Há o costume, em muitas
comunidades, de, distribuir pãozinho ou hóstias não consagradas para crianças
que ainda não fizeram Primeira Eucaristia depois das Missas. Não é fácil emitir
um juízo sobre essa prática que em muitos lugares está profundamente enraizada.
As
hóstias não consagradas
Na fila, na hora da comunhão,
os adultos trazem os pequenos que com olhares curiosos, querem também receber
aquilo que os pais ganharam. Como isso é educativo! Esse desejo ainda não
saciado lhes faz muito bem! No entanto, pais ou pessoas da comunidade, vendo
que as crianças querem receber a hóstia, quase que por dó da “pobre criança”
que está passando vontade, ou por um sentimento de inclusão precipitado, acabam
por distribuir as hóstias não consagradas depois da Missa, saciando a
curiosidade e o desejo dos pequenos. Precisamos estar atentos aos problemas que
essa prática pode causar.
O primeiro deles é que
essas crianças, muitas vezes, não fazem ainda a distinção entre hóstias não
consagradas e o pão eucarístico. A diferença ainda não está clara, principalmente
se a criança não estiver inserida em um processo de catequese.
O pequeno quer saber
que gosto tem a hóstia, do que ela é feita, etc. Infelizmente, esquecemos que
catequese e liturgia precisam caminhar juntas. A Eucaristia não é algo que se
entende pelo esforço intelectual e pelas brilhantes explicações dos
catequistas. A Eucaristia é celebração, é Mistério! E Mistério é diferente de
enigma, pois, o enigma quando decifrado, esgota-se. Já o Mistério, por mais
conhecido que seja, sempre permanece Mistério. Eucaristia não é enigma, é
Mistério! Por isso, hoje, se insiste tanto na Catequese Mistagógica.
Ora, o Mistério da
Eucaristia é sobretudo o Corpo e Sangue de Cristo, nas espécies do pão e do vinho.
Portanto, pão e vinho, com todas as suas características de sabores e formas,
integram o Mistério Eucarístico. Sendo assim, quando distribuímos hóstias não
consagradas, estamos abrindo mão de alguns aspectos do Mistério Eucarístico que
lhe são fundamentais: o sabor, a forma e o acesso ao sinal do pão. Seria
reducionismo dizer que a Eucaristia se resume nos sinais do pão, mas igualmente
reducionista seria dizer que ela se resume na explicação ou intelecção da diferença
entre o pão não consagrado e o pão que é Jesus. O mistério Eucarístico comporta
e integra todas essas dimensões, do saber (intelecto) e do sabor (sinal do
pão).
Cultivar
nas crianças o sadio desejo de terem acesso ao pão eucarístico é um estímulo
eficiente para que elas iniciem a catequese com alegria. Pais e comunidade precisam
ser educados para essa prática.
O pãozinho
para as crianças
Em outros lugares,
existe a prática de distribuir pãezinhos para as crianças, já que estas não
podem comungar. Pães bonitos, doces, as vezes repletos de açúcares e outras delícias
que derretem qualquer paladar, especialmente o infantil. Isso torna-se um costume
e os pequenos adoram. Quando fazem a Primeira Eucaristia, passam a ter acesso à
mesa eucarística durante as Missas e percebem que o pão que é Jesus não é
carregado de tantos açúcares quanto o pãozinho que agora é distribuído para os
mais novos.
Em
geral, o pãozinho já é uma saída melhor do que as hóstias não consagradas. Mas,
ainda assim, pode apresentar suas dificuldades. A catequese precisa se
encarregar de esclarecer a diferença entre o pãozinho no fim da Missa e o pão
Sagrado da Eucaristia.
Conclusão
Para terminar, cito o parágrafo
96 da instrução “REDEMPTIONIS SACRAMENTUM”,
sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima
Eucaristia, em que o assunto que aqui discutimos é tratado com clareza:
“Deve ser desaprovado o uso de
distribuir, contrariamente às prescrições dos livros litúrgicos, à maneira de
comunhão, durante a celebração da santa missa ou antes dela, hóstias
não-consagradas ou qualquer outro material comestível ou não. Se em alguns
lugares vigora, por concessão, o costume particular de benzer o pão e
distribuí-lo após a missa, convém fazer com grande cuidado uma correta
catequese sobre tal gesto. Por outro lado, não devem ser introduzidos costumes
semelhantes, nem jamais serem utilizadas para tais hóstias não-consagradas”.