terça-feira, 14 de julho de 2015

É certo dar pãozinho ou hóstias não consagradas para crianças que ainda não fizeram a Primeira Eucaristia?

Há o costume, em muitas comunidades, de, distribuir pãozinho ou hóstias não consagradas para crianças que ainda não fizeram Primeira Eucaristia depois das Missas. Não é fácil emitir um juízo sobre essa prática que em muitos lugares está profundamente enraizada.

As hóstias não consagradas

Na fila, na hora da comunhão, os adultos trazem os pequenos que com olhares curiosos, querem também receber aquilo que os pais ganharam. Como isso é educativo! Esse desejo ainda não saciado lhes faz muito bem! No entanto, pais ou pessoas da comunidade, vendo que as crianças querem receber a hóstia, quase que por dó da “pobre criança” que está passando vontade, ou por um sentimento de inclusão precipitado, acabam por distribuir as hóstias não consagradas depois da Missa, saciando a curiosidade e o desejo dos pequenos. Precisamos estar atentos aos problemas que essa prática pode causar.
O primeiro deles é que essas crianças, muitas vezes, não fazem ainda a distinção entre hóstias não consagradas e o pão eucarístico. A diferença ainda não está clara, principalmente se a criança não estiver inserida em um processo de catequese.
O pequeno quer saber que gosto tem a hóstia, do que ela é feita, etc. Infelizmente, esquecemos que catequese e liturgia precisam caminhar juntas. A Eucaristia não é algo que se entende pelo esforço intelectual e pelas brilhantes explicações dos catequistas. A Eucaristia é celebração, é Mistério! E Mistério é diferente de enigma, pois, o enigma quando decifrado, esgota-se. Já o Mistério, por mais conhecido que seja, sempre permanece Mistério. Eucaristia não é enigma, é Mistério! Por isso, hoje, se insiste tanto na Catequese Mistagógica.
Ora, o Mistério da Eucaristia é sobretudo o Corpo e Sangue de Cristo, nas espécies do pão e do vinho. Portanto, pão e vinho, com todas as suas características de sabores e formas, integram o Mistério Eucarístico. Sendo assim, quando distribuímos hóstias não consagradas, estamos abrindo mão de alguns aspectos do Mistério Eucarístico que lhe são fundamentais: o sabor, a forma e o acesso ao sinal do pão. Seria reducionismo dizer que a Eucaristia se resume nos sinais do pão, mas igualmente reducionista seria dizer que ela se resume na explicação ou intelecção da diferença entre o pão não consagrado e o pão que é Jesus. O mistério Eucarístico comporta e integra todas essas dimensões, do saber (intelecto) e do sabor (sinal do pão).  
            Cultivar nas crianças o sadio desejo de terem acesso ao pão eucarístico é um estímulo eficiente para que elas iniciem a catequese com alegria. Pais e comunidade precisam ser educados para essa prática.

O pãozinho para as crianças

Em outros lugares, existe a prática de distribuir pãezinhos para as crianças, já que estas não podem comungar. Pães bonitos, doces, as vezes repletos de açúcares e outras delícias que derretem qualquer paladar, especialmente o infantil. Isso torna-se um costume e os pequenos adoram. Quando fazem a Primeira Eucaristia, passam a ter acesso à mesa eucarística durante as Missas e percebem que o pão que é Jesus não é carregado de tantos açúcares quanto o pãozinho que agora é distribuído para os mais novos.
            Em geral, o pãozinho já é uma saída melhor do que as hóstias não consagradas. Mas, ainda assim, pode apresentar suas dificuldades. A catequese precisa se encarregar de esclarecer a diferença entre o pãozinho no fim da Missa e o pão Sagrado da Eucaristia.

Conclusão

Para terminar, cito o parágrafo 96 da instrução “REDEMPTIONIS SACRAMENTUM”, sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia, em que o assunto que aqui discutimos é tratado com clareza:


 “Deve ser desaprovado o uso de distribuir, contrariamente às prescrições dos livros litúrgicos, à maneira de comunhão, durante a celebração da santa missa ou antes dela, hóstias não-consagradas ou qualquer outro material comestível ou não. Se em alguns lugares vigora, por concessão, o costume particular de benzer o pão e distribuí-lo após a missa, convém fazer com grande cuidado uma correta catequese sobre tal gesto. Por outro lado, não devem ser introduzidos costumes semelhantes, nem jamais serem utilizadas para tais hóstias não-consagradas”.

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