, superar o medo que ela nos traz. Uma catequese da esperança os levará a viver bem essa fase da vida, a dar testemunho às novas gerações e também irá prepará-los para o encontro definitivo com Deus (cf. DNC 186). O maior gesto de maturidade espiritual do idoso é aceitar o sentido cristão da vida eterna com serenidade. 

As limitações físicas: o Papa Francisco contou a seguinte história no dia 4 de março deste ano na Praça São Pedro: “Quando eu era criança, um dia a minha avó narrou-me a história de um avô que se sujava quando comia, porque não conseguia levar bem a colher de sopa à própria boca. E o filho, ou seja, o pai de família, decidiu tirá-lo da mesa comum e mandou fazer-lhe uma mesinha na cozinha, onde não se via, para ali comer sozinho. Assim, não faria má figura quando os amigos viessem almoçar ou jantar. Poucos dias depois, chegou a casa e encontrou o seu filho mais pequenino a brincar com um pedaço de madeira, um martelo e alguns pregos; construía algo, e o pai disse-lhe: ‘Mas o que fazes?’. ‘Faço uma mesa, pai.’ ‘Uma mesa, por quê?’ ‘Para que esteja pronta quando tu envelheceres, assim poderás comer aí!’” As crianças têm mais consciência que nós!

O sentimento de ser um fardo – inutilidade: se o Diretório Nacional de Catequese (capítulo 6) afirma que os que são catequizados não são meros destinatários da catequese, mas verdadeiros interlocutores que participam do processo, principalmente a catequese com idosos terá eles como interlocutores dotados de profunda sabedoria e experiência de vida e de fé. Vista assim, a catequese com idosos é uma grande riqueza. Aqui, vale também uma atenção pastoral às famílias dos idosos, de modo a suscitar nelas um natural sentimento de gratidão e de amor gratuito diante do desafio de cuidar dos idosos que fazem parte da família. É função da catequese descobrir entre os idosos os talentos e possibilidades que eles possuem e que podem enriquecer a comunidade: um trabalho de ação conjunta com outras pastorais e movimentos (cf. DNC 185).

A perda da liberdade pessoal: diz Jesus no Evangelho: “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo!” ( Jo 16,33). Quando o idoso depende de familiares, parentes ou outras pessoas para realizar coisas que antes ele fazia sozinho, ele sente sua liberdade pessoal limitada. Nesses casos, é preciso favorecer o diálogo entre as diferentes idades na família do idoso e na comunidade para também assegurar aos idosos o respeito a sua dignidade e as suas necessidades (cf. DNC 186). O idoso é dom de Deus para a vida cristã e para a comunidade porque é de grande experiência de vida. Em alguns casos, é importante apresentar ao idoso outras possibilidades de atividades que ele possa exercer de forma independente. Ele é chamado à vocação da vida de oração: poder dar graças ao Senhor pelos benefícios recebidos, e preencher o vazio da ingratidão que o circunda; poder interceder pelas expectativas das novas gerações e conferir dignidade à memória e aos sacrifícios das passadas. Enfim, a oração purifica incessantemente o coração . O louvor e a súplica a Deus evitam o endurecimento do coração no ressentimento e no egoísmo. 

O idoso hoje
O Brasil caminha para se tornar um país de população majoritariamente idosa. Isso é tão verdade que, segundo dados do IBGE dos anos de 2012 e 2013 divulgados por portais de notícias na internet (Aqui e aqui), a população brasileira, estimada em 201,5 milhões de pessoas, está vendo diminuir o número de crianças e aumentar o de idosos.

Diminuem os filhos, aumentam os idosos...

O número de pessoas acima de 60 anos continua crescendo: de 12,6% da população, em 2012, passou para 13% no ano de 2013. Já são mais de 26,1 milhões de idosos no país. O grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com até 29 anos. A região com mais idosos ainda é a Sul, onde eles chegaram a 14,4% do total. O Norte tem menos, 8,8% de idosos.

Os avanços na área de saúde e da tecnologia, não são acompanhados pela integração da população idosa à vida social ativa. “A sociedade não se ‘ampliou’ à vida!”, foi o que disse o Papa Francisco em uma catequese sobre os idosos.

O número de idosos multiplicou-se, mas a sociedade não se organizou para lhes deixar espaço, mesmo dentro da Igreja, muitas vezes isso pode ser percebido. De fato, o aumento no número de idosos representa uma nova tarefa pastoral para toda a Igreja; a bela tarefa de reconhecimento e agradecimento, pois muitos deles gastaram a vida pelo bem da sua família ou da comunidade. 

Precisamos criar nos agentes de pastorais a consciência de que a Igreja está a serviço sobretudo daqueles que mais precisam e os idosos são ainda no Brasil pessoas necessitadas de atenção pastoral. Trata-se de perceber e valorizar a dignidade, utilidade e amizade de cada um dos idosos, despertando para um sentido comunitário de gratidão e de apreço que levem o idoso a sentir-se parte viva da sua comunidade.
Com efeito, não basta ter pena e lastimar a solidão e o abandono de muitos idosos, é preciso empenhar-se para ajudá-los a prolongar uma vida lúcida, ativa e feliz, assegurando-lhes a dignidade próprio de idoso, isto é, valorizando o seu papel social.

Ora, a razão de propor uma catequese com idosos é justamente porque a Igreja, diante de tanta injustiça, não pode se calar ou estar alheia à situação de uma sociedade materialista e consumista que só valoriza o que produz ou quem produz, marginalizando os idosos e considerando-os cargas ou pesos inúteis. É vocação da Igreja estar do lado dos que mais precisam, dos que têm seus direitos e sua dignidade feridos. É missão da Igreja contribuir de modo que o mundo também dos idosos esteja repleto dos valores do Reino de Deus. Muito pouco se fala de catequese com idosos, mesmo em livros e outras publicações. Há pouquíssimo material nessa área. A falta de uma catequese adequada aos idosos gera também entre eles uma multidão de batizados que não vivem o seu Batismo (cf. EN 56). O espaço de protagonismo dado a eles em nossas comunidades é muito pequeno, comparado muitas vezes com a maior disponibilidade para servir à comunidade, dentro e fora da Igreja que os idosos têm (cf. DNC 185).



Nosso tempo parece esquecer que envelhecer é algo natural; É uma etapa normal da vida, com suas satisfações, atividades e desafios próprios. A fase idosa da vida em muito é resultado de como foram vividas as outras fases da vida. Ser idoso é uma fase da vida que certamente todos nós um dia passaremos...
A cultura do descarte no mundo de hoje é forte. Mas o Senhor nunca nos descarta, lembra o papa Francisco
Na verdade, Deus chama-nos a segui-lo em todas as fases da vida, e inclusive na fase idosa da vida, que o papa acredita possuir uma verdadeira vocação específica.  Como em outros tempos normalmente a expectativa de vida era mais baixa, hoje, faz-se preciso “inventar” ou desenvolver uma espiritualidade das pessoas idosas fundamentada na vida de oração. Eis aí uma grande inspiração para pensarmos uma catequese com idosos!

Sentir-se velho é diferente de ser idoso

Velho é o espírito e só fica velho quem quer! (...) Dona Florinda, convença-se de uma coisa, a juventude e a velhice não tem nada a ver com a idade!”  Professor Girafales.

Dica de filme: O Estudante é um filme emocionante que conta a história de um senhor idoso que deseja voltar aos estudos. Além de mostrar os preconceitos e desafios que o protagonista encara, o longa mostra quão frutuosas podem ser a sabedoria e a experiência de vida de um idoso frente as dificuldades que os jovens enfrentam. Vale a pena!

Trailer Filme O Estudante: https://www.youtube.com/watch?v=odYpSDI6N54

Sinopse Filme O Estudante: http://cinema10.com.br/filme/o-estudante

Filme O Estudante completo: https://www.youtube.com/watch?v=KL-RvZYvFfM 

Os tipos de idosos que geralmente encontramos nas comunidades paroquiais: 

1)      Os afastados da fé: Muitas vezes afastados porque foram esquecidos, inclusive pela Igreja, vítimas de descriminação. Muitos vivem uma vida amargurada; Cabe aqui uma catequese missionária, querigmática, isto é, de um novo anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo que nos dá a vida por amor. O objetivo da catequese aqui é também ajudar a encontrar os valores humanos que dão alegria e sentido à vida;

2)      Os interessados em amadurecer a sua fé: São aqueles que sentem que estão sem catequese há muito tempo ou que precisam completar a sua iniciação. Muitos, despertados à fé e sedentos de mais, sentem a necessidade de um aprofundamento. Com efeito, as experiências de catequese de muitos idosos por vezes não foram as melhores ou até mesmo já aconteceram a tanto tempo que eles mesmos sentem a necessidade de uma reiniciação. A catequese atualizará a alegria do Evangelho para a linguagem e para o mundo dos idosos.

3)      Os fiéis integrados na comunidade: É a etapa de amadurecimento da fé. É catequese permanente que encaminha para a responsabilidade da ação pastoral ou comunitária. Os idosos já plenamente integrados à vida comunitária são, como todos os outros fiéis que participam ativamente da vida da comunidade, convidados a uma catequese permanente. Ninguém é tão bom e experiente que saiba de tudo, nem o idoso. Por isso, as formações são também necessárias para a atuação pastoral.  

UM MARCO: O ENCONTRO INTERNACIONAL DOS IDOSOS E AVÓS

Papa Francisco tem mostrado constante preocupação com a pessoa idosa:

"Um povo tem futuro quando caminha com a força dos jovens e dos idosos".

Foi o quedisse o papa no voo para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio2013. Em uma viagem para encontrar jovens, Francisco afirmou que eles têm um valor importante, são o futuro de um povo; mas disse também que esse futuro também é dos idosos, porque são depositários de uma sabedoria de vida, da história, da pátria e da família.

Marca dessa preocupação do papa, foi o ENCONTRO INTERNACIONAL DOS IDOSOS E AVÓS que aconteceu em Roma no dia 28 de setembro de 2014. O evento organizado pelo Pontifício Conselho para a Família teve como tema “A benção de uma vida longa”.




Nesse encontro, o papa falou que os idosos que têm fé são como árvores que continuam a dar fruto. Eles são chamados a guardar e transmitir a fé, chamados a rezar, especialmente a interceder; chamados a ser solidários com os necessitados... “Os idosos, os avós têm uma capacidade particular de compreender as situações mais difíceis: uma grande capacidade! E, quando rezam por estas situações, a sua oração é forte, é poderosa!”, disse Francisco.

Ele também lembrou da especial missão de quem é avó ou avô: “Aos avós, que receberam a bênção de ver os filhos dos filhos (cf. Sl 128/127, 6), está confiada uma grande tarefa: transmitir a experiência da vida, a história duma família, duma comunidade, dum povo; partilhar, com simplicidade, uma sabedoria e a própria fé, que é a herança mais preciosa! Felizes aquelas famílias que têm os avós perto! O avô é pai duas vezes e a avó é mãe duas vezes”.

PALAVRA DE DEUS E PESSOA IDOSA

A Bíblia costuma apresentar o idoso como que um “catequista” natural. O idoso ou ancião é símbolo da sabedoria e do temor de Deus. Ele é testemunha e guardião da tradição da fé e da experiência de vida (cf. DGC 188). Apresentamos alguns textos que podem iluminar a nossa reflexão:

O 4º Mandamento – Honrar pai e mãe: Ex 20, 12
Honra o teu pai e a tua mãe, para que os teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus”. 
O cristão que afirma amar a Deus, mas descuida da sua relação com os outros, incorre em contratestemunho. De fato, o amor a Jesus e ao Pai leva à realização do amor pelos pais, e também pelos avós. Honrá-los significa ter afeição, reconhecer e valorizá-los; Significa também assumir a responsabilidade de cuidar com carinho deles na fase idosa da vida (cf. Mc 7, 10-13; Eclo 3, 12.16). O cumprimento dessa atitude vem acompanhado de uma promessa que é o resultado do esforço da implantação de uma cultura do cuidado e da justiça: a prolongação dos dias de vida.   

Oração de um idoso: Sl 71 [70], 5.9.18
“Sois Vós, ó meu Deus, a minha esperança. Senhor, desde a juventude Vós sois a minha confiança... Na minha velhice não me rejeiteis, ao declinar das minhas forças não me abandoneis... Quando vier a velhice e até os cabelos brancos, ó Deus, não me abandoneis, a fim de que eu anuncie à geração presente a força do vosso braço e o vosso poder à geração vindoura”.
Esse salmo retrata a súplica de um idoso para que Deus olhe para a sua condição. O autor expressa a sua confiança na ação de Deus, com quem mantém intimidade desde a juventude. A fase idosa da vida é o tempo de fidelidade a Deus, de depositar Nele as esperanças da vida. O salmo retrata na súplica do idoso a angústia de quem não quer ser abandona ou esquecido. Deus não abandona e não se esquece, essa certeza precisa ser alegria na vida do idoso. Com efeito, o idoso do salmo se sente vocacionado a contribuir eficazmente em sua comunidade. Ele encontra o seu espaço de guardião da verdade da fé e transmissor do testemunho da salvação de Deus as novas gerações. A pessoa idosa não é só passiva de atenção pastoral, ela está inserida no protagonismo da ação evangelizadora da Igreja. 

O respeito e acolhida da Tradição dos mais velhos: Eclo 8, 11-12
“Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, dado que eles os aprenderam com os seus pais. Estudarás com eles o conhecimento e a arte de responder de modo oportuno”.
Uma cultura de proximidade às pessoas idosas sabe valorizar a bagagem de sabedoria de vida acumulada que eles têm. Além de beber dessa fonte de transmissão da fé e da tradição, trata-se de ter uma disposição ao acompanhamento carinhoso e solidário na parte final da vida.

A visita de Maria a sua prima Isabel: Lc 1, 39-45
“Naqueles dias, Maria partiu apressadamente se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”.
Maria é jovem, muito jovem. Isabel é idosa, mas foi nela que se manifestou a misericórdia de Deus e, há seis meses, juntamente com o marido Zacarias, está à espera de um filho. Também nesta circunstância, Maria nos indica o caminho: ir ao encontro da parenta idosa, permanecer com ela, certamente para a ajudar, mas inclusive e principalmente para aprender dela, que é idosa, uma sabedoria de vida.

O velho Simeão e a profetiza Ana: Lc 2, 25-38
“Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo”. O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”. Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
 Nesse trecho do Evangelho encontramos uma imagem muito bonita, comovente e encorajadora: É a imagem de Simeão e Ana, ambos idosos. Ana, mulher que não escondia a sua idade, tinha 84 anos (cf. Lc 2,37)! O Evangelho diz que todos os dias esperavam a vinda de Deus, com grande fidelidade, havia muitos anos. Queriam realmente ver aquele dia, captar os seus sinais, intuir o seu início. Talvez já tivessem desanimado, no entanto, aquela longa expectativa continuava a ocupar toda a vida deles, e não tinham compromissos mais importantes do que este: esperar o Senhor e rezar. Quando Maria e José chegaram ao templo para cumprir os preceitos da Lei, Simeão e Ana apressaram-se, animados pelo Espírito Santo (cf. Lc 2, 27). O peso da idade e da espera se foi num instante. Eles reconheceram o Menino e descobriram uma nova força, para uma renovada tarefa: dar graças e testemunhar este Sinal de Deus. Simeão improvisou um lindo hino de louvor e ação de graças (cf. Lc 2, 29-32) — naquele momento foi um poeta — e Ana tornou-se a primeira pregadora de Jesus: “Falava de Jesus a todos aqueles que, em Jerusalém, esperavam a libertação” (Lc 2, 38).

O bom trato com a pessoa idosa: 1 Tm 5, 1
“Não repreenda um homem mais velho, mas o aconselhe como se ele fosse o seu pai. Trate os homens mais jovens como irmãos, as mulheres idosas, como mães e as mulheres jovens, como irmãs, com toda a pureza”.
São Paulo recomenda a Timóteo, que é pastor e portanto pai da comunidade, que tenha respeito e carinho pelos idosos e pelos familiares, enquanto o exorta a fazê-lo com atitude de um filho: os homens “come se fosse o teu pai” e “as mulheres idosas como mães”. 

A FÉ DO IDOSO

O Diretório Geral para a Catequese diz que os idosos têm o direito e o dever de receber uma catequese adequada, como todos os cristãos (cf. DGC n. 186). Para isso, é preciso conhecer os idosos interlocutores do processo de catequese. São-nos apresentados três tipos de condição de fé em que podem se encontrar os idosos:
1)      Fé Sólida e Rica: Pode ser que o idoso já tenha uma fé sólida e rica, nesse caso a catequese será como que o aprofundamento e a plenitude desse caminho de fé percorrido; será atitude de agradecimento e de confiante expectativa. Certamente que a presença e o testemunho dessa pessoa à comunidade será capaz de irradiar a fé e contagiar os outros;
2)      Fé Frágil: Quando o idoso apresenta uma fé e prática cristã frágeis, as vezes supersticiosas, a catequese é momento oportuno para lançar nova luz e proporcionar nova experiência religiosa. É importante sempre valorizar as práticas de fé de cada pessoa e ter cuidado para não ofender ou escandalizar;
3)      Fé Ferida: Às vezes o idoso chega a essa fase da vida com profundas feridas na alma e no corpo.  A catequese vai ajudar a viver a sua condição na atitude do perdão e da paz interior (Cf. DGC n. 187). É bom lembrar que essa catequese pode ser a primeira experiência autêntica de iniciação que o idoso não tive quando mais jovem.

Conhece os direitos da pessoa idosa? Leia o Estatuto do Idoso.

O IDOSO NA CATEQUESE E A CATEQUESE COM IDOSOS

O IDOSO NA CATEQUESE, muitas vezes, são os primeiros catequistas de crianças. É preciso despertar os mais velhos para o protagonismo decisivo que podem exercer na evangelização e no impulso da renovação da comunidade cristã. Idosos não são objetos da ação evangelizadora da Igreja, eles, embora destinatários dela, podem exercer parte ativa em serviço a sociedade e a Igreja.  
Algumas orientações para uma CATEQUESE COM IDOSOS:

1)        Conhecer e visitar, escutar alguns idosos da sua comunidade;
2)        Informar-se sobre a situação do idoso no Brasil, como eles são tratados, qual o lugar que ocupam na sociedade brasileira, sua pedagogia etc; Todo idoso tem: Necessidade de se sentir amado; Necessidade de produzir e ser útil; Necessidade de ser único, original e criativo; Necessidade de dar sentido à própria vida;
3)        Refletir a partir da Palavra de Deus;

Toda catequese com idoso será impregnada de calor humano, de proximidade, de escuta, de acolhida e de compreensão. Ela precisa ser participativa, isto é, não pode converter-se em um “fazer algo” para o idoso. As vezes, quando se chega a essa idade, se tem uma inclinação a passividade, a espera de que os outros façam. A catequese com idoso despertará para o protagonismo, provocando à participação e contribuição dos idosos. Ela pode se tornar um processo de reiniciação cristã de estilo catecumenal.
Algumas experiências e iniciativas:

1)      Atividades litúrgico-sacramental: Homilias próprias nas eucaristias, celebrações da Palavra de Deus com idosos; celebração de aniversários e de bodas de casamentos; celebração do sacramento da Reconciliação e da Unção dos Enfermos;
2)      Encontros periódicos: Grupos de reflexão e oração, etc; São exemplos: Apostolado da Oração; Movimento Vida Ascendente; o serviço de evangelização junto aos idosos da Pastoral da Pessoa Idosa; grupos de Música (bailes, shows, etc); Bingos beneficentes e comunitários;
3)      Catequese sistemática de inspiração catecumenal: Essa catequese que pode organizar-se como processo de reiniciação cristã de estilo catecumenal será também um grande grito profético contra o preconceito e o pouco caso com a pessoa idosa! Uma bela iniciativa é a chamada “Catequese intergeracional” em que iniciandos de diferentes idades interagem na troca de experiências e crescimento mútuo de fé.

Papa Francisco parece encorar essa interação entre as diferentes gerações: “Olhai os nossos jovens: às vezes vemo-los apáticos e tristes; vão encontrar um idoso e tornam-se alegres!”. E ao somar-se ao grupo dos idosos, ele acrescenta: “Podemos recordar aos jovens ambiciosos que uma existência sem amor é uma vida árida. Podemos dizer aos jovens medrosos que a angústia em relação ao futuro pode ser derrotada. Podemos ensinar aos jovens demasiado apaixonados por si mesmos que há mais alegria em dar do que em receber. Os avôs e as avós formam o ‘coral’ permanente de um grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo da vida. Como é desagradável o cinismo de um idoso que perdeu o sentido do seu testemunho, despreza os jovens e não comunica uma sabedoria de vida! Ao contrário, como é bonito o encorajamento que o ancião consegue transmitir ao jovem em busca do sentido da fé e da vida! Esta é verdadeiramente a missão dos avós, a vocação dos idosos! As palavras dos avós têm algo de especial para os jovens. E eles sabem-no! Como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre jovens e idosos! E é isto, este abraço, que hoje peço ao Senhor!".

Dica de Leitura para aprofundar o assunto: Livro Psicopedagogia catequética: reflexões e vivências para a catequese conforme as idades, vol. 4 pessoas idosas. De Eduardo Calandro e Jordélio Siles Ledo, editora Paulus.


Texto de João Melo originalmente publicado em Revista Digital Sou Catequista, edição 11, ano 3, agosto/2015, págs. 88-107.