Na matéria desta edição, vamos
mostrar porque caridade e catequese são inseparáveis. A Catequese é educação da
fé comprometida com a realidade. Isso significa que ela é também educação da fé
para o serviço, para o amor ao próximo e para a caridade. Para isso, queremos
olhar para dois grandes exemplos inspiradores: São Francisco de Assis e Madre
Teresa de Calcutá. Além disso, também partilhamos algumas orientações e
sugestões de como desenvolver a dimensão caritativa da catequese. A fé cresce e amadurece quando se tornar exercício de
caridade.
COMPROMISSO A PARTIR
DO NOVO MANDAMENTO DO AMOR (Jo 13, 34-35)
Muitas paróquias enfeitam os
tapetes da procissão eucarística de Corpus
Christi com roupas, cobertores e até mesmo alimentos. Em uma dessas
paróquias, uma criança perguntou para a catequista porque estavam usando roupas
no tapete daquele ano. A resposta estava na ponta da língua: “Nós vamos
distribuir depois para os pobres, pelo serviço da caridade!”. Mesmo que não
saiba o significado da palavra caridade, certamente aquela criança entendeu que
aquelas roupas seriam dadas para quem mais precisa. A experiência já lhe proporcionou
uma noção do que é caridade.
No linguajar popular, caridade é o
mesmo que “fazer algo de bom para alguém”, dar esmolas ou assistência. É
verdade que essas coisas têm a ver com a prática da caridade, mas não definem
tudo o que essa palavra significa, ela é mais do que isso. Caridade é o mesmo que amor ágape,
isto é, o amor que se doa. A caridade está radicada em um ponto central
da fé cristã, o Novo Mandamento de Jesus “Amai-vos uns aos outros como eu vos
amei” (cf. Jo 13, 34-35; 15, 12-17). Então, é certo dizer que caridade e amor são
sinônimos? Mais ou menos... A palavra amor é outra que anda desgastada e mal
compreendida. Bento XVI falou sobre essa dificuldade logo no início da sua
primeira carta encíclica “Deus caritas
est – Deus é amor”, vale a pena conferir: http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html
O cardeal
Robert Sarah, presidente do Conselho Pontifício Cor Unum, órgão da Cúria Romana responsável
pelas obras de caridade, assim explica a diferença: "Amor não é o mesmo que caridade. O termo 'amor'
já existia antes de Cristo, mas Ele nos ensinou o ápice do amor, que é
precisamente a caridade, ou seja, entregar-se pelo
outro". http://www.aleteia.org/pt/estilo-de-vida/artigo/qual-e-a-diferenca-entre-amor-e-caridade-6382303014027264
Existem outros tipos de amor, como
o amor entre um homem e uma mulher, ou seja, o amor entre os amantes (eros) e o amor entre os amigos (philia). O amor gratuito,
desinteressado, o “amor sem olhar a quem”, é o amor ágape, o amor-caridade. Dessa forma, muitas vezes, as palavras amor
e caridade são entendidas como sinônimos, veja no YouCat e no Catecismo da
Igreja Católica:
O
amor é a força com que nos entregamos a Deus, que nos amou primeiro, para nos
unirmos a Ele e assim acolhermos os outros como a nós mesmos, por amor a Deus,
sem reservas e com o coração. (Youcat,
n. 309)
A
caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas,
por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Jesus fez
da caridade o novo mandamento (cf. Jo 13,34). Amando os seus “até o fim” (Jo
13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos
imitam o amor de Jesus que eles também recebem. (Catecismo n. 1822-1823).
Caridade é... ...amar gratuitamente
e sem distinção ao próximo pelo amor a Deus
A prática da caridade
é... ... a expressão do
amor cristão ao próximo
Exemplos:
Colocar-se a serviço, dar esmolas ou assistência, lutar contra as injustiças
sociais, etc.
A CATEQUESE POSSUI
UMA DIMENSÃO CARITATIVA
Há uma relação indispensável entre a
educação da fé e o testemunho da caridade. A
separação entre catequese e a
prática da caridade resulta em uma catequese fria e distante da vida. “A catequese assume especial valor
educativo quando é ligada ao exercício da caridade, que oferece um fomento
válido para que se acolha e se traduza em prática a visão cristã das realidades
sociais, econômicas, políticas e culturais” (proposta 4 do Sínodo de 1977 sobre
a Catequese).
Dessa forma, torna-se
importante uma saudável integração entre
movimentos e pastorais “sociais” e as outras pastorais da comunidade. O testemunho da caridade
não é tarefa de alguns membros de pastorais específicas, mas é tarefa de toda a
comunidade eclesial. Os que fazem esses trabalhos precisam encontrar apoio em
toda a comunidade. Os catequistas estabelecem pontes entre essas pastorais para
engajar e envolver os iniciandos na prática caritativa que a comunidade
realiza. Essas experiências não são somente catequéticas, como também indispensáveis
para a iniciação à vida cristã. Com efeito, “a Igreja não aceita
circunscrever a própria missão exclusivamente ao campo religioso,
desinteressando-se dos problemas temporais do homem” (Paulo VI, Evangelii Nuntiandi n. 34). Mais. A autenticidade da adesão à mensagem de Jesus e a
centralidade do mandamento do amor ao próximo se verifica na prática da
caridade.
“A caridade é uma forma muito preciosa de
fazer Deus acontecer na sociedade” Padre Fábio de Melo – Uma reflexão muito
adulta sobre Mt 25, 31-45: https://www.youtube.com/watch?v=flnZv4Gxw6A “A importância da Caridade,
programa Direção Espiritual”.
Na verdade, não basta falar e ensinar
a doutrina, é preciso vivê-la, ou seja, iniciar à prática dos valores
aprendidos! Diz Bento XVI: “Só a minha disponibilidade para ir ao
encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante
de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus
faz por mim e para o modo como Ele me ama. Os Santos — pensemos, por exemplo,
na Beata Teresa de Calcutá —
hauriram a sua capacidade de amar o próximo, de modo sempre renovado, do seu
encontro com o Senhor eucarístico e, vice-versa, este encontro ganhou o seu
realismo e profundidade precisamente no serviço deles aos outros. Amor a Deus e
amor ao próximo são inseparáveis, constituem um único mandamento” (Deus caritas est – Deus é amor n.18).
“Não adianta ir à Igreja e fazer tudo errado!”,
dirá o trecho de uma música de Fernando Mendes. Ninguém é obrigado a ter fé ou
aderir à proposta de Jesus Cristo. Mas uma vez feito isso, a cristã e o cristão
precisam revisar e adequar suas vidas, sempre mais, aos princípios e ao estilo
de vida de Jesus. As palavras de ordem são coerência
e testemunho de vida, ainda mais
indispensáveis se propõem-se a iniciar outros no caminho de Jesus, como
catequistas.
De fato, o catequista é sensível aos
problemas sociais e políticos. Quando algo de comoção acontece no bairro, na
cidade, no país ou mesmo em nível mundial, ele interrompe o cronograma para
tratar do assunto à luz da fé. Veja no quadro comparativo a seguir como é, e
como não deve ser o estilo de vida do catequista:
Sua
vida pessoal não dá testemunho da fé que professa
|
Evangeliza
pelas palavras, mas também pelo testemunho
|
Desconhece
a Doutrina Social da Igreja
|
Conhece
minimamente a Doutrina Social da Igreja
|
Desinteresse
pelos pobres e excluídos
|
Abraça
junto com a Igreja a opção preferencial pelos pobres
|
Esquecimento
da dimensão social da fé (Novo Mandamento de Jesus - Jo 13, 34-35)
|
Empenho
em superar a dicotomia entre fé e vida (Centralidade do Mandamento do Amor ao
próximo – Jo 13, 34-35)
|
Adesão
a experiências espiritualistas interessadas na aquisição de bens e “graças”
pessoais, mas não pensa nos outros
|
Compromisso
com os valores do Reino – justiça amor e paz – para todos, a partir da
experiência amorosa de Deus (cf. 1Jo 4, 8)
|
É bem verdade que a Igreja existe
para evangelizar, no entanto, o cristão não é um alienado da realidade em que
está inserido. O amor a Deus não é verdadeiro se não é traduzido no amor aos
irmãos. No entanto, o outro extremo também é perigoso: transformar a catequese
somente em um grupo ativista de causas sociais. Uma atitude equilibrada é a
melhor maneira de conduzir as coisas. A catequese é sobretudo educação da fé,
mas isso não deve excluir a vivência e a promoção da prática da caridade.
“De tudo isto resulta a
importância na catequese, das exigências morais e pessoais em correspondência
com o Evangelho, e das atitudes cristãs frente à vida e frente ao mundo, quer
sejam heroicas quer sejam muito simples (...). Daqui também o cuidado que se há
de ter na catequese em não omitir, mas sim esclarecer como convém, no constante
esforço de educação da fé, realidades como a ação do homem para sua libertação
integral, o empenho na busca de uma sociedade mais solidária e mais fraternal e
as lutas pela justiça e pela construção da paz” (São João Paulo II, Catechesi Tradendae n. 29)
FRANCISCO DE ASSIS E
TERESA DE CALCUTÁ: MODELOS DE SERVIÇO E AMOR AO PRÓXIMO
Mais de 700 anos separam as vidas
de São Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá. O primeiro viveu entre
os pobres e indigentes na Itália medieval. Madre Teresa atuou a maior parte de
sua vida nas periferias de Calcutá, cidade da Índia. Ambos, Teresa e Francisco,
têm algo de muito especial em comum: demostraram de forma sublime seu amor a
Deus amando o próximo, especialmente os mais pobres. Eles entenderam que a caridade
não é simples assistencialismo. Não é o exercício de somente responder as
necessidades reais e imediatas das pessoas, sem pensar nas causas estruturais e
sociais das situações de indigência.
Conta-se que, certa vez, Francisco
estava rezando em uma pequena capela dedicada a São Damião, semidestruída pelo
abandono. Estava ajoelhado em oração aos pés de um crucifixo, em profunda
meditação, quando uma voz, saída do crucifixo, lhe falou: “Francisco, vai e
reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”. Francisco, então, foi e reformou
toda a capelinha. Mas, aos poucos, compreendeu que a reforma a que era chamado,
era algo muito maior...tratava-se de reconduzir as estruturas da Igreja aos
valores evangélicos, corrigindo as incoerências de muitos clérigos e fiéis de
seu tempo que eram indiferentes ao sofrimento dos mais pobres e doentes.
Desenho animado Católico: Francisco: o Cavaleiro de Assis (São
Francisco de Assis):
https://www.youtube.com/watch?v=Oyl_K4wUa4w
Francisco
decidiu tornar-se um pregador itinerante, percorrendo as localidades vizinhas e
pregando, em palavras simples, o Evangelho de Cristo. Não demorou muito e
juntaram-se a ele vários seguidores, tocados pelo seu jeito simples,
desapegado, pobre e livre de viver. Acredita-se que ele não tinha a mínima
intenção de fundar uma comunidade. Mas, assim como nos Atos dos Apóstolos, os
seguidores de Francisco tinham tudo em comum (cf. At 2, 43-47) e a comunidade
cresceu ao ponto de tornar-se uma ordem religiosa que até hoje inspira novos
carismas à Igreja. Pensando nisso, qual mensagem o papa Bergoglio quis nos
transmitir quando escolheu para si o nome de Francisco?
A caridade não
se restringe somente para os que fazem parte da Igreja, é serviço para o mundo, para todas as pessoas, “sem
discriminações raciais, sociais ou religiosas” (Ad gentes n. 12). Madre Teresa entendia bem disso. Nas periferias
de Calcutá, ela atendia hindus, mulçumanos, cristãos...sem distinção!
Um dia, um jornalista
estrangeiro visitou Madre Teresa em Calcutá e lhe pediu permissão para
acompanha-la por uma jornada em sua andança e ação pela cidade. Madre Teresa
aceitou e juntos começaram a percorrer as ruas. Num dado momento, encontraram
um homem esfarrapado e sujo, deitado no meio de um monte de lixo. Madre Teresa
e o jornalista se aproximaram. O pobre jogado ali parecia muito doente, de todo
desnutrido, pele e osso, misturado aos detritos. Madre Teresa tomou-o nos
braços e conseguiu erguê-lo, de tão magro que estava o pobre. O jornalista,
perplexo, não sabia o que fazer. Madre Teresa simplesmente começou a caminhar,
carregando o homem. Chegando a casa, deitou-o numa cama limpa. O jornalista,
que registrou o fato, disse, depois, que o homem olhava com imensa gratidão
para a Madre. Talvez ele nunca tivesse tido uma cama para se deitar. Sem dizer
uma palavra, o pobre deu um grande sorriso para Madre Teresa e morreu ali.
Atordoado com a rapidez com que tudo ocorrera e diante da ação da Madre, o jornalista
disse-lhe: “Madre, por nenhum ouro deste mundo eu teria feito o que a senhora
fez”. E ela respondeu, rápida: “E eu também não!”. Não há dinheiro no mundo que
pague o amor-caridade, movido pela certeza de fazer o bem.
https://www.youtube.com/watch?v=vV6t1n8gWak Madre Teresa – O filme
Para saber mais sobre a vida da Beata
Teresa de Calcutá: http://www.motherteresa.org/portu/layout.html
Mesmo diante da grande correria dos
afazeres do dia-a-dia, os momentos de oração diários não ficavam em segundo
plano. Madre Teresa nunca descuidou de sua vida de oração e alertava sua
comunidade para fazer o mesmo. Com efeito, “quem reza não desperdiça o seu
tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma
emergência e parece impelir unicamente para a ação. A piedade não afrouxa a
luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo. A Beata Teresa de
Calcutá é um exemplo evidentíssimo do fato que o tempo dedicado a Deus na
oração não só não lesa a eficácia nem a operosidade do amor ao próximo, mas é
realmente a sua fonte inexaurível. Na sua carta para a Quaresma de 1996, esta
Beata escrevia aos seus colaboradores leigos: « Nós precisamos desta união
íntima com Deus na nossa vida quotidiana. E como poderemos obtê-la? Através da
oração »” (Bento XVI, Deus caritas est – Deus é amor n. 36).
Caridade
entre os mais pobres dos pobres...
esse é o carisma de Teresa de Calcutá e de sua congregação. Estamos falando de
algo que, sobretudo aqui na América Latina, chamamos de opção ou amor preferencial pelos pobres. Quem explica é São João Paulo II: “Trata-se de uma opção, ou de uma forma especial de primado na prática da caridade
cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja. (...) Mais ainda: hoje,
dada a dimensão mundial que a questão social assumiu, este amor preferencial,
com as decisões que ele nos inspira, não pode deixar de abranger as imensas
multidões de famintos, de mendigos, sem-teto, sem assistência médica e,
sobretudo, sem esperança de um futuro melhor: não se pode deixar de ter em
conta a existência destas realidades. Ignorá-las significaria tornar-nos como o
«rico epulão», que fingia não conhecer o pobre Lázaro, que jazia ao seu portão
(Lc 16, 19-31)” (Sollicitudo Rei Socialis, n. 42).
É fato que acordamos de
manhã, olhamos para o espelho e podemos dizer a nós mesmos que somos pessoas
boas porque fazemos o bem. Talvez não cometamos grandes erros ou pecados
graves, vamos à Igreja e até somos catequistas na comunidade. Gente boa. Mas
isso tudo afirmamos a partir do nosso próprio referencial, isto é, olhamos para
nós mesmos. No entanto, quando nos deparamos com figuras como São Francisco de
Assis e Madre Teresa de Calcutá, a coisa muda. Percebemos que a proposta de
seguimento de Jesus é muito mais comprometedora e exigente. Daí, ao invés de
nos perguntarmos “Eu sou bom? ”, podemos substituir a pergunta por “Faço todo o
bem que poderia fazer? ” E para quem é catequista ainda pode-se acrescentar:
“Inspiro meus iniciandos à prática do bem, da caridade, por amor ao próximo? ”.
É impossível conhecer o Evangelho e o estilo de vida de Teresa de Calcutá e
Francisco de Assis e não perceber que há algo de errado e de muito grave com a
sociedade de hoje e mesmo com algumas de nossas práticas catequéticas. Urge uma
conversão, a começar por nós mesmos, que gere um autêntico compromisso na
transformação em nível
familiar, social, cultural, político, internacional, ecológico, etc. “Figuras de Santos como Francisco de
Assis, Inácio de Loyola, João de Deus, Camilo de Léllis, Vicente de Paulo,
Luísa de Marillac, José B. Cottolengo, João Bosco, Luís Orione, Teresa de
Calcutá — para citar apenas alguns nomes — permanecem modelos insignes de
caridade social para todos os homens de boa vontade. Os Santos são os
verdadeiros portadores de luz dentro da história, porque são homens e mulheres
de fé, esperança e caridade” (Bento XVI, Deus caritas est – Deus é
amor n. 40)
A CATEQUESE DA CARIDADE
A única forma de
aprendermos sobre a caridade é praticando atos de bondade para com as pessoas a
nossa volta. Portanto, a única forma de ensinar a prática da caridade a nossos iniciandos
é lhes dar a oportunidade de experimentar a alegria que decorre do serviço ao
próximo. Para educar a fé
para a prática da caridade é preciso:
1) Informar
e envolver: O Catequista
será intermediário no processo de educação à prática da caridade. Ele traz informações
e sugestões de meios, lugares e métodos de iniciativas caritativas, procurando
engajar os iniciandos nessas propostas;
2) Dar motivações:
O seu testemunho e o testemunho de outros membros da comunidade, além da
fundamental inspiração evangélica do seguimento de Jesus, serão durante os
encontros de catequese aspectos motivacionais para a prática da caridade. Nesse vídeo, a atitude insistente e
determinada de um garoto foi capaz de motivar todos a lhe ajudarem: O Menino e a árvore: https://www.youtube.com/watch?v=bNIoNXFNiFY ;
3)
Desenvolver o senso
crítico:
Trata-se de um olhar crítico, capaz de entrever as estruturas que perpetuam as
injustiças sociais. A seguinte metáfora ilustra essa ideia: Por vezes, a
caridade da Igreja era exercida somente pela doação de alimentos, remédios, roupas, etc.
Tudo isso é como “dar o peixe”. Com o tempo, percebeu-se a necessidade de
também “ensinar a pescar”. Daí a Igreja promoveu cursos, oportunidades de empregos,
criou ONGs, apoiou manifestações e grupos de iniciativas populares, etc. No
entanto, uma visão mais crítica da desigualdade levou a Igreja a concluir que o
problema estava no “próprio rio” que está poluído e não é aberto a todos. Por
isso, faz-se necessário o empenho de todos os cristãos na promoção dos valores
de justiça e igualdade para todos. (Inspirado em Dom
Cláudio Hummes Diálogo com a
cidade, pág. 47);
4) Orientar
a ação: Seja uma proposta
de um gesto simples ou seja um projeto comunitário, o catequista e outros
membros da comunidade orientam, participam e acompanham a ação caridade
desempenhada pelos iniciandos;
5) Promover
vocações específicas no âmbito do serviço aos irmãos: Quando o catequista e a comunidade são
testemunhas alegres de doação e amor ao próximo pela prática da caridade, essa
alegria é capaz de contagiar os iniciandos que, pouco a pouco, manifestam o seu
desejo de também protagonizar as iniciativas caritativas da comunidade. Outros,
ainda, serão despertados para tarefas específicas de serviço aos mais pobres,
dentro e fora da Igreja.
A
Catequese e também as outras pastorais da comunidade precisam descobrir e dar
atenção aos “novos pobres”, os marginalizados dos dias de hoje. Muitos deles
são imigrantes, nômades, presos, doentes crônicos ou em fase terminal,
dependentes químicos... Para isso, a catequese exige pessoas corajosos e
capazes de revisar a sua própria vida e a prática pessoal da caridade; Revisar
os conteúdos catequéticos para que estejam em sintonia com a realidade; E revisar
os métodos catequéticos, de modo a proporcionar experiências de educação à
caridade.
A Caridade dentro da Igreja...
A Cáritas Brasileira http://caritas.org.br/ é uma entidade de promoção e atuação
social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do
desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos e
excluídas em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma
sociedade justa, igualitária e plural.
A caridade para além da
Igreja...
A ONG Make-A-Wish®
Brasil http://www.makeawish.org.br/ tem como missão a realização de sonhos de
crianças com doenças que colocam em risco as suas vidas, enriquecendo a
experiência humana com esperança, força e alegria.
Educando para a caridade no encontro de catequese...
Como vimos, a Catequese
enquanto educação da fé, também possui uma dimensão caritativa, isto é, ela
também tem como tarefa iniciar à prática da caridade e do amor ao próximo. De
forma concreta, isso significa propor momentos para que crianças, jovens e adultos
tenham a oportunidade de se colocar a serviço dos outros de forma gratuita.
Uma catequista me contou
que um dos adolescentes iniciandos da sua turma de Catequese de Confirmação não
levava os encontros a sério. “Ele parece impermeável”, dizia ela. Considerava
tudo aquilo um blábláblá furado da catequista e participava dos encontros para
não ter que ouvir sua avó em casa reclamando depois. Tudo mudou quando a turma
foi visitar um asilo, levando presentes que compraram com a arrecadação que
fizeram durante os encontros e com a ajuda de familiares. Aquele jovem
emocionou-se profundamente. A alegria dos idosos ao vê-los, o carinho da
acolhida calorosa, os abraços afetuosos e a felicidade porque alguém lembrara
deles e até trouxera presentes, foi uma experiência que o marcou para sempre.
Dalí para frente, tudo que a catequista dizia nos encontros “passou a fazer
sentido”. Não era só palavreado, era algo possível de ser vivido e era bom. Confira
algumas sugestões de como desenvolver a dimensão da caridade no encontro de
catequese:
·
Crianças
pequenas tem dificuldade em dividir ou partilhar as coisas. Ajude-as a
compreender que quando ela compartilha suas coisas, faz outras pessoas felizes.
Diga que Deus gosta quando ela faz o bem e expresse sua satisfação com sorrisos
e elogios toda vez que ela compartilhar algo com alguém;
·
Organize
uma campanha para arrecadar agasalhos ou alimentos que serão doados para pessoas
assistidas pela comunidade ou para uma instituição de caridade – ou vocês podem
aderir a alguma campanha já existente. Se possível, envolva os iniciandos em
todas as etapas da campanha: divulgação com cartazes, arrecadação, separação
das roupas ou alimentos doados e a entrega do material arrecadado;
·
Organize
uma visita a um asilo, orfanato, ONG ou instituição de caridade. Converse antes
com a administração da instituição para acertar todos os detalhes. Se possível,
levem um bolo ou lanchinho e envolva os iniciandos em todas as etapas da
preparação ou ainda presentes arrecadados por eles;
·
Aproveite
datas comemorativas e confeccione cartões com belas mensagens – que podem ser
espontâneas! - e incentive os iniciandos
a dar os cartões para as pessoas da família, amigos, vizinhos ou mesmo
desconhecidos;
·
Promova
com os jovens manifestações de afeto e amor gratuito com iniciativas criativas,
como o “Free hugs - Abraços gratuitos” https://www.youtube.com/watch?v=jNFwzRgAkZE ;
·
Engaje
os iniciandos em atividades de pastorais e movimentos sociais da comunidade ou
do bairro, como os vicentinos. Em algumas paróquias a catequese de crisma é
feita com um encontro de catequese “tradicional” do grupo a cada 15 dias,
intercalado com a interação dos jovens em alguma dessas outras pastorais e
movimentos sociais;
·
No Brasil as experiências da Campanha da Fraternidade (CF) na
Quaresma são emblemáticas e pioneiras na prática caritativa à luz do Evangelho.
Informe-se e procure desenvolver o tema e atingir os gestos concretos sugeridos
pelos materiais produzidos para cada campanha – há inclusive materiais específicos
para a catequese. Visite o site das
Campanhas da CNBB http://campanhas.cnbb.org.br/ ;
Para nunca esquecer...
“Pregue
o Evangelho. Se necessário, use as palavras”. São Francisco de
Assis
“Onde
houver tristeza, que eu leve a alegria”. São Francisco de Assis
Texto de João Melo originalmente publicado em Revista Digital Sou Catequista, edição 12, ano 3, outubro/2015, págs. 44-61.