Desafios do idoso
Dona Maria é assistida pelos vicentinos na distante periferia da zona leste de São Paulo. Aposentada, aos 65 anos, ela mora sozinha em uma casa escura, com um quintal grande nos fundos. Dona Maria passa seus dias entretida com os afazeres da casa. Quase que diariamente, ela prepara o almoço para o seu irmão mais novo, que passa por lá todos os dias para ver se está tudo bem. O restante do tempo, dona Maria passa no quintal, em meio a plantas e verduras. Não há hora do dia em que se chega à casa de dona Maria e não se é bem recebido com um forte abraço, seguido de uma risada de quem sabe apreciar o tempo e a vida. Para ela, morar sozinha não é sinônimo de solidão. Dona Maria é um exemplo entre tantas e tantos idosos no Brasil, número que não para de aumentar...
Essa grande multidão de pessoas idosas enfrenta, hoje, desafios muito próprios da fase idosa da vida. Confira os mais comuns:
A solidão: a viuvez, a perda ou a distância dos amigos e conhecidos de quando se era mais novo e o abandono da família podem causar solidão. Pessoas idosas gostam de estar perto das pessoas de que gostam, da família. Mas, elas também gostam de ser independentes. A família deve ser o primeiro espaço de catequese com idosos, porque nela o anúncio da fé pode dar-se em um clima de acolhimento e de amor natural e de intimidade (cf. DGC n. 186).
As doenças: por vezes, o idoso sofre com doenças e enfermidades. O Diretório Nacional de Catequese aconselha que seja feita nessa fase uma catequese de preparação para o Sacramento da Unção dos Enfermos (cf. DNC 185). São João Paulo II certa vez afirmou que “quando este corpo está gravemente doente (...) e o homem se sente como que incapaz de viver e agir, é então que se põem mais em evidência a sua maturidade interior e grandeza espiritual; e estas constituem uma lição comovedora para as pessoas sãs. Esta maturidade interior e grandeza espiritual no sofrimento são fruto , certamente, de uma particular conversão e cooperação com a graça do Redentor crucificado” (Salvifici Doloris, 26).
Mau humor: as frustrações e decepções podem tornar qualquer um, inclusive da pessoa idosa, alguém “mal humorado”. É preciso ter motivos de alegria para quebrar o ciclo da “rabugice”. Ora, o anúncio do Evangelho produz a Alegria do Evangelho! A catequese com idosos não pode ser mera doutrinação, precisa falar à vida, por isso, é preciso que a mensagem do evangelho seja apresenta em conexão com a vida dos idosos.
Medo da morte: o medo da morte está ligado à maneira como o idoso viveu as outras fases da sua vida e a sua maturidade espiritual. Com efeito, a certeza cristã de que “no entardecer da vida, seremos julgados pelo Amor” (São João da Cruz), deve trazer tranquilidade e esperança também ao idoso. A morte não deveria ser encarada como o “fim da linha”, mas como a “porta” para outra fase da vida, a fase eterna. São Francisco de Assis chegou a dizer: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum vivente pode escapar”. Fomos criados para a comunhão plena com Deus na eternidade. É verdade que não é fácil encarar a realidade da morte, mas podemos, aos poucos, superar o medo que ela nos traz. Uma catequese da esperança os levará a viver bem essa fase da vida, a dar testemunho às novas gerações e também irá prepará-los para o encontro definitivo com Deus (cf. DNC 186). O maior gesto de maturidade espiritual do idoso é aceitar o sentido cristão da vida eterna com serenidade.
As limitações físicas: o Papa Francisco contou a seguinte história no dia 4 de março deste ano na Praça São Pedro: “Quando eu era criança, um dia a minha avó narrou-me a história de um avô que se sujava quando comia, porque não conseguia levar bem a colher de sopa à própria boca. E o filho, ou seja, o pai de família, decidiu tirá-lo da mesa comum e mandou fazer-lhe uma mesinha na cozinha, onde não se via, para ali comer sozinho. Assim, não faria má figura quando os amigos viessem almoçar ou jantar. Poucos dias depois, chegou a casa e encontrou o seu filho mais pequenino a brincar com um pedaço de madeira, um martelo e alguns pregos; construía algo, e o pai disse-lhe: ‘Mas o que fazes?’. ‘Faço uma mesa, pai.’ ‘Uma mesa, por quê?’ ‘Para que esteja pronta quando tu envelheceres, assim poderás comer aí!’” As crianças têm mais consciência que nós!
O sentimento de ser um fardo – inutilidade: se o Diretório Nacional de Catequese (capítulo 6) afirma que os que são catequizados não são meros destinatários da catequese, mas verdadeiros interlocutores que participam do processo, principalmente a catequese com idosos terá eles como interlocutores dotados de profunda sabedoria e experiência de vida e de fé. Vista assim, a catequese com idosos é uma grande riqueza. Aqui, vale também uma atenção pastoral às famílias dos idosos, de modo a suscitar nelas um natural sentimento de gratidão e de amor gratuito diante do desafio de cuidar dos idosos que fazem parte da família. É função da catequese descobrir entre os idosos os talentos e possibilidades que eles possuem e que podem enriquecer a comunidade: um trabalho de ação conjunta com outras pastorais e movimentos (cf. DNC 185).
A perda da liberdade pessoal: diz Jesus no Evangelho: “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo!” ( Jo 16,33). Quando o idoso depende de familiares, parentes ou outras pessoas para realizar coisas que antes ele fazia sozinho, ele sente sua liberdade pessoal limitada. Nesses casos, é preciso favorecer o diálogo entre as diferentes idades na família do idoso e na comunidade para também assegurar aos idosos o respeito a sua dignidade e as suas necessidades (cf. DNC 186). O idoso é dom de Deus para a vida cristã e para a comunidade porque é de grande experiência de vida. Em alguns casos, é importante apresentar ao idoso outras possibilidades de atividades que ele possa exercer de forma independente. Ele é chamado à vocação da vida de oração: poder dar graças ao Senhor pelos benefícios recebidos, e preencher o vazio da ingratidão que o circunda; poder interceder pelas expectativas das novas gerações e conferir dignidade à memória e aos sacrifícios das passadas. Enfim, a oração purifica incessantemente o coração . O louvor e a súplica a Deus evitam o endurecimento do coração no ressentimento e no egoísmo.
O idoso hoje
O Brasil caminha para se tornar um país de população majoritariamente idosa. Isso é tão verdade que, segundo dados do IBGE dos anos de 2012 e 2013 divulgados por portais de notícias na internet (Aqui e aqui), a população brasileira, estimada em 201,5 milhões de pessoas, está vendo diminuir o número de crianças e aumentar o de idosos.
Diminuem os filhos, aumentam os idosos...
O número de pessoas acima de 60 anos continua crescendo: de 12,6% da população, em 2012, passou para 13% no ano de 2013. Já são mais de 26,1 milhões de idosos no país. O grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com até 29 anos. A região com mais idosos ainda é a Sul, onde eles chegaram a 14,4% do total. O Norte tem menos, 8,8% de idosos.
Os avanços na área de saúde e da tecnologia, não são acompanhados pela integração da população idosa à vida social ativa. “A sociedade não se ‘ampliou’ à vida!”, foi o que disse o Papa Francisco em uma catequese sobre os idosos.
O número de idosos multiplicou-se, mas a sociedade não se organizou para lhes deixar espaço, mesmo dentro da Igreja, muitas vezes isso pode ser percebido. De fato, o aumento no número de idosos representa uma nova tarefa pastoral para toda a Igreja; a bela tarefa de reconhecimento e agradecimento, pois muitos deles gastaram a vida pelo bem da sua família ou da comunidade.
Precisamos criar nos
agentes de pastorais a consciência de que a Igreja está a serviço sobretudo
daqueles que mais precisam e os idosos são ainda no Brasil pessoas necessitadas
de atenção pastoral. Trata-se de perceber e valorizar a dignidade, utilidade e amizade de cada um dos idosos,
despertando para um sentido comunitário de gratidão e
de apreço que levem o idoso a sentir-se parte viva da sua comunidade.
Com efeito, não basta
ter pena e lastimar a solidão e o abandono de muitos idosos, é preciso empenhar-se
para ajudá-los a prolongar uma vida lúcida,
ativa e feliz, assegurando-lhes a dignidade próprio de idoso, isto é,
valorizando o seu papel social.
Ora, a razão de propor uma catequese com idosos é justamente porque a Igreja, diante de tanta injustiça, não pode se calar ou estar alheia à situação de uma sociedade materialista e consumista que só valoriza o que produz ou quem produz, marginalizando os idosos e considerando-os cargas ou pesos inúteis. É vocação da Igreja estar do lado dos que mais precisam, dos que têm seus direitos e sua dignidade feridos. É missão da Igreja contribuir de modo que o mundo também dos idosos esteja repleto dos valores do Reino de Deus. Muito pouco se fala de catequese com idosos, mesmo em livros e outras publicações. Há pouquíssimo material nessa área. A falta de uma catequese adequada aos idosos gera também entre eles uma multidão de batizados que não vivem o seu Batismo (cf. EN 56). O espaço de protagonismo dado a eles em nossas comunidades é muito pequeno, comparado muitas vezes com a maior disponibilidade para servir à comunidade, dentro e fora da Igreja que os idosos têm (cf. DNC 185).
Nosso
tempo parece esquecer que envelhecer é algo natural; É uma etapa normal
da vida, com suas satisfações, atividades e desafios próprios. A
fase idosa da vida em muito é resultado de como foram vividas as outras fases
da vida. Ser idoso é uma fase da vida que certamente todos nós um dia
passaremos...
A cultura do descarte no
mundo de hoje é forte. Mas o Senhor nunca nos descarta, lembra o papa Francisco.
Na verdade, Deus
chama-nos a segui-lo em todas as fases da vida, e inclusive na fase idosa
da vida, que o papa acredita possuir uma
verdadeira vocação específica.
Como em outros tempos normalmente a expectativa de vida era mais
baixa, hoje, faz-se preciso “inventar” ou desenvolver uma espiritualidade das pessoas
idosas fundamentada na vida de oração. Eis aí uma grande inspiração
para pensarmos uma catequese com idosos!
Sentir-se velho é diferente de ser idoso
“Velho é o espírito e só fica velho
quem quer! (...) Dona Florinda, convença-se de uma coisa, a juventude e a
velhice não tem nada a ver com a idade!”
Professor Girafales.
Dica de filme: O
Estudante é um filme emocionante que conta a história de um
senhor idoso que deseja voltar aos estudos. Além de mostrar os preconceitos e
desafios que o protagonista encara, o longa mostra quão frutuosas podem ser a
sabedoria e a experiência de vida de um idoso frente as dificuldades que os
jovens enfrentam. Vale a pena!
Os
tipos de idosos que geralmente encontramos nas comunidades paroquiais:
1)
Os afastados da fé:
Muitas vezes afastados porque foram esquecidos, inclusive pela Igreja, vítimas
de descriminação. Muitos vivem uma vida amargurada; Cabe aqui uma catequese
missionária, querigmática, isto é, de um novo anúncio da Boa Nova de Jesus
Cristo que nos dá a vida por amor. O objetivo da catequese aqui é também ajudar
a encontrar os valores humanos que dão alegria e sentido à vida;
2)
Os interessados em amadurecer a sua
fé: São aqueles que sentem que estão sem catequese há
muito tempo ou que precisam completar a sua iniciação. Muitos, despertados à fé
e sedentos de mais, sentem a necessidade de um aprofundamento. Com efeito, as
experiências de catequese de muitos idosos por vezes não foram as melhores ou
até mesmo já aconteceram a tanto tempo que eles mesmos sentem a necessidade de
uma reiniciação. A catequese atualizará a alegria do Evangelho para a linguagem
e para o mundo dos idosos.
3)
Os fiéis integrados na comunidade: É
a etapa de amadurecimento da fé. É catequese permanente que encaminha para a
responsabilidade da ação pastoral ou comunitária. Os idosos já plenamente
integrados à vida comunitária são, como todos os outros fiéis que participam
ativamente da vida da comunidade, convidados a uma catequese permanente.
Ninguém é tão bom e experiente que saiba de tudo, nem o idoso. Por isso, as
formações são também necessárias para a atuação pastoral.
UM MARCO: O ENCONTRO INTERNACIONAL DOS IDOSOS E AVÓS
Papa
Francisco tem mostrado constante preocupação com a pessoa idosa:
"Um povo tem futuro quando caminha com a força dos jovens e dos idosos".
Foi o quedisse o papa no voo para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio2013. Em uma
viagem para encontrar jovens,
Francisco afirmou que eles têm um
valor importante, são o futuro de um povo; mas disse também que esse futuro também
é dos idosos,
porque são depositários de uma sabedoria de vida, da história, da pátria e da
família.
Marca dessa
preocupação do papa, foi o ENCONTRO INTERNACIONAL DOS IDOSOS E AVÓS que aconteceu
em Roma no dia 28 de setembro de 2014. O evento organizado pelo Pontifício
Conselho para a Família teve como tema “A benção de uma vida longa”.
Nesse encontro, o papa falou que os idosos que têm fé são como árvores
que continuam a dar fruto. Eles são chamados a guardar e transmitir
a fé, chamados a rezar, especialmente a interceder; chamados a ser solidários
com os necessitados... “Os idosos, os avós têm uma capacidade particular de
compreender as situações mais difíceis: uma grande capacidade! E, quando rezam
por estas situações, a sua oração é forte, é poderosa!”, disse Francisco.
Ele também lembrou da especial missão
de quem é avó ou avô: “Aos avós, que receberam a bênção de ver os filhos dos
filhos (cf. Sl 128/127, 6), está confiada uma grande tarefa:
transmitir a experiência da vida, a história duma família, duma comunidade, dum
povo; partilhar, com simplicidade, uma sabedoria e a própria fé, que é a
herança mais preciosa! Felizes aquelas famílias que têm os avós perto! O avô é
pai duas vezes e a avó é mãe duas vezes”.
PALAVRA
DE DEUS E PESSOA IDOSA
A Bíblia costuma
apresentar o idoso como que um “catequista” natural. O idoso ou ancião é
símbolo da sabedoria e do temor de Deus. Ele é testemunha e guardião da
tradição da fé e da experiência de vida (cf. DGC 188). Apresentamos alguns
textos que podem iluminar a nossa reflexão:
O 4º Mandamento – Honrar pai e mãe: Ex 20, 12
“Honra o teu pai e a tua mãe, para que os teus
dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus”.
O cristão que afirma amar a Deus, mas descuida da
sua relação com os outros, incorre em contratestemunho. De fato, o amor a Jesus
e ao Pai leva à realização do amor pelos pais, e também pelos avós. Honrá-los
significa ter afeição, reconhecer e valorizá-los; Significa também assumir a
responsabilidade de cuidar com carinho deles na fase idosa da vida (cf. Mc 7,
10-13; Eclo 3, 12.16). O cumprimento dessa atitude vem acompanhado de uma
promessa que é o resultado do esforço da implantação de uma cultura do cuidado
e da justiça: a prolongação dos dias de vida.
Oração de um idoso: Sl 71 [70], 5.9.18
“Sois Vós, ó meu Deus, a minha esperança. Senhor,
desde a juventude Vós sois a minha confiança... Na minha velhice não me
rejeiteis, ao declinar das minhas forças não me abandoneis... Quando vier a
velhice e até os cabelos brancos, ó Deus, não me abandoneis, a fim de que eu
anuncie à geração presente a força do vosso braço e o vosso poder à geração
vindoura”.
Esse salmo retrata a súplica de um idoso para que Deus olhe para a sua
condição. O autor expressa a sua confiança na ação de Deus, com quem mantém
intimidade desde a juventude. A fase idosa da vida é o tempo de fidelidade a
Deus, de depositar Nele as esperanças da vida. O salmo retrata na súplica do
idoso a angústia de quem não quer ser abandona ou esquecido. Deus não abandona
e não se esquece, essa certeza precisa ser alegria na vida do idoso. Com
efeito, o idoso do salmo se sente vocacionado a contribuir eficazmente em sua
comunidade. Ele encontra o seu espaço de guardião da verdade da fé e
transmissor do testemunho da salvação de Deus as novas gerações. A pessoa idosa
não é só passiva de atenção pastoral, ela está inserida no protagonismo da ação
evangelizadora da Igreja.
O respeito e acolhida
da Tradição dos mais velhos: Eclo 8, 11-12
“Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, dado
que eles os aprenderam com os seus pais. Estudarás com eles o conhecimento e a
arte de responder de modo oportuno”.
Uma cultura de proximidade às
pessoas idosas sabe valorizar a bagagem de sabedoria de vida acumulada que
eles têm. Além de beber dessa fonte de transmissão da fé e da tradição,
trata-se de ter uma disposição ao acompanhamento carinhoso e solidário na parte
final da vida.
A
visita de Maria a sua prima Isabel: Lc 1, 39-45
“Naqueles dias, Maria partiu apressadamente se a
uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando
Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e
Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “Bendita
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a
mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus
ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou,
pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”.
Maria é jovem, muito jovem. Isabel é idosa, mas foi nela
que se manifestou a misericórdia de Deus e, há seis meses, juntamente com o
marido Zacarias, está à espera de um filho. Também nesta circunstância, Maria
nos indica o caminho: ir ao encontro da parenta idosa, permanecer com ela,
certamente para a ajudar, mas inclusive e principalmente para aprender dela,
que é idosa, uma sabedoria de vida.
O
velho Simeão e a profetiza Ana: Lc 2, 25-38
“Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que
esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo
próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem
ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais
levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão
tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua
promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação,
que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória
de Israel, teu povo”. O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do
menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: “Este menino será causa de
queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição
– uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos
de muitos corações”. Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel,
da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e
vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com
oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns
e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino
a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
Nesse trecho do Evangelho encontramos uma imagem muito bonita, comovente e
encorajadora: É a imagem de Simeão e Ana, ambos idosos. Ana, mulher que não
escondia a sua idade, tinha 84 anos (cf. Lc 2,37)! O Evangelho diz que todos os
dias esperavam a vinda de Deus, com grande fidelidade, havia muitos anos.
Queriam realmente ver aquele dia, captar os seus sinais, intuir o seu início.
Talvez já tivessem desanimado, no entanto, aquela longa expectativa continuava
a ocupar toda a vida deles, e não tinham compromissos mais importantes do que
este: esperar o Senhor e rezar. Quando Maria e José chegaram ao templo para
cumprir os preceitos da Lei, Simeão e Ana apressaram-se, animados pelo Espírito
Santo (cf. Lc 2,
27). O peso da idade e da espera se foi num instante. Eles reconheceram o
Menino e descobriram uma
nova força, para uma renovada tarefa: dar
graças e testemunhar este Sinal de Deus. Simeão improvisou um lindo hino de
louvor e ação de graças (cf. Lc 2,
29-32) — naquele momento foi um poeta — e Ana tornou-se a primeira pregadora de
Jesus: “Falava de Jesus a todos aqueles que, em Jerusalém, esperavam a
libertação” (Lc 2, 38).
O bom trato com a
pessoa idosa: 1 Tm 5, 1
“Não repreenda um homem mais velho, mas o
aconselhe como se ele fosse o seu pai. Trate os homens mais jovens como irmãos,
as mulheres idosas, como mães e as mulheres jovens, como irmãs, com toda a
pureza”.
São Paulo recomenda a Timóteo, que é pastor e portanto pai da
comunidade, que tenha respeito e carinho pelos idosos e pelos familiares,
enquanto o exorta a fazê-lo com atitude de um filho: os homens “come se fosse o
teu pai” e “as mulheres idosas como mães”.
A
FÉ DO IDOSO
O Diretório Geral para a Catequese diz que os idosos têm o direito e
o dever de receber uma catequese adequada, como todos os cristãos (cf. DGC n.
186). Para isso, é preciso conhecer os idosos interlocutores do processo de
catequese. São-nos apresentados três tipos de condição de fé em que podem se
encontrar os idosos:
1)
Fé Sólida e Rica:
Pode ser que o idoso já tenha uma fé sólida e rica, nesse caso a catequese será
como que o aprofundamento e a plenitude desse caminho de fé percorrido; será
atitude de agradecimento e de confiante expectativa. Certamente que a presença
e o testemunho dessa pessoa à comunidade será capaz de irradiar a fé e
contagiar os outros;
2)
Fé Frágil:
Quando o idoso apresenta uma fé e prática cristã frágeis, as vezes
supersticiosas, a catequese é momento oportuno para lançar nova luz e
proporcionar nova experiência religiosa. É importante sempre valorizar as
práticas de fé de cada pessoa e ter cuidado para não ofender ou escandalizar;
3)
Fé Ferida:
Às vezes o idoso chega a essa fase da vida com profundas feridas na alma e no
corpo. A catequese vai ajudar a viver a
sua condição na atitude do perdão e da paz interior (Cf. DGC n. 187). É bom
lembrar que essa catequese pode ser a primeira experiência autêntica de
iniciação que o idoso não tive quando mais jovem.
Conhece os
direitos da pessoa idosa? Leia o Estatuto do Idoso.
O
IDOSO NA CATEQUESE E A CATEQUESE COM IDOSOS
O IDOSO NA CATEQUESE, muitas
vezes, são os primeiros catequistas de crianças. É preciso despertar os mais
velhos para o protagonismo decisivo que podem exercer na evangelização e no
impulso da renovação da comunidade cristã. Idosos não são objetos da ação
evangelizadora da Igreja, eles, embora destinatários dela, podem exercer parte
ativa em serviço a sociedade e a Igreja.
Algumas orientações para
uma CATEQUESE COM IDOSOS:
1)
Conhecer e visitar, escutar alguns idosos
da sua comunidade;
2)
Informar-se sobre a situação do idoso no
Brasil, como eles são tratados, qual o lugar que ocupam na sociedade brasileira,
sua pedagogia etc; Todo idoso tem: Necessidade de
se sentir amado; Necessidade de produzir e ser útil; Necessidade de ser único,
original e criativo; Necessidade de dar sentido à própria vida;
3)
Refletir a partir da Palavra de Deus;
Toda
catequese com idoso será impregnada de calor humano, de proximidade, de escuta,
de acolhida e de compreensão. Ela precisa ser participativa, isto é, não pode
converter-se em um “fazer algo” para o idoso. As vezes, quando se chega a essa
idade, se tem uma inclinação a passividade, a espera de que os outros façam. A
catequese com idoso despertará para o protagonismo, provocando à participação e
contribuição dos idosos. Ela pode se tornar um processo de reiniciação cristã
de estilo catecumenal.
Algumas experiências e iniciativas:
1)
Atividades litúrgico-sacramental:
Homilias próprias nas eucaristias, celebrações da Palavra de Deus com idosos;
celebração de aniversários e de bodas de casamentos; celebração do sacramento
da Reconciliação e da Unção dos Enfermos;
2)
Encontros periódicos:
Grupos de reflexão e oração, etc; São exemplos: Apostolado da Oração; Movimento Vida Ascendente; o serviço de evangelização junto aos idosos da Pastoral da Pessoa Idosa; grupos de Música (bailes, shows, etc); Bingos beneficentes e comunitários;
3)
Catequese sistemática de inspiração
catecumenal: Essa catequese que pode organizar-se
como processo de reiniciação cristã de estilo
catecumenal será também um grande grito profético contra o preconceito e
o pouco caso com a pessoa idosa! Uma bela iniciativa é a chamada “Catequese
intergeracional” em que iniciandos de diferentes idades interagem na troca de
experiências e crescimento mútuo de fé.
Papa Francisco parece encorar essa interação entre as diferentes
gerações: “Olhai os nossos jovens: às vezes vemo-los apáticos e tristes; vão
encontrar um idoso e tornam-se alegres!”. E ao somar-se ao grupo dos idosos,
ele acrescenta: “Podemos recordar aos jovens ambiciosos que uma existência sem
amor é uma vida árida. Podemos dizer aos jovens medrosos que a angústia em
relação ao futuro pode ser derrotada. Podemos ensinar aos jovens demasiado
apaixonados por si mesmos que há mais alegria em dar do que em receber. Os avôs
e as avós formam o ‘coral’ permanente de um grande santuário espiritual, onde a
oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e
luta no campo da vida. Como é desagradável o cinismo de um idoso que perdeu o
sentido do seu testemunho, despreza os jovens e não comunica uma sabedoria de
vida! Ao contrário, como é bonito o encorajamento que o
ancião consegue transmitir ao jovem em busca do sentido da fé e da vida! Esta é
verdadeiramente a missão dos avós, a vocação dos idosos! As palavras dos avós
têm algo de especial para os jovens. E eles sabem-no! Como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre jovens e idosos! E é isto, este abraço, que hoje peço ao Senhor!".
Dica
de Leitura para aprofundar o assunto: Livro Psicopedagogia catequética: reflexões e
vivências para a catequese conforme as idades, vol. 4 pessoas idosas. De
Eduardo Calandro e Jordélio Siles Ledo, editora Paulus.
Texto de João Melo originalmente publicado em Revista Digital Sou Catequista, edição 11, ano 3, agosto/2015, págs. 88-107.
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