domingo, 5 de janeiro de 2014

A Epifania a partir dos nomes dos Reis Magos

Epifania significa manifestação. É sabido por muitos de nós que não se tem certeza se os misteriosos reis Magos do Evangelho de hoje eram realmente reis e nem mesmo se eram três. O fato é que a tradição conservou inclusive os seus nomes. E é a partir deles e do evento epifânico do Senhor que pretendo desenvolver essa reflexão.

“Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora” (Is 60,3)

  1. Luz dos Povos
Um dos reis Magos chama-se Melchior que significa rei da luz. De fato, Melchior e seus companheiros se deram conta de um sinal iluminador, uma estrela. É a partir daí que eles empreitam por uma busca, por um caminho rumo a Algo que eles sabem ser maior que esse sinal luz que os orientam, buscam o Rei da Luz (cf. Mt 2,2).  
A vida de todo aquele que busca Cristo é uma constante peregrinação rumo a Ele. É um movimento, um desejo de sair de si e ir ao encontro de algo Maior, do Cristo. Ele também veio ao nosso encontro. Em sua divindade, Ele quis aproximar-se de nós, sendo um de nós, humano e nascido em nosso meio. Aquele que não caminha ao encontro do Cristo que veio, não caminha sob à luz (cf. Is 60, 3). Fato é que, muitas vezes, sentimos que nossa vida caminha como que envolvida em trevas, sob nuvens escuras (cf. Is 60, 2) que são os problemas, as dificuldades e os sofrimentos que o cotidiano da vida nos traz. Como é difícil caminhar nessa hora! A caminhada da vida fica pesada, parece que estamos sós e que não há luz que nos inspire como continuar... Também os reis Magos em certo momento de sua trajetória rumo a Jesus ficaram sem a luz da estrela que os orientavam.
O melhor a fazer nessas horas de escuridão da vida é levantar-se e acender uma luz! (cf. Is 60, 1), que é a fé daquele que caminha, mesmo quando não parece possível caminhar... Olhar ao redor, para os outros que dividem conosco a mesma caminhada e que buscam a mesma felicidade no encontro com Cristo, pode ser que ajude (cf. Is 60, 4-5), nos trará alegria e força para seguir adiante. Olhar para a própria vida e perceber os momentos “luminosos” em que Deus agiu, as várias ocasiões em que a estrela da sua luz iluminou a nossa vida, nos leva a darmo-nos conta de que, de alguma maneira, a estrela do Deus que nos atrai a si, está lá, brilhando para nos guiar. Os reis Magos ao se darem conta de ver de novo a sua estrela-luz guiadora, encheram-se de Alegria (cf. Mt 2, 9-10). O Cristão também é assim, alegre porque caminha com Deus, rumo ao encontro definitivo com Ele. Nossa vida é uma peregrinação de luzes e sombras, mas que não significa, de modo algum, uma caminhada triste ou vazia de sentido.

“Com justiça ele governe o vosso povo” (Sl 72)

  1. O encontro com Cristo transforma a realidade
Outro dos reis Magos é conhecido como Gaspar. Seu nome significa “aquele que guarda os bens de Deus, tesoureiro”.  Esse significado logo nos faz lembrar que Deus, Criador do mundo, o confiou-o a nós, para guardá-lo e cultivá-lo (cf. Gn 2,15). Com o tempo, o homem organizou-se de tal forma que escolheu dentre eles alguns representantes para proteger e reger de forma justa em vista do bem comum. Porém, sabemos por vasta experiência que nem sempre os governantes assumem esse papel e na verdade, passam a pensar em seus próprios interesses. Herodes, por exemplo, no Evangelho de hoje está mal intencionado quanto o nascimento de um menino que está sendo chamado de rei pelos reis Magos (cf. Mt 2, 2-3). Ele é a figura de um governante que usa o poder a ele confiado não para o bem do povo, mas apenas para mante-se no poder. Ele menti e simula suas verdadeiras intenções aos reis Magos, escondendo o seu verdadeiro interesse por trás do seu desejo de “adorar” Jesus (cf. Mt 2, 8).
Entretanto, os reis Magos, após o encontro com Jesus mudam o seu caminho. O encontro com Jesus sempre gera mudança, nunca é um encontro inerte, apático. O encontro com Cristo definitivamente transforma a vida de quem com Ele se encontra. Os reis Magos não compactuam com o projeto de Herodes, eles percebem que estava na hora de um novo caminho (cf. Mt 2, 12).
Estamos em ano de eleições. O rumo que nosso país vai tomar está em muito sob a nossa responsabilidade um vez que vamos escolher os que irão governar. Em uma época em que os primeiros corruptos foram punidos de forma pública pelo mau uso do poder a eles confiado, urge de nossa parte uma atitude concreta que impeça cada vez mais que a corrupção esteja presente no governo por meio dos seus membros. Uma das maiores manifestações que os brasileiros poderão fazer, será diante da urna, na hora de votar.
Que possamos escolher representantes íntegros, de “ficha limpa”, que transpareçam interesse pelas causas comuns da justiça e da paz, em atenção aos mais pobres e indigentes da nossa sociedade (cf. Sl72).

“Os pagãos são admitidos à mesma herança” (Ef 3,6)

  1. Uma Epifania Ecumênica
O último dos reis Magos, segundo a antiga tradição é chamado de Baltazar que tem o seguinte chocante significado: Rei protegido pelo deus Baal.
 Parece um absurdo que, ao que tudo indica, um dos reis Magos que tenha visitado Jesus tenha um nome que em seu significado alude ao deus pagão Baal. Talvez seja algo no mínimo estranho porque o deus Baal é mencionado em uma série de relatos bíblicos, principalmente no Primeiro Testamento em que seu culto e seguidores são combatidos com frequência (cf. Jz 2, 11-16). O fato é que irremediavelmente a tradição afirma que Baltazar estava lá.
De fato, podemos compreender a sua presença justamente como a abertura ao mundo pagão da Boa Nova que é Jesus Cristo. São Paulo na segunda leitura de hoje nos diz que também os de outras religiões “são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3, 6). Essa forma de pensar nos impele para além da ideia de conversão daqueles que não são católicos, para a compreensão de que há outros caminhos e tradições religiosas, umas mais próximas outras nem tanto da nossa forma de pensar e se relacionar com Deus, mas que todas merecem o nosso respeito. Valorizar o que há de bom e conhecer outras confissões religiosas não significa perder a nossa identidade. Tolerância não é deixar-se levar.
Em um mundo plural, ou seja, formado por pessoas que pensam de forma diferente, há algo que nos une. Resta a nós dar maior importância àquilo que é comum entre nós do que aquilo que nos difere. Ser feliz é algo que todo mundo quer. Esse desejo está dentro do coração de todo ser humano. Perceber que não é possível ser feliz sozinho e que o diferente é justamente aquilo que nos enriquece, já é um grande passo.


Que hoje Maria, Mãe de Deus, nos mostre, como mostrou aos Magos (cf. Mt 2, 11) o seu Filho, Luz que transforma o que ilumina!