Texto de
Menkell Rodrigues
João Melo
- 1 A Bíblia é imensamente mais importante do que o Tratado
A Bíblia
é Palavra de Deus! E o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem está fundamentado e repleto de citações e
referencias bíblicas. Não é possível se aprofundar no conhecimento do Tratado sem antes conhecer bem a Bíblia
Sagrada. E mais, São Jerônimo afirma que “ignorar as Escrituras é ignorar a
Cristo”.
Com
efeito, até Bento XVI lamentou na sua catequese sobre a leitura da Bíblia
do dia 3 de agosto de 2011 que, “na realidade, muitos cristãos nunca leram a Bíblia e
tem um conhecimento muito limitado e superficial. [...] Alguns desses livrinhos [que compõem a Bíblia] permanecem
quase que desconhecidos para a maior parte das pessoas, também para bons
cristãos”.
E também o Papa Francisco no Angelus do dia 5 de
março de 2017 ensinou que “é preciso conhecer bem, ler, meditar e assimilar a
Bíblia, pois a Palavra de Deus é sempre ‘atual e eficaz’. [...] O que aconteceria se usássemos a Bíblia como
usamos o nosso celular? Se a levássemos sempre conosco (ou pelo menos um
Evangelho de bolso), o que aconteceria? Se voltássemos quando a esquecemos, se
a abríssemos várias vezes por dia; se lêssemos as mensagens de Deus contidas na
Bíblia como lemos as mensagens em nosso celular, o que aconteceria? É uma comparação
paradoxal, mas faz pensar... [...] Com efeito, se tivéssemos a Palavra de Deus
sempre no coração, nenhuma tentação poderia nos afastar de Deus e nenhum
obstáculo poderia nos desviar no caminho do bem; saberíamos vencer as propostas
do Mal que está dentro e fora de nós; e seríamos mais capazes de viver uma vida
ressuscitada segundo o Espírito, acolhendo e amando nossos irmãos,
especialmente os mais frágeis e carentes, inclusive nossos inimigos”.
O próprio São Luís Maria Grignion de Montfort afirma
que a Bíblia é fonte primeira da fé, quando diz que por ela poderia provar a
devoção que propõe. Ele reconhece a superioridade e autoridade da Bíblia: “Se
eu me dirigisse aos espíritos fortes desta época, tudo isso, que digo
simplesmente, poderia prová-lo pela Sagrada Escritura, pelos Santos
Padres, citando longas passagens em latim e aduzindo os mais fortes argumentos
[...]” (Tratado da Verdadeira Devoção à
Santíssima Virgem, n. 26).
Dito de outra maneira: Antes de ler o Tratado, leia a Bíblia!
- 2 A consagração é a Jesus Cristo por meio de Maria
Se enganam aqueles que
acham que São Luís Maria Grignion de Montfort prega uma consagração feita à
Nossa Senhora. Na verdade, a consagração é feita unicamente a Jesus Cristo - por meio de Maria. O santo autor do Tratado, ao começar sua obra, frisa de
modo direto e explicito o sentido último do método de consagração que ele nos
propõe: “Deus Espírito Santo consentiu que os apóstolos e evangelistas a ela
[Virgem Maria] mal se referissem, e apenas no que fosse necessário para manifestar
Jesus Cristo” (Tratado, n. 4). Como
podemos ver, um horizonte nobre e sutil de devoção à Nossa Senhora é o que
galga São Luis Maria Grignion de Montfort, mantendo-se fiel à pedagogia adotado
pelo próprio Deus de conferir à Maria um papel importante e especial no plano
da Salvação, dispondo dela tanto quanto ela possa colaborar para que fixemos os
olhos no Seu Divino Filho, Jesus Cristo. Uma consagração ideal deve, portanto,
nos ajudar a explicitar sempre mais um ato de união a Jesus Cristo, de modo que
a nossa vida esteja conformada a vida d’Ele.
Quando falamos em ato
de consagração, estamos nos referindo a pessoas que se deixam mover pelo
Espírito Santo a fazer de algum modo presente a forma de vida que Ele, Jesus,
elegeu. Aqui se trata de rever, constantemente, a tônica, o acento dado, devida
e fielmente ao ato de consagração: ter por nossa maior motivação e atração a
Pessoa de Jesus Cristo, seu Evangelho e o Reino por Ele anunciado. Que você
consagrado, possa dizer, de modo claro e convidativo que és consagrado a Jesus
Cristo, porque a vida d’Ele enche de um sentido novo e pleno a sua, “que não é
a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa
caminhar com Ele ou caminhar tateando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou
ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo,
descansar n’Ele ou não o poder fazer. Não é a mesma coisa procurar construir o
mundo com o seu Evangelho em vez de o fazer unicamente com a própria razão.
Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais
fácil encontrar o sentido para cada coisa” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 266).
Maria, no seu venerado
lugar de sutileza, pede-nos, calorosamente, que seja o seu Filho Jesus a pérola
preciosa de toda consagração. É ele a nossa motivação. E Maria é a mãe que
ajuda nesse caminho. O Papa Bento XVI, na oração do Ângelus, proferida em 25 de
março de 2012, recorda toda Igreja: “Amados irmãos, não esqueçais que a
verdadeira devoção à Virgem Maria aproxima-nos sempre de Jesus, e ‘não consiste
numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a
grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa Mãe e a imitar
as suas virtudes’ (Lumen Gentium, n.
67). Amá-La é comprometer-se a escutar o seu Filho; é viver segundo as palavras
do fruto bendito do seu ventre”.
Sempre
buscamos conhecer melhor o Cristo, para melhor amar a Mãe
A parte inicial do
texto, continua a aprofundar a centralidade do método: “Se quiserdes
compreender a Mãe – diz um santo – compreendei o Filho” (Tratado, n. 12). Aqui se evidencia a relação afetiva, tão cara a
todo consagrado/a, com Maria Santíssima, e qual o propósito e o fruto dessa
relação com a Mãe: o conhecimento interno do Filho. Pode ocorrer de alguns
consagrados caírem no reducionismo de pensar que o seu ato de consagração, pelo
método de São Luís, se expresse exclusivamente por práticas de devoção mariana.
Se assim o for, compreenderam erroneamente o destino prático da consagração
feita a Jesus. Há de se dizer sem rodeios, e para o entendimento salutar do
método: o objetivo da consagração é a melhor imitação do modo de proceder de
Jesus Cristo, dando testemunho da Boa Nova por Ele anunciada, confiando no
auxilio materno de intercessão de Maria. Contudo, isso não implica fazer da
vida um apostolado de divulgação sobre Maria e práticas de piedade popular.
O santo autor, no
número 13 do Tratado, assim se
expressa: “meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria,
para demonstrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é
esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser”. São Luís
diz que é algo do coração dele, isto é, enraizado na sua experiência pessoal de
oração, daí que não se pode tomar essa afirmação como sinônimo da autoridade
eclesial. Atrelar como obrigatório o laço afetivo com a Virgem Maria para que
Jesus seja conhecido é um modo maximalista de compreender a colaboração que
Nossa Senhora opera no plano da Salvação. Ela, na sua pessoa e como dom
disposto pelo próprio Deus, é um meio de se aproximar do Messias, mas não se
constitui como caminho único, embora no final da caminhada, inevitavelmente,
poderemos contemplar a comunhão entre o Filho e a Mãe. O magistério da Igreja
sempre reconheceu isso de maneira equilibrada e convicta, cujo posicionamento oficial,
em suma, sempre afirmou que a propagação de toda e qualquer devoção está sempre
associada a finalidade de tornar Jesus Cristo conhecido, porque no fim é Ele
somente o “caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
Todo consagrado, ao ler
a obra de São Luís, certamente sabe da consciência que o santo tem do lugar e
papel da Virgem Maria em relação ao seu Filho e, portanto a Deus e a graça
operante na vida humana e do mundo. Citamos alguns exemplos:
“Confesso com toda a
Igreja que Maria é uma pura criatura saída das mãos do Altíssimo. Comparada,
portanto, à Majestade infinita ela é menos que um átomo, é, antes, um nada,
pois que só ele é ‘Aquele que é’ (Ex 3, 14) e, por conseguinte, este grande
Senhor, sempre independente e bastando-se a si mesmo, não tem nem teve jamais
necessidade da Santíssima Virgem para a realização de suas vontades e a
manifestação de sua glória. Basta-lhe querer para tudo fazer” (Tratado, n. 14).
“Cuidemos, porém, de
não atribuir a essa dependência o menor abaixamento ou imperfeição em Jesus
Cristo. Maria está infinitamente abaixo de seu Filho, que é Deus, e, portanto,
não lhe dá ordens, como uma mãe terrestre as dá a seu filho. Maria, porque está
toda transformada em Deus pela graça e pela glória que, em Deus, transforma
todos os santos, não pede, não quer, não faz a menor coisa contrário à eterna e
imutável vontade de Deus” (Tratado,
n. 27).
- 3 Você provavelmente vai precisar de ajuda para entender o texto do Tratado que tem linguagem medieval
O texto original está
em francês medieval: “Traité de la Vraie
Dévotion a la Sainte Vierge”. Nele abundam as citações latinas, e também
imagens e ideias próprias do tempo em que foi escrito. Um exemplo simples, para
começar: São Luís diz que “Igreja alguma se encontra sem um altar em sua honra
[da Virgem Maria]” (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem, n. 9). Ele diz isso
porque na sua época as igrejas tinham vários altares nas laterais, cada um
dedicado a um santo diferente, onde eram celebradas missas, as vezes ao mesmo
tempo.
Outro exemplo, e bem
mais complicado é a questão da PREDESTINAÇÃO que perpassa vários parágrafos do Tratado (n. 30, 31, 32, 40 etc). Nessas
partes, o Tratado têm uma linguagem
ultrapassada para os dias de hoje. O termo “predestinados” pode causar grande
confusão porque pode-se compreender que alguns de nós já nascemos “pré
destinados” à salvação, enquanto outros “pré destinados” à condenação; E isso
não é verdade. Todo ser humano foi criado na liberdade para escolher abraçar o
amor de Deus ou fechar-se a ele. Daí que não existem predestinados. A Virgem
Maria é Mãe da Misericórdia e ela está em conformidade com a vontade do Pai que
é salvar a todos: “Deus nosso Salvador deseja que todos os homens sejam salvos
e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2,3-4). Deus não criou
alguém para a condenação.
É importante lembrar
que o texto traduz a mentalidade de um outro tempo. O Tratado também apresenta outros problemas mais graves para os
leitores de hoje que estão em plena comunhão com a Igreja e seu Magistério. O
número 30, por exemplo, afirma que “os réprobos, os hereges, os cismáticos,
etc., que odeiam ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Virgem, não
têm Deus por pai, ainda que disto se gloriem, pois não têm Maria por mãe”. E
acrescenta “O sinal mais infalível e indubitável para distinguir um herege, um
cismático, um réprobo, de um predestinado, é que o herege e o réprobo ostentam
desprezo e indiferença pela Santíssima Virgem e buscam por suas palavras e
exemplos, abertamente e às escondidas, às vezes sob belos pretextos, diminuir e
amesquinhar o culto e o amor a Maria”.
Ora, faz tempo que a
Igreja abandonou oficialmente o uso de expressões como “réprobos, hereges,
cismáticos, etc”. Nenhum texto do magistério se utiliza mais dessa linguagem considerada
retrógada e agressiva. O motivo é simples: Ao invés de condenar ou
anatematizar, a Mãe Igreja sabiamente prefere persuadir à retidão da fé
católica pelo anúncio, testemunho e pelo diálogo respeitoso.
Além disso, hoje, já
não é possível afirmar que aqueles que não cultivam particular devoção à Virgem
Santíssima porque pertencem a religiões cristãs que não cultuam Maria, não
tenham Deus por Pai ou estejam privados da salvação em Cristo. Isso é falso! São
João Paulo II, devotíssimo à Virgem Maria, e conhecido apreciador do Tratado, ensina o contrário: “as Igrejas
e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma
estão despojadas de sentido e de significação no mistério da salvação. Pois o
Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de salvação cuja
virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja
Católica” (Carta Encíclica Ut Unum Sint, n. 10). E acrescenta que há
“elementos de santificação e de verdade que, de modo distinto, se encontram e
atuam para além das fronteiras visíveis da Igreja Católica: Muitos há, com
efeito, que têm e prezam a Sagrada Escritura como norma de fé e de vida,
manifestam sincero zelo religioso, crêem
de coração em Deus Pai onipotente e em Cristo, Filho de Deus Salvador, são
marcados pelo Batismo que os une a Cristo e reconhecem e recebem mesmo outros
sacramentos nas suas próprias igrejas ou comunidades eclesiásticas” (Carta
Encíclica Ut Unum Sint, n. 12). Como
poderiam eles crer no Pai onipotente e misericordioso e não terem Deus
verdadeiramente por Pai?
- 4 Os termos “servo (a)” ou “consagrado (a)” de Jesus Cristo por Maria são mais adequados do que “escravo (a)”
O método de consagração
proposto por São Luís Maria Grignion de Montfort é realizado no seio da Igreja
e, portanto, deve estar atento ao que ela nos orienta no tempo presente,
levando em conta a sua atualização pastoral e o discernimento feito por ela
para corresponder à vontade de Deus segundo os sinais dos tempos. Ao abordar
esse assunto, não trilharemos os meandros das subjetividades, ou seja, de
propor uma retórica pautada em opiniões diversas que visam apenas levar os
consagrados numa guerra de seus gostos e desgostos. É preciso que todo
consagrado tenha claro e leve a sério aquilo que a Mãe Igreja nos orienta na
praxe da vida espiritual, não ficando refém de seus achismos, por mais belos e heroicos
que lhes pareçam.
Hoje, a Igreja Católica
vive no mundo inteiro um novo apelo de anúncio chamado “Nova Evangelização”.
Essa discussão é tão importante e de extrema pertinência à vida dos fiéis que
foi tema da XIII Assembleia Geral do
Sínodo dos Bispos no ano de 2012, convocada, na época, por Bento XVI. Desta
Assembleia Sinodal com os Bispos do mundo inteiro, surgiu a Exortação
Apostólica Evangelii Gaudium,
promulgado pelo Santo Padre o papa Francisco, e fala sobre o anúncio do Evangelho
no mundo atual. É nela, portanto, que está contida a nova chave de leitura para
exercer todo e qualquer modo de evangelização no mundo de hoje.
Ao se falar da Nova
Evangelização, um dos critérios de grandíssima relevância é a linguagem
utilizada na comunicação dos bens espirituais às pessoas do nosso tempo. Assim,
diz-nos o Santo Padre neste documento supracitado:
“Ao mesmo tempo, as
enormes e rápidas mudanças culturais exigem que prestemos constante atenção ao
tentar exprimir as verdades de sempre numa linguagem que permita reconhecer a
sua permanente novidade; é que, no depósito da doutrina cristã, «uma coisa é a
substância (...) e outra é a formulação que a reveste». Por vezes, mesmo
ouvindo uma linguagem totalmente ortodoxa, aquilo que os fiéis recebem, devido
à linguagem que eles mesmos utilizam e compreendem, é algo que não corresponde
ao verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. Com a santa intenção de lhes comunicar
a verdade sobre Deus e o ser humano, nalgumas ocasiões, damos-lhes um falso deus
ou um ideal humano que não é verdadeiramente cristão. Deste modo, somos fiéis a
uma formulação, mas não transmitimos a substância. Este é o risco mais grave.
Lembremo-nos de que «a expressão da verdade pode ser multiforme. E a renovação
das formas de expressão torna-se necessária para transmitir ao homem de hoje a
mensagem evangélica no seu significado imutável»” (Evangelii Gaudium, n. 41).
Aqui o Santo Padre, em
comunhão com os Bispos do mundo inteiro – expressando assim o pedido da Igreja
universal – apresenta o apelo de rever as linguagens e expressões que usamos
para transmitir as verdades e práticas da fé e incluída nessa revisão se
encontra também o Tratado e a sua
contingencia temporal – como já visto anteriormente, o Tratado carrega consigo uma lógica de cultura medieval e sua
atualização é imprescindível. Ele não
é uma obra isolada em si mesma e os consagrados hoje precisam pensar na sua
aplicação de forma dialógica com a cultura e o modo de sentir dos seus
contemporâneos.
Muitas pessoas,
comunidades e instituições questionam – com pertinência – o uso do termo
“escravo” como título adotado pelos consagrados ao referissem a si mesmos, por
conta do imediato teor negativo que essa palavra carrega. Essa interpelação
deve ser assumida e respondida em fidelidade ao que a Santa Mãe Igreja nos
ensina a respeito da sensibilidade com o povo de Deus. Quanto a isso, tomemos
três considerações sobre o uso deste adjetivo:
Primeira
consideração: a conotação histórica
Tomemos como exemplo a
oração que foi tema jubilar do Ano Mariano, pelos 300 anos de achado da imagem
da Mãe Aparecida, num dos seus trechos assim reza: “Como sinal vindo do céu, em
vossa cor, vós nos dizei para o Pai não existem escravos, apenas filhos muito
amados. Diante de vós, embaixadora de Deus, rompem-se as correntes da
escravidão!”. Aqui se revela, pela inspiração do Espírito Santo, a
sensibilidade que se tem pela realidade histórica de nosso país, que sofreu por
séculos o drama vergonhoso da escravidão da população negra. Isso não é um
detalhe a ser ignorado ou relativizado. Veja, consagrado, o termo “escravo” tem
um significado novo e ignóbil, determinante em como as pessoas fazem a sua
experiência de Deus. Não cabe mais propor ao povo de Deus que eles se sintam
tratados por Deus como escravos seus (cf. Jo 15,15).
Segunda
consideração: a conotação afetiva
Se por um lado
temos a conotação histórica apontando-nos a necessidade de abandonar o uso do
termo “escravo”, por outro corrobora o abandono deste título a oportunidade de
crescer na afeição por Deus e Nossa Senhora com o uso de uma linguagem mais
bela e dotada de ternura e amorosidade, valendo-se de outros termos, que vão
mais ao centro do Evangelho. Trata-se de pôr em evidência, com sentimentos
salutares e inspiradores, a relação que o Criador procura estabelecer com as
suas criaturas. Disto, toma nota o papa Francisco, ao declarar que “a
identidade cristã, que é aquele abraço batismal que o Pai nos deu em
pequeninos, faz-nos anelar, como filhos pródigos – e prediletos em Maria –,
pelo outro abraço, o do Pai misericordioso que nos espera na glória. Fazer com
que o nosso povo se sinta, de certo modo, no meio destes dois abraços é a
tarefa difícil, mas bela, de quem prega o Evangelho” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 144). É tarefa de
todo o católico, sobretudo os consagrados, prestarem atenção em como
proporcionarão ao povo de Deus essa experiência de docilidade e carinho para
qual o Senhor nos convida. Logo, expressa muito mais fielmente toda a
amabilidade de Deus o adjetivo de “consagrado” (por toda a riqueza evangélica que
esse ato possui, como já exposto aqui) ou mesmo, simples e carinhosamente, de “servos”
ou “filhos”.
São Luís, num
determinado trecho do Tratado, faz notar como o emprego das palavras fazem
diferença na hora de determinar a nossa relação com a realidade espiritual: “Deus
não pôs somente inimizade, mas inimizades, e não somente entre Maria
e o demônio, mas também entre a posteridade da Santíssima Virgem e a
posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabeleceu inimizades, antipatias e
ódios secretos entre os verdadeiros filhos
e servos da Santíssima Virgem e os filhos
e escravos do demônio” (Tratado,
n. 54). Na bondade de Deus e na candura da Mãe Maria, cabe melhor utilizarmos
palavras como “filhos”, “servos” e “consagrados”. A escravidão e toda a sua
opressão melhor dizem respeito ao dialeto do demônio.
Terceira consideração: a conotação espiritual
Há quem possa
aludir às palavras do santo quando assim o diz: “A diferença entre um servo e
um escravo é total: 1º Um servo não dá a seu patrão tudo o que é, tudo o que
possui ou pode adquirir por outrem ou por si mesmo; mas um escravo se dá
integralmente a seu senhor, com tudo o que possui ou possa adquirir, sem
nenhuma exceção; 2º O servo exige salário pelos serviços que presta a seu
patrão; o escravo, porém, nada pode exigir, seja qual for a assiduidade, a
habilidade, a força que empregue no trabalho; 3º O servo pode deixar o patrão
quando quiser, ou ao menos quando expirar o tempo de serviço, mas o escravo não
tem esse direito; 4º O patrão não tem sobre o servo direito algum de vida e de
morte, de modo que, se o matasse como mata um se seus animais de carga,
cometeria um homicídio; mas, pelas leis, o senhor tem sobre o escravo o poder
de vida e morte; de modo que pode vendê-lo a quem o quiser ou matá-lo, como,
sem comparação, o faria a seu cavalo” (Tratado,
n. 71). Quanto a isso, como já discutimos anteriormente, São Luis Maria
Grignion de Montfort expressa a sua experiência pessoal a partir de seu
contexto cultural, muito próprio da Idade Média, cuja linguagem e concepção
religiosa avançaram e foram superadas, à medida que a Igreja, guiada sempre
pelo Espírito Santo, discerniu o seu modo de ditar as verdades de sempre. A
nossa submissão à vontade do Senhor não necessita desses extremos para ser
reconhecida como autêntica e frutífera.
- 5 Existem várias formas de consagração devocional a Maria
Popularizou-se chamar o
método indicado no Tratado de “Consagração
total à Nossa Senhora”. Essa afirmação, além de equivocada, carrega consigo
certa presunção ou – ainda que não intencionalmente – parece ignorar a igual
validade e preciosidade de outras formas de entrega e devoção à Nossa Senhora. É
indubitável afirmar que o método de Consagração pelo método do Tratado NÃO É A ÚNICA OU MELHOR MANEIRA
DE EXPRESSAR AMOR A JESUS CRISTO E À NOSSA SENHORA, é mais um entre muitos
outros modos dispostos na Igreja para viver essa prática.
São Francisco de Sales,
Bispo, no século XVII, já nos ajudava a desenvolver bem essa consciência, ao
refletir:
“Na criação, Deus Criador mandou às plantas que cada uma produzisse
fruto conforme sua espécie. Do mesmo modo, ele ordenou aos cristãos, plantas
vivas de sua Igreja, que produzissem frutos de devoção, cada qual de acordo com
sua categoria, estado e vocação. A
devoção pode e deve ser praticada de modos diferentes pelo nobre e pelo
operário, pelo servo e pelo príncipe, pela viúva, pela solteira ou pela casada.
E isto ainda não basta. A prática da
devoção deve adaptar-se às forças, aos trabalhos e aos deveres particulares de
cada um [...] A devoção quando é verdadeira não prejudica a ninguém; pelo
contrário, tudo aperfeiçoa e consuma” (Da Introdução à Vida Devota, de
São Francisco de Sales, bispo. Pars 1, cap. 3 - Séc.XVII).
Toda forma de
consagração ou devoção, quando vivida de modo sincero e na profundidade da fé
tem seu valor reconhecido e não segue uma mensuração possível de ser
determinada, logo não podemos afirmar que existem consagrações totais ou
parciais, ou devoções maiores ou menores, essa terminologia é errada e deve ser
abandonada. O próprio Santo Padre, reconhece o tesouro espiritual e mesmo
teológico presente nas mais diversas e simples expressões devocionais, quando
assim relata “penso na fé firme das mães ao pé da cama do filho doente, que se
agarram a um terço ainda que não saibam elencar os artigos do Credo; ou na
carga imensa de esperança contida numa vela que se acende, numa casa humilde,
para pedir ajuda a Maria, ou nos olhares de profundo amor a Cristo crucificado”
(Francisco, Evangelii Gaudium, n.
125).
- 6 São Montfort não fala nada sobre usar véus, saias, ou outros roupas específicas
De modo alarmante,
notamos entre os consagrados que seguem as orientações do Tratado uma atenção radicalizada dada a sinais exteriores e muitos
deles acabam assumindo para si o uso quase obrigatório de determinadas
vestimentas, como se estas fossem previstas e ditadas para a vivência da
consagração. São Luís Maria Grignion de Montfort de modo algum faz tamanha
especificação. Isto são invenções que surgiram depois e que, inclusive, sofrem
críticas severas do próprio autor, tendo ele se referido a eles como “devotos
exteriores”. No número 96 da sua obra, ele então apregoa: “devotos exteriores são as pessoas que
fazem consistir toda a devoção à Santíssima Virgem em práticas exteriores; que
só tomam interesse pela exterioridade da devoção à Santíssima Virgem, por não
terem espírito interior; que recitarão às pressas uma enfiada de terços, ouvirão,
sem atenção, uma infinidade de missas, acompanharão as procissões sem devoção,
farão parte de todas as confrarias sem emendar de vida, sem violentar suas paixões,
sem imitar as virtudes desta Virgem Santíssima. Amam apenas o que há de sensível
na devoção, sem interesse pela parte sólida. Se suas práticas não lhes afetam a
sensibilidade, acham que não há nada mais a fazer, ficam desorientados, ou
fazem tudo desordenadamente. O mundo está cheio dessa espécie de devotos
exteriores e não há gente que mais critique as pessoas de oração que se dedicam
à devoção interior sem desprezar o exterior de modéstia, que acompanha sempre a
verdadeira devoção”. A verdadeira devoção à Virgem Maria é, portanto, assumida
dentro do nosso mundo interior e tamanha acuidade por uma aparência devotada através
de sinais como véus, saias ou quaisquer outras peças e/ou acessórios revela bem
mais uma obsessão por reconhecimento exterior do que uma devoção honesta. Por
via das dúvidas, evite tamanha tentação, prefira a interioridade.
- 7 O Tratado sugere outros símbolos de consagração diferentes da “correntinha”
Correntes
enormes e chamativas são contrárias à orientação de São Luís Maria Grignion de Montfort. No número 116 do Tratado, ele sugere como prática exterior - portanto não trata-se
da parte mais importante da consagração -
o uso de um sinal exterior (insígnia) que pode ser o santo rosário ou o
terço, o escapulário ou uma “Chaînette”, isto é, uma “cadeiazinha”... assim
mesmo, no diminutivo. Entenda-se aqui uma pulseira de corrente de metal PEQUENA
cujo uso ele vai justificar no número 238. Veja que ele sugere em primeiro lugar o uso do
terço, depois do escapulário e só por último sugere o uso de uma “correntinha”.
Isso é bem diferente desses correntões que tornam-se ostentações para ganhar
atenção e status religioso. São Luís
Maria Grignion de Montfort ensina que “toda a sua vida Maria permaneceu
oculta; por isso o Espírito Santo e a Igreja a chamam Alma Mater – Mãe
escondida e secreta. Tão profunda era a sua humildade, que, para ela, o
atrativo mais poderoso, mais constante era esconder-se de si mesma e de toda
criatura, para ser conhecida somente de Deus” (Tratado, n. 2). Por que, então, o consagrado deve “aparecer” tanto
com o uso de uma corrente ostentativa?
- 8 Todo católico deve seguir o que o Magistério da Igreja ensina sobre Aparições e Revelações particulares de Maria, inclusive as citadas no Tratado
Nenhum católico é obrigado a crer em aparições e
revelações particulares de Nossa Senhora ou dos santos porque elas não revelam
conteúdos da fé católica. Aparições como a ocorrida em Fátima servem apenas
para relembrar algum aspecto da Revelação dada e concluída em sua plenitude em Jesus
Cristo – chamada também de revelação pública. Quem nos explica isso é o papa
emérito Bento XVI, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, quando fala do conceito de “revelação privada ou particular”, que
se aplica a todas as visões e revelações verificadas depois da conclusão do
Novo Testamento.
Ele diz que “a
autoridade das revelações privadas é essencialmente diversa da única revelação
pública: esta exige a nossa fé”. E acrescenta: “A revelação privada é um
auxílio para esta fé, e manifesta-se credível precisamente porque faz apelo à
única revelação pública. [...] A tais revelações [privadas e] aprovadas NÃO é
devida uma adesão de fé católica; nem isso é possível. Estas revelações
requerem, antes, uma adesão de fé humana ditada pelas regras da prudência, que
no-las apresentam como prováveis e religiosamente credíveis ». [...]Tal
mensagem [da revelação privada] pode ser um válido auxílio para compreender e
viver melhor o Evangelho na hora atual; por isso, não se deve transcurar. É uma
ajuda que é oferecida, MAS NÃO É OBRIGATÓRIO FAZER USO DELA. Assim, o
critério para medir a verdade e o valor duma revelação privada é a sua
orientação para o próprio Cristo. Quando se afasta d'Ele, quando se torna autônoma
ou até se faz passar por outro desígnio de salvação, melhor e mais importante
que o Evangelho, então ela certamente não provém do Espírito Santo, que nos
guia no âmbito do Evangelho e não fora dele” (Congregação para a
Doutrina da Fé, A Mensagem de Fátima). Daí que devemos estar atentos se certas revelações
particulares/privadas de Nossa Senhora estão verdadeiramente nos orientando
para o centro da vida cristã: Jesus Cristo.
Dito de maneira
simples: Todo consagrado precisa saber que a única e necessária Revelação se
deu na encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
- 9 A expressão “Reino de Maria” só pode ser admitida no espírito do Tratado, isto é, se entendermos que esse Reino não é outro que não o Reino de Deus
Não existem dois reinos, um de
Maria e outro de seu Filho. Há um único reino, o reino de Deus. Com efeito, “o
Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz,
e alegria no
Espírito Santo” (Rm 14,17). O Reino de Deus, o reino de Cristo se torna
realidade na medida em que vivemos a justiça, a paz e a alegria no Espírito
Santo. Nós participamos e construímos o Reino cada vez que praticamos e lutamos
para que a justiça reine entre nós, cada vez que encorajamos a paz entre os
povos, nas famílias e entre as pessoas, e cada vez que a alegria do Evangelho
pulsa em nossos corações como dom do Espírito Santo. É assim que o Reino de
Deus, o reino de Cristo se faz presente. Maria Santíssima, por colaborar com o
projeto de Deus de vida em abundância para todos, projeto de salvação levado a
cabo por Jesus Cristo, projeto esse em que Ela, solidária ao seu povo pobre e
sofredor, sedento e esfomeado de justiça
(cf. Mt 5,6), gerou o Príncipe da Paz (Is
9,6) e, cheia de graça, alegrou-se, trazendo a nós a causa
de nossa alegria” (cf. Lc 1,28) é
também participante desse Reino de Deus. Justiça,
paz e alegria: nisso consiste o Reino de Deus (cf. Rm 14,17). Maria é
participante desse Reino, por isso ele também é dela. Diz São Luís Maria Grignion de Montfort que “quando,
portanto, e é certo, o conhecimento e o reino de Jesus Cristo tomarem o mundo,
será uma consequência necessária do conhecimento e do reino da Santíssima
Virgem Maria” (Tratado, n. 13). E
acrescenta sem nunca dar a ideia que existiriam dois reinos: “Maria é a Rainha
do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o rei por natureza e conquista.
Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o
interior do homem, conforme a palavra: ‘O reino de Deus está no meio de vós’
(Lc 17,21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do
homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que ela é mais
glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos
chamá-la com os santos a Rainha dos corações” (Tratado, n. 38).
O Reino é de Deus, mas
por participação também é reino de Maria, e reino de cada um de nós que
colabora em sua construção. O reino é nosso.
10 - O Tratado é um livro de espiritualidade popular
O Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria, embora
traga uma certa pomposidade e ares de autoridade (o que é muito próprio das
publicações da era medieval), não se constitui como um documento do Magistério
da Igreja, cabendo-lhe, logo, ao seu devido lugar: um livro de espiritualidade
popular, para a leitura dos fiéis conforme os ajude no seu crescimento
espiritual e vivência do Evangelho, mas não podendo ser assumido, no seu
conteúdo, como verdade de fé ou orientador pastoral que determine o modo de
pensar e agir dos cristãos católicos – ainda mais nos dias de hoje – muito menos acrescenta qualquer concepção nova
e absoluta sobre as temáticas espirituais, sobretudo no que diz respeito à
Virgem Maria. Este devotado Santo tem consciência disso e deixa clara a
intenção e o valor de seus escritos:
“Falo, porém, aos
pobres e aos simples que, por serem de boa vontade e terem mais fé que a maior
parte dos sábios, creem com mais simplicidade e mérito, e, portanto,
contento-me de lhes simplesmente a verdade, sem me preocupar em citar todos os
textos latinos, embora mencione alguns, mas sem os rebuscar muito. Continuemos”
(Tratado, n. 26).
Portanto, caro
consagrado, na ordem de referência que você deve assumir como importante e
válida a ser seguida para aprofundar sua devoção está, primeiro, a Bíblia e
Tradição da Igreja, bem como a sua milenar orientação magisterial presente em
inúmeros documentos promulgados por ela, os quais seguem um contínuo
discernimento segundo os sinais dos tempos. A luz desse arcabouço – e jamais
fora dele ou parcial a ele – devemos ler as obras dos Santos, incluído aí o
legado de São Luís.
11 - A consagração pelo Tratado não é sinônimo de salvação
garantida
Queremos retomar o que
foi exposto no item 3 deste artigo, ao reconhecer a inflexão de linguagem e
mentalidade necessária para Tratado nos
tempos de hoje. O Santo, fiel à linha teológica da época, afirmou no seu livro
inúmeras vez o atrelado absoluto entre Salvação e devoção à Virgem Maria. Alguns
exemplos a saber:
“A devoção à
santa Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem a Salvação” (n.
39); “Se a devoção à Virgem Santíssima é necessária a todos os homens para
conseguirem simplesmente a salvação” (n. 43).
Estes trechos podem levar você, consagrado, a
acreditar que, ao adotar este método de consagração, sua salvação está
garantida – garantida pela intercessão da Virgem Maria. Não caía nesse fatal
erro. Isso é uma pretensão conferida à Nossa Senhora que não corresponde à
Verdade do Evangelho nem ao ensinamento da Igreja, embora, por piedade popular,
essa intuição está presente em muitas obras devocionais. Assim como não se pode
afirmar que nas demais formas de confissões cristãs, em que não existe uma
devotada veneração à Virgem Maria, a graça da Salvação lhes está privada, do
mesmo modo não podemos dizer que a prática da devoção mariana possa ser
sinônimo de salvação pessoal.
12 - Os consagrados não são “mais” cristãos ou cristãos “melhores” do que os
não-consagrados
A ilusão de superioridade em
relação aos outros, a hipocrisia, o farisaísmo e
a arrogância fazem parte do coração e das atitudes daqueles
que acham que a consagração pelo método do Tratado os faz mais
santos, cristãos melhores ou mais autênticos do que os outros. Erram feio
cultivando um modo de ser nada cristão: a soberba. São Luís Maria
Grignion de Montfort chama de presunçosos esses devotos que
“sob o belo nome de cristãos e devotos da Santíssima Virgem, escondem ou o
orgulho, ou a avareza, ou a impureza, ou a embriaguez, ou a cólera, ou a
blasfêmia, ou a maledicência, ou a injustiça, etc.; que dormem placidamente em
seus maus hábitos, sem violentar-se muito para se corrigir, alegando que são
devotos da Virgem; que prometem a si mesmos que Deus lhes perdoará, que não hão
de morrer sem confissão, e não serão condenados porque recitam seu terço,
jejuam aos sábados, pertencem à confraria do santo Rosário ou do Escapulário,
ou a alguma congregação; porque trazem consigo o pequeno hábito ou a
cadeiazinha da Santíssima Virgem, etc.” (Tratado, n. 97).
De fato, a soberba é
exatamente o oposto da humildade. Aliás, a origem da palavra humildade é
“húmus”, isto é, aquilo que se acha na terra, pó (cf. Gn 2,7; 3,19). O humilde
é aquele que reconhece o seu “nada”, embora seja a mais bela obra da Criação de
Deus porque criado à Sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26). Maria Santíssima é
exemplo de humildade sincera (cf. Lc 1,38). Adão e Eva, acometidos pela
soberba, quiseram “ser como deuses” (cf. Gn 3,5). Vaidade. Jesus,
por outro lado, humilhou-se até a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,7-8). Todo e
qualquer cristão chamado ao seguimento de Jesus é convidado a configurar-se com
Ele. Jesus ensina: “Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se
humilhar será exaltado” (cf. Mt 23,12).
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