segunda-feira, 26 de novembro de 2018

As dinâmicas na ou da Catequese? Refletindo métodos e técnicas na educação da fé

texto de Suzana Costa Coutinho
Educadora

          
  É comum, nos vários encontros, reuniões e cursos que participamos junto a catequistas e outras lideranças comunitárias e eclesiais, ouvirmos a demanda por capacitações sobre dinâmicas, para “animar” os encontros, cursos e outros eventos na comunidade ou no grupo. É comum, também, ouvirmos que se terá “momentos de animações”, ou uma “equipe para animar” tal evento. Esta reflexão quer trazer elementos que nos ajudem a entender o que são as dinâmicas e sua relação com a atividade catequética.
            O conceito de dinâmica muito comum entre as pessoas é de uma ação ou atividade que faça mover, que “anime”. Há pessoas que preparam seus encontros, cursos e reuniões de forma a ter vários momentos com muitas “dinâmicas”. Se refletirmos um pouco mais, vamos percebendo que, por trás desses conceitos, está a ideia de que dinâmica é algo a parte, inserido para movimentar outra coisa. Pois bem: a palavra dinâmica realmente significa “movimento”, algo que faz “explodir” para mover (dínamo, dinamite...).
            Quando pensamos num encontro catequético, podemos nos perguntar: que dinâmica ele terá? Ou: que dinâmicas vou usar? São perguntas diferentes com concepções de dinâmica diferentes. Na primeira, estamos falando de “método”, ou seja, de um ciclo, de um roteiro que faça o encontro “caminhar”, mover-se de um determinado ponto até outro que desejo (meu objetivo no encontro). Na segunda pergunta, estamos falando de técnicas, de atividades dentro do roteiro que nos ajudem a “animar” o encontro. São duas perguntas válidas, mas que só terão força se forem feitas juntas. Ou seja, para falar de dinâmica na Catequese, precisamos pensar o “método” catequético e, dentro dele, as técnicas que iremos utilizar para dar “vida” ao método.


1. O método é a dinâmica da catequese

            Como a catequese se move? Ao fazer esta pergunta estamos querendo saber qual a dinâmica da catequese. Os documentos da Igreja sobre a Catequese falam de um jeito de catequizar, um jeito de ser da catequese. Este jeito significa sua identidade, que a faz única e, ao mesmo tempo, integrante das outras ações ou dimensões evangelizadoras da Igreja. Portanto, reconhecem que há uma dinâmica própria da catequese, que se expressa como uma ação educativa da fé. Desta forma, o documento Catequese Renovada afirma que Catequese é um processo dinâmico de educação da fé, um itinerário e não apenas instrução.
Como processo educativo, qual método seguir? Partimos de alguns fundamentos pedagógicos importantes para a ação catequética. Primeiro, ter presente que as atividades devem ser adaptadas à psicologia dos/as educandos/as, ao ambiente social em que vivem e interagem, aos objetivos da ação e aos conteúdos que devem ser apreendidos e interiorizados. Segundo, que educação é processo de duas mãos: o aprender e o ensinar, e que esse processo deve ocorrer de forma dialógica, ou seja, entre sujeitos (educador/a e educando/a) e não de um sobre o outro.
Embora a pedagogia seja grande aliada da Catequese, ela sozinha não garante um processo de educação da fé. Por isso, o documento Catequese Renovada ajuda a compreender o método catequético a partir da ação de Deus Trino e da própria Igreja:
a)    O modo de proceder de Deus Pai na história (cf. Salmo 103,3-6) que se revela de diversos modos e comunica-se através dos acontecimentos da vida do povo (PARTE DA REALIDADE das pessoas);
b)    O modo de proceder de Jesus que, por meio da sua vida, palavras, sinais e atitudes, leva à plenitude a Revelação Divina. O Filho que acolhe, anuncia, convida, envia, chama a atenção às necessidades e para a reflexão sobre a mudança, tem linguagem simples e firmeza diante das tentações;
c)     A ação do Espírito Santo, “Mestre interior”, que impulsiona para o conhecimento intelectual e a experiência amorosa, para uma experiência existencial (pessoal e comunitária de Deus) fundamentada no amor; que leva ao anúncio da verdade revelada, cria meios para a comunhão filial com Deus, a construção da comunidade de irmãos, o estabelecimento da justiça, da solidariedade e da fraternidade;
d)    O modo de proceder da Igreja, como Mãe e educadora da fé.

Portanto, a dinâmica da Catequese deve ser aquela que impulsiona a pessoa a aderir livre e totalmente a Deus, a introduz no conhecimento vivo da Palavra de Deus e a ajuda no discernimento vocacional para a vida na Igreja e na sociedade. Para isso, considera que é preciso viver o clima de acolhimento e docilidade ao dom do Espírito Santo, promover um ambiente espiritual de oração e recolhimento, pronunciar a palavra com autoridade e fortaleza e incentivar a participação ativa dos catequizandos.
Na caminhada da Igreja, principalmente na América Latina, a Catequese vai se identificar com o método pastoral “VER-ILUMINAR-AGIR”, ao qual vai incluir “CELEBRAR-AVALIAR”. E vai afirmar o método como passos que não são estanques, mas um processo dinâmico.
Assim, o “VER” propõe ser um olhar crítico e concreto a partir da realidade da pessoa, dos acontecimentos e dos fatos da vida, como disse Jesus, para saber discernir “os sinais dos tempos”. Nem todos já têm esse olhar crítico, por isso, é preciso ouvir as pessoas, a partir de suas visões de mundo, ajudando-as a ampliar sua capacidade de analisar a realidade.
Para ajudar nessa “ampliação” do olhar, vem o segundo passo, que é o “ILUMINAR”. Este é o momento de escutar a Palavra de Deus. Este “escutar” implica reflexão e estudo que iluminam a realidade, questionando-a pessoal e comunitariamente. Também é uma busca de conversão contínua para realizar a vontade do Pai. Momento de abertura ao Espírito Santo, com a escuta orante da Palavra, com uma atitude contemplativa e fidelidade à mesma Palavra, à Tradição e ao Magistério. São passos necessários para esse momento: descobrir a ligação da caminhada com a mensagem evangélica; fazer o confronto da realidade com as exigências da proposta de salvação anunciada por Cristo e buscar o discernimento em vista da organização de uma ação transformadora.
Chega-se, desta forma, no terceiro momento: o “AGIR”. Momento de tomar decisões, orientando a vida na direção das exigências do projeto de Deus. Também é o tempo de vivenciar e assumir conscientemente o compromisso e dar as necessárias respostas para a renovação da Igreja e transformação da realidade. Este passo exige: confiança em Deus, coerência entre fé e vida e fortaleza para acolher as mudanças necessárias na sociedade e na vida pessoal. O AGIR é compromisso de viver como irmãos, de promover integralmente as pessoas e as comunidades, de servir os mais necessitados, de lutar por justiça e paz, de denunciar profeticamente e de transformar evangelicamente as estruturas e as situações desumanas, buscando o bem comum.
CELEBRAR e AVALIAR podem e devem estar presentes nos outros momentos. Celebrar a realidade, celebrar a Palavra, celebrar a ação. Avaliar como vemos a realidade, como agimos diante da Palavra, como atuamos na nossa vida pessoal, comunitária, eclesial e social. Celebrar e avaliar também a caminhada catequética, os encontros, as fases, as turmas, as vivências catequéticas.


2. As dinâmicas dentro do método catequético

Na ação educativa deve-se considerar as qualidades das experiências de aprendizagem ou as atividades propostas em cada fase do método a ser adotado, ou seja, das técnicas que serão utilizadas para dar vida ao método. Ao escolher uma “técnica” a ser utilizada com o grupo, busca-se levar em conta sua diversidade, de forma que todos os/as educandos/as participem. Há os que gostam mais de cantar, outros/as que gostam mais de ler, outros/as ainda de desenhar ou escrever, ou ainda de atividades de grupo. A diversidade também evitará a monotonia que pode levar ao cansaço e à falta de motivação.
Por mais “divertidas”, alegres e entusiasmadas que sejam as técnicas, deve-se ter o cuidado para que elas sejam, de fato, coerentes com o tema e com os valores do Evangelho. A técnica não é um acessório, mas é parte integrante do processo catequético. Por isso também deve ser adequada ao interesse e às capacidades dos/as educandos/as-catequizandos/as, e ser significativa, próxima ao seu mundo, às suas preocupações, à sua vida (tem que fazer sentido!).
Para a tarefa educativa, o/a educador/a-catequista pode contar com técnicas didáticas, lúdicas, operativas e celebrativas. No entanto, pode-se dizer que o problema das técnicas ou dinâmicas, ou ainda atividades, não consiste tanto em ter mais ou menos imaginação e criatividade, mas numa coerência, que se expressa na seleção e organização que corresponda com os objetivos da Catequese.
            Nesta diversidade, as atividades lúdicas, por exemplo, não servem apenas para “brincar” ou passar o tempo de forma divertida. A brincadeira não só ajuda a aprender, como fortalece os laços entre as pessoas e aprimora habilidades. São consideradas técnicas, ou dinâmicas lúdicas: desenho, jogos, danças, construção coletiva, leituras, softwares educativos, passeios, dramatizações, cantos, teatro de fantoches, contar histórias, etc.
Sobre os jogos, vale ressaltar que as propostas devem ser fundamentadas nos valores cristãos da vivência e da partilha comunitárias e não da competição e exclusão. Por isso, ressalta-se a validade dos chamados “jogos cooperativos”, onde todos buscam um objetivo comum, sem competição. Nos Jogos Cooperativos não há lugar para a exclusão nem para “melhores” ou “piores”, mas com eles se aprende a considerar o outro como parceiro e solidário, a ter consciência dos sentimentos e a valorizar as diferenças, a desenvolver a empatia e a capacidade de trabalhar para interesses coletivos, priorizando a integridade de todos.
Em relação aos meios de comunicação social (jornal, rádio, TV, revistas, cinema etc.), têm-se várias possibilidades. Uma delas é a do uso dos meios para divulgar a boa nova de Jesus, educar as comunidades, servir ao bem-comum e como espaço para a vivência da cultura própria etc. A outra é a de educar para os meios, ajudando as pessoas a discernir entre o que é construtivo e o que não é - educar para a recepção dos meios.
Para isso, podem-se utilizar filmes e documentários com vários temas que levantem as questões e problemas humanos. Isso pode ser feito por meio de fichas de estudo, debates, painéis, mural, releitura evangélica etc. Os jornais e revistas trazem notícias, charges, caricaturas, HQ e anúncios. Com eles, é possível discutir a linguagem da mídia, a sedução para o consumo, como são tratados os diversos temas, o que é fato e o que é opinião. Podem ser elaborados cartazes, debates, mural, painéis. Ou ainda, pode ser feita a produção de um jornal da turma: que notícias gostaríamos de dar ao mundo? Que notícias damos hoje de nossa realidade (familiar, comunitária, eclesial?).
Em relação à música, pode-se aproveitá-la dentro dos encontros, não só para animá-los, mas também para analisar a letra e os questionamentos que os artistas fazem da realidade, com seus valores e contra-valores.
Com discernimento e a experiência vivida e partilhada entre os/as catequistas, vai-se aprendendo novas técnicas, novas dinâmicas, ou a dar novo sentido a técnicas já utilizadas, renovando-as, integrando-as, complementando-as. É possível, inclusive, classificar as dinâmicas segundo as funções que elas podem ajudar a desenvolver: dinâmicas de apresentação, acolhida e integração do grupo; dinâmicas de estudo; dinâmicas de planejamento e de avaliação; dinâmicas para a celebração, entre outras.


3. Como organizar as dinâmicas para o encontro catequético

Tendo como “caminho” de educação da fé o método “Ver – Iluminar – Agir – Celebrar – Avaliar”, o/a catequista buscará as técnicas necessárias para cada momento, dando “vida” ao método. Para ajudar nesta tarefa, convidamos para que a prática de Jesus nos ilumine, refletindo sobre o seu encontro com a samaritana (Jô 4, 1-30) e com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35). Seja na beira do poço ou no caminho para o vilarejo fora de Jerusalém, Jesus:
1.    Aproxima-se: cria empatia, confiança; relaciona-se, colocando em primazia a pessoa, valorizando-a. Pergunta, ouve, deixa falar, insiste, provoca. Estabelece relacionamento profundo.
2.    Detecta a realidade: dialoga sobre a realidade, ouve a versão que a pessoa tem, questiona, procura esclarecimentos.
3.    Ilumina com a Palavra de Deus: Jesus apresenta pistas de como a pessoa vai perceber, à luz da Palavra, o que está nos acontecimentos. Ensina, mas com unção, amor, vibração.
4.    Provoca clima de oração: “Senhor, dá-me desta água viva!”, reza a Samaritana. “Fica conosco, Senhor, pois a tarde está avançada!”, rezam os discípulos de Emaús.
5.    Celebra junto: partilha a vida, a Palavra, a prece e a refeição. Eucaristia! É na partilha que o Senhor se manifesta.
6.    Conversão: Ao longo do processo, há constante interação entre a Palavra e a vida. Reconhece-se que algo está mudado, é novo. Sente-se o coração arder e vontade de agir.
7.    Ação: a Samaritana vai ao povo falar de Jesus. Os discípulos voltam a Jerusalém. É a dimensão missionária da fé. É a fé que age em forma de amor.

Em outras palavras, a organização do encontro catequético pode e deve contar com dinâmicas que propiciem:
1.    Acolhida: quando as pessoas interagem, colocando-se em diálogo; criam laços.
2.    Ver a realidade: deixar as pessoas falarem do que sabem sobre o tema proposto, levantar questões e problematizar as visões que se tem.
3.    Iluminar-se pela Palavra: ouvir e refletir a Palavra de Deus e os documentos da Igreja, criando um maior conhecimento, a partir dos valores do Reino, sobre o fato, o tema debatido.
4.    Rezar a vida e a fé: a Palavra de Deus nos convida à oração que pode ser espontânea, ou preparada, com símbolos e ritos que nos permitem fortalecer nossa espiritualidade.
5.    Propor-se à mudança: dinâmicas que ajudem a propor e a vivenciar compromissos, seja durante os encontros, seja em outros momentos, mas que essa mudança ocupe nossas vidas e seja manifestação do desejo de viver os valores do Reino.

Diante de tantas possibilidades, da criatividade dos/as catequistas, de suas experiências, de materiais que subsidiam a ação catequética, com recursos de todos os jeitos (mais ou menos tecnológicos, complexos, simples, coletivos, emprestados, copiados, inventados, comprados) e, principalmente, da ação do Espírito que impulsiona para a missão, é possível dinamizar a catequese, porque se parte da vida, se deixa iluminar pela Palavra e se coloca em ação. Sem a dinâmica que lhe é própria, qualquer recurso para a Catequese se perde, todas as forças se esvaziam, as motivações são facilmente desfeitas.
Para encerrar este ponto da conversa, destacamos aqui um trecho do texto que Ir. Vera Bombonatto apresentou na 3ª Semana Brasileira de Catequese: “Ser cristão é entrar no movimento da vida de Jesus que armou sua tenda entre os pobres e excluídos deste mundo, anunciando-lhes a boa-nova do Reino, que passa pela cruz, mas não termina nela e sim na ressurreição”.
As dinâmicas e técnicas são algumas propostas. A grande proposta é o seguimento e o discipulado de Jesus. Este horizonte jamais poderá ser esquecido, porque é este o centro da Catequese. Tudo o mais é mutável, transferível, adaptável, reciclável...



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALBERICH, E. Catequese evangelizadora. Manual de Catequética Fundamental. São Paulo: Salesiana, 2004.

BOMBONATTO, Vera I. Discípulos missionários hoje. Catequese, caminho para o discipulado. 3ª Semana Brasileira de Catequese. Itaici, SP: Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, 2009.

CNBB. Catequese Renovada. Documento 26. São Paulo: Paulinas, 1983.

______. É hora de mudança! Planejamento pastoral dentro do Projeto RNM. São Paulo: Paulinas, 1998.

______. Diretório Nacional de Catequese. Documento 84. São Paulo: Paulinas, 2006.

DIOCESE de Osasco. Metodologia Fé e Vida caminham juntas na comunidade. Cadernos Catequéticos, n. 9. São Paulo: Paulus, 1998.

KESTERING, Juventino. Elementos de metodologia de uma catequese libertadora. Revista de Catequese. n. 82. 1998, p. 47-52.

PAIVA, Vanildo de. Catequese e liturgia, duas faces do mesmo mistério – Reflexões e sugestões para a interação entre Catequese e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2008. (Coleção Catequese).

PIMENTA, Ivan Teófilo. Linhas metodológicas de uma catequese libertadora. Revista de Catequese. n. 23. 1983, p. 27-35.



sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Flamula Laranja


Olho daqui de cima com a flanela na mão, da janela dos andares desse prédio, dos vidros que serão olhados se eu limpei. É a aparência o que importa! Gostam do esmero exterior. Eu limpo a sujeira deles.

Flanela agitada flamejando velozmente na transparência do vidro. O sol bate forte e alaranjante enquanto esfrego para me livrar de toda a sujeira que impede que eu veja além...O que vejo do outro lado? Vejo no meu reflexo o suor pingar-me qual água pura de bica. Água transformada em vinho, fez meu Jesus. Suor e calor transformados em pão para os filhos, faz a doméstica milagrosa.

 Aquele tecido inquieto, com movimentos tão perfeitos, meticulosamente ordenados são uma verdadeira sinfonia tocada à transparência do vidro. Toda limpeza de vidro é uma orquestra. Toda Faxineira é Maestra. E o som do pano esfregado contra a superfície lisa é canto dia e noite Cinderella que não chora, mas esfrega.

Socorre-me de minha mesquinhez e abana-me tua flamula benta, ó Santas Mulheres!