sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Número 29 da Lumen Fidei e a Iniciação à Vida Cristã

"A fé é conhecimento ligado ao transcorrer do tempo que a palavra necessita para ser explicitada: é conhecimento que só se aprende em um percurso de seguimento." Lumen Fidei, 29.
Esse trecho da carta apostólica nos lembra justamente o itinerário de Iniciação à Vida Cristã que precisa acontecer, a exemplo da pedagogia divina, progressivamente, respeitando as realidades e as condições do "terreno" para a acolhida da semente da Palavra de Deus. 
Nesse parágrafo o papa nos diz que a fé é um conhecimento e que este está ligado ao transcorrer do tempo. Com isso, o papa quer ao mesmo tempo afirmar que a transmissão, adesão e o aprofundamento da fé ocorrem na realidade concreta do cotidiano da vida, ou seja, no tempo. De fato, não trata-se de qualquer tempo, falamos do tempo presente em que a Palavra é ouvida, explicitada e, portanto, configurada ao ouvinte crente. Poderíamos dizer que trata-se do tempo necessário para que a semente da Palavra de Deus crie raízes e possa brotar. Essa fé vivida e aprofundada é um sinal dos frutos dessa fé que, uma vez fincada no "terreno" fértil do coração do homem, é capaz de transbordar-se aos demais, oferecendo seus frutos que levam consigo novas sementes e propagam um verdadeiro campo da fé.
Além disso, o texto nos diz que essa fé torna-se real e conhecimento para o crente, na medida em que é aprendida em um percurso de seguimento. Novamente, lembramos de um caminho a ser percorrido, um itinerário de discipulado e seguimento.
Hoje, a Igreja no Brasil quer que "re-proponhamos" o caminho ordinário de iniciação à Vida Cristã, permitindo que outros caminhos sejam também levados em conta. É sabido por todos nós que as estruturas atuais da maior parte das paróquias não atende de modo adequado o objetivo de fazer discípulo missionários de Jesus Cristo, torná-los cristãos e que temos uma dificuldade maior ainda em atingir àqueles que são indiferentes ou hostis a Igreja.
Olhando para sua tradição milenar, a Igreja vê na história, em uma época de missão, num mundo de cultura pagã e de poucos cristãos - os primeiros séculos do cristianismo  - um tesouro a ser resgatado que, adaptado as condições atuais, ajuda a responder de forma eficaz ao desafio da Nova Evangelização. Esse tesouro chama-se catecumenato.
Nessa perspectiva, a Igreja nos convida a adotar o itinerário da Iniciação à Vida Cristã de uma catequese com estilo catecumenal. Essa nova maneira de fazer catequese exige um novo modelo de comunidade paroquial que só aos poucos e com muito esforço conseguiremos mudar.
O estudo 97 da CNBB (Iniciação à Vida Cristã) e o RICA (RItual da Iniciação Cristã de Adultos) contém as orientações necessárias para começar a implantação da iniciação cristã de inspiração catecumenal nas paróquias. As últimas diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil da CNBB já indicam esse caminho.
A Iniciação à Vida Cristã propõe uma ação evangelizadora dividida em 4 tempos. No primeiro tempo (chamado de pré-evangelização), ocorre o primeiro anúncio ou anúncio querigmático da pessoa de Jesus Cristo, sua paixão, morte e ressurreição, ou seja, o ponto essencial e primordial da fé. Esse anúncio ocorre de forma pessoal, por introdutores que procuram em um clima de amizade e acolhida do iniciando, anunciar-lhes a vida de Jesus, sobretudo por meio de seus Evangelhos. Num segundo momento, em um tempo maior que o primeiro, ocorre o tempo de catequese propriamente dito, tempo em que de forma sistemática, a fé é aprofundada e vivida pelos iniciandos. Feito isso, segue-se o tempo da iluminação em que os iniciandos vivem um período de preparação mais intensa para a celebração dos sacramentos por meio de uma experiência de espiritualidade e oração fortes. Celebrados os sacramentos, segue-se o tempo da mistagogia, em que o significado da celebração dos sacramentos é aprofundada. Nesse último tempo, há um acentuado caráter missionário.
Esse processo é maior que a catequese em si e envolve toda a comunidade. Trata-se de um caminho de adesão à fé e que hoje, mais do que nunca, precisa ser por nós abraçado.

domingo, 25 de agosto de 2013

Crônica de um Congresso de catequistas no Rio Grande do Sul

1. Sobre a viagem
Frio e muita chuva. Contam-me que faz dias que chove sem parar e que muitos lugares em diversas cidades estão inundados. No táxi, já na rodovia, vejo regiões inteiras alagadas que lembram uma represa, mas o motorista me diz que na verdade são de ruas e vias de acesso e que o evento se repete todo ano.
De Porto Alegre fui para a pequena e bela Bom Princípio. O meu aplicativo de mapas da Google não contém o mapeamento das ruas da cidade, é a primeira vez que isso acontece. A maior parte da população local fala alemão fluentemente, o padre que me conta isso, tem em seu cachecol as cores da bandeira alemã.
Antes de ir para o seminário menor onde iria ser hospedado, fui a um colégio marista que fica ao lado do seminário. Lá, fui acolhido calorosamente por um grupo de jovens e adultos que trabalhavam em mais uma edição do seu tradicional CLJ (Curso de Liderança Católica). Seus correspondentes em São Paulo são o FSJC  e o TLC, dentre outros.  No evento estava acontecendo uma "Missa catequética", onde o padre explica parte por parte da missa antes que cada parte do rito aconteça. Uma das organizadoras explicou como ocorre esse encontro de jovens, no seu relato ela disse que naquele dia, mais cedo,  os jovens  escreveram uma carta para seus pais ou responsáveis depois de participarem de uma palestra sobre família e que nesta, eles deveriam escrever tudo o que sempre desejaram dizer a eles. Tais cartas tinha ido para a rodoviária e chegando ao seu destino, os pais, já avisados, deviam ir a rodoviária mais perto de suas casas e buscar a carta de seus filhos. No encerramento eles participariam de uma missa com eles. Naquele dia, o cardápio do jantar incluía churrasco.
Mais tarde, por volta das 21:20, fui "encontrado" pelos seminaristas do propedêutico da diocese de Montenegro. Uma vez no seminário, eu, eles e seus reitores jantamos - pizza. Tivemos uma conversa muito proveitosa, trocando experiências e partilhando as realidades da Arquidiocese de São Paulo e da Diocese de Montenegro. Os reitores se mostraram despojados e muito próximos de seus formandos. Um dos seminaristas revela que o bispo também é assim.
2. Sobre o congresso
No dia seguinte começou o Congresso Catequético Vocacional. O encontro que reuniu catequistas de toda a diocese levava esse nome porque nele seria inaugurado o Ano Vocacional diocesano. No café da manhã - comi cuca pela primeira vez - procurei conversar com o maior número de catequistas possível. A maior parte, como em São Paulo e no Brasil todo, é mulher, mas mesmo assim, achei muito expressivo o número de catequistas homens. A faixa etária também era muito diversa, embora os adultos fossem predominantes. Ouvi relatos de pessoas que são catequistas a mais de 15 anos bem como de outros que começaram a pouco tempo.   
É facilmente notável que a diocese está passando por uma fase de reestruturação da catequese e que esta está agradando a catequistas e catequizandos. A diocese caminha rumo a uma catequese de inspiração catecumenal.
Para a catequese de 1ª Eucaristia, como eles preferem chamar, era usado, pelo menos na fala de alguns, o próprio Catecismo da Igreja Católica. Ficava a encargo do próprio catequista adaptar o conteúdo e a linguagem para a realidade do catequizando. Essa catequese já tinha e vai continuar a ter duração de 2  anos. Já a catequese de Crisma que tinha duração de 1 ano, passará a 2. Não havia um material específico. Na catequese de adultos, os catequistas muitas vezes são os padres, seminaristas do seminário maior ou outros leigos com formação teológica. A celebração dos sacramentos com os adultos normalmente ocorre junto com as crianças e jovens e não necessariamente no tempo Pascal.
Em geral, as turmas são formadas por poucos catequizandos. 4, 6, há lugares em que só é permitido ter turmas de até 12 catequizandos. Se houver mais, então outro catequista assume o restante. Parece que a maior parte deles atua sozinho e que os poucos que atuam em duplas, têm turmas um pouco maiores.
A diocese está adotando o material do padre Leomar Brustolin, palestrante do congresso, que propõe uma catequese de estilo catecumenal a partir da leitura orante da Bíblia. O 1° plano de pastoral da diocese será sobre a Iniciação Cristã, tema do nosso congresso.
3. Sobre a fala do Padre Leomar
Padre Leomar iniciou sua fala enfaticamente dizendo que, de fato, pretendemos implantar o processo de Iniciação à Vida Cristã, mas que, uma vez que ninguém dá o que não tem, é preciso primeiro viver e falar da própria experiência de iniciação à vida cristã para depois poder passar a tratar da iniciação das crianças, jovens e adultos. Em outras palavras, precisamos primeiro ser iniciados  - nós, catequistas - para depois iniciarmos aos outros.
Nesse sentido, é preciso primeiro identificar a situação atual o "onde estamos" e depois, propor o "onde queremos estar" da iniciação cristã. Constata-se que ao mesmo tempo em que é "difícil" evangelizar, em razão dos desafios pastorais e da cultura vigente, que nunca tornou-se também tão fácil evangelizar devido a "sede", a falta de sentido em que as pessoas estão imersas.
Outro aspecto por ele levantado é justamente uma crescente maneira de lidar com a fé na esfera do individualismo, criando uma espécie de fé privatizada. Insiste que a fé na catequese tem que ser vivida de forma comunitária. Aconselha, inclusive, que nos encontros de catequese, a forma de rezar seja comunitária também, ou seja, não rezar por individualidades do tipo "minha família", "meu problema", etc, antes rezar por "nossas famílias" e " nossos problemas". Não é cristão rezar apenas pelas próprias necessidades. A preocupação maior do cristão é sempre com o outro.
Ovacionado, pe. Leomar afirmou que  o novo modelo de catequese vai mudar o estilo de ser da paróquia. Uma catequese nova exige uma comunidade nova (Cf. Mt 9,17).
É preciso criar "Comunidades catecumenais" - termo que não conhecia - que são comunidades onde a catequese fortalece todas as lideranças da comunidade. A catequese torna-se a "menina dos olhos" da comunidade, mantendo uma constante relação com as outras pastorais, de modo a oferecer "serviços catecumenais" - outra expressão nova.
Uma metáfora: Nossos batizados, ou que receberam outros sacramentos, mas não foram evangelizados são como que se possuíssem uma poção de sementes que nunca irão plantar.
Agora faz 30°C em São Paulo e estou feliz por saber que vou ver o Sol brilhar. Trago comigo a esperança luminosa de uma catequese cada vez mais iniciática...
Mãos a obra!
25 de Agosto, dia do Catequista.
Em algum lugar, depois de deixar Porto Alegre, RS.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Mensagem por ocasião do Dia do Catequista

(Lc 13, 22-30)

Queridos irmãos e irmãs catequistas!

Parabéns! Hoje toda a Igreja tem a alegria de celebrar o dom da sua vocação!

É uma alegria termos Catequistas de Batismo, Catequistas de Catequese Eucarística, de Catequese Crismal, Catequistas do Matrimônio e de tantos outros momentos de educação da fé que a Igreja propõe como evangelização de todas as idades.

O Evangelho nos apresenta Jesus que "...atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém" (Lc 13, 22).

Essas duas atitudes de Jesus, ensinar e prosseguir o caminho são atitudes que inspiram a vida e a ação pastoral de todo catequista!

1. Ensinar.
O discípulo missionário de Jesus Cristo é aquele que também nos tempos de Nova Evangelização transmite a fé da Igreja. Ele ensina por palavras, gestos e testemunho porque é imbuído da Palavra de Deus e porque cultiva uma espiritualidade de íntima comunhão com Cristo. Ensinar é Catequizar. É dar respostas aos anseios, a busca de sentido - busca de salvação (cf. Lc 13, 25). Isso é feito por meio de um caminho.

2. Prosseguir o caminho.
Esse caminho que o Evangelho nos fala, que leva a Jerusalém, a Cidade Santa, palco do Mistério Pascal de Cristo, sua paixão, morte e ressurreição é o ponto alto da fé, do qual fazemos memória quando celebramos os sacramentos. O processo de Iniciação à Vida Cristã é o caminho pelo qual o Catequista conduz os iniciandos ao Mistério da Fé, à celebração sacramental.
Meus irmãos e irmãs, esse caminho é muito bonito! Por essa razão, não podemos fazê-lo de qualquer jeito, negligenciando o seu ponto mais importante, a iniciação aos sacramentos. De fato, não adiantaria estar à mesa, comer e beber (cf. Lc. 13, 26), mas não tornar-se verdadeiro discípulo missionário de Cristo,  praticar a injustiça (cf. Lc. 13, 27).
A Catequese nos leva à vivência dos valores do Reino, onde todos, não importa quem sejam, são convidados também a tomar lugar à mesa no Reino de Deus (cf. Lc 13, 29).

Que o Catequista Maior, Cristo Jesus, anime a todos nessa caminhada!


Catequistas da Paróquia São 
Mateus