terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Catequese com Idosos: Evangelizando a terceira idade num Brasil que caminha para se tornar um país de população majoritariamente idosa

A quem interessa o saber sobre os idosos? Aos próprios idosos? Àqueles que cuidam de idosos? Não. A resposta correta é que interessa para toda a sociedade, pois o respeito e cuidados que lhes desprenderemos são os mesmos que tão logo desejaremos para nós mesmos.  Assim, nosso olhar deve atentar-se à importância de catequistas e educadores desenvolverem em nossos jovens, crianças e adultos o respeito e a estima pelos idosos; estender-se aos nossos agentes de pastoral que em diversos momentos lidam com idosos em nossas paróquias; e voltar-se, ainda, a todos esses importantes colaboradores que muitas vezes são nossos idosos, para que, utilizando-se de suas experiências e necessidades, obtenhamos uma abordagem para a educação dos diferentes grupos, das diversas idades, e por meio da revisão de nossas atitudes possamos empreender uma catequese com e para aqueles em que o tempo já deixou suas marcas: uma catequese com idosos.

Desafios do idoso

Dona Maria é assistida pelos vicentinos na distante periferia da zona leste de São Paulo. Aposentada, aos 65 anos, ela mora sozinha em uma casa escura, com um quintal grande nos fundos. Dona Maria passa seus dias entretida com os afazeres da casa. Quase que diariamente, ela prepara o almoço para o seu irmão mais novo, que passa por lá todos os dias para ver se está tudo bem. O restante do tempo, dona Maria passa no quintal, em meio a plantas e verduras. Não há hora do dia em que se chega à casa de dona Maria e não se é bem recebido com um forte abraço, seguido de uma risada de quem sabe apreciar o tempo e a vida. Para ela, morar sozinha não é sinônimo de solidão. Dona Maria é um exemplo entre tantas e tantos idosos no Brasil, número que não para de aumentar...
Essa grande multidão de pessoas idosas enfrenta, hoje, desafios muito próprios da fase idosa da vida. Confira os mais comuns:

A solidão: a viuvez, a perda ou a distância dos amigos e conhecidos de quando se era mais novo e o abandono da família podem causar solidão. Pessoas idosas gostam de estar perto das pessoas de que gostam, da família. Mas, elas também gostam de ser independentes. A família deve ser o primeiro espaço de catequese com idosos, porque nela o anúncio da fé pode dar-se em um clima de acolhimento e de amor natural e de intimidade (cf. DGC n. 186). 

As doenças: por vezes, o idoso sofre com doenças e enfermidades. O Diretório Nacional de Catequese aconselha que seja feita nessa fase uma catequese de preparação para o Sacramento da Unção dos Enfermos (cf. DNC 185). São João Paulo II certa vez afirmou que “quando este corpo está gravemente doente (...) e o homem se sente como que incapaz de viver e agir, é então que se põem mais em evidência a sua maturidade interior e grandeza espiritual; e estas constituem uma lição comovedora para as pessoas sãs. Esta maturidade interior e grandeza espiritual no sofrimento são fruto , certamente, de uma particular conversão e cooperação com a graça do Redentor crucificado” (Salvifici Doloris, 26).

Mau humor: as frustrações e decepções podem tornar qualquer um, inclusive da pessoa idosa, alguém “mal humorado”. É preciso ter motivos de alegria para quebrar o ciclo da “rabugice”. Ora, o anúncio do Evangelho produz a Alegria do Evangelho! A catequese com idosos não pode ser mera doutrinação, precisa falar à vida, por isso, é preciso que a mensagem do evangelho seja apresenta em conexão com a vida dos idosos.

Medo da morte: o medo da morte está ligado à maneira como o idoso viveu as outras fases da sua vida e a sua maturidade espiritual. Com efeito, a certeza cristã de que “no entardecer da vida, seremos julgados pelo Amor” (São João da Cruz), deve trazer tranquilidade e esperança também ao idoso. A morte não deveria ser encarada como o “fim da linha”, mas como a “porta” para outra fase da vida, a fase eterna. São Francisco de Assis chegou a dizer: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum vivente pode escapar”. Fomos criados para a comunhão plena com Deus na eternidade. É verdade que não é fácil encarar a realidade da morte, mas podemos, aos poucos, superar o medo que ela nos traz. Uma catequese da esperança os levará a viver bem essa fase da vida, a dar testemunho às novas gerações e também irá prepará-los para o encontro definitivo com Deus (cf. DNC 186). O maior gesto de maturidade espiritual do idoso é aceitar o sentido cristão da vida eterna com serenidade. 

As limitações físicas: o Papa Francisco contou a seguinte história no dia 4 de março deste ano na Praça São Pedro: “Quando eu era criança, um dia a minha avó narrou-me a história de um avô que se sujava quando comia, porque não conseguia levar bem a colher de sopa à própria boca. E o filho, ou seja, o pai de família, decidiu tirá-lo da mesa comum e mandou fazer-lhe uma mesinha na cozinha, onde não se via, para ali comer sozinho. Assim, não faria má figura quando os amigos viessem almoçar ou jantar. Poucos dias depois, chegou a casa e encontrou o seu filho mais pequenino a brincar com um pedaço de madeira, um martelo e alguns pregos; construía algo, e o pai disse-lhe: ‘Mas o que fazes?’. ‘Faço uma mesa, pai.’ ‘Uma mesa, por quê?’ ‘Para que esteja pronta quando tu envelheceres, assim poderás comer aí!’” As crianças têm mais consciência que nós!

O sentimento de ser um fardo – inutilidade: se o Diretório Nacional de Catequese (capítulo 6) afirma que os que são catequizados não são meros destinatários da catequese, mas verdadeiros interlocutores que participam do processo, principalmente a catequese com idosos terá eles como interlocutores dotados de profunda sabedoria e experiência de vida e de fé. Vista assim, a catequese com idosos é uma grande riqueza. Aqui, vale também uma atenção pastoral às famílias dos idosos, de modo a suscitar nelas um natural sentimento de gratidão e de amor gratuito diante do desafio de cuidar dos idosos que fazem parte da família. É função da catequese descobrir entre os idosos os talentos e possibilidades que eles possuem e que podem enriquecer a comunidade: um trabalho de ação conjunta com outras pastorais e movimentos (cf. DNC 185).

A perda da liberdade pessoal: diz Jesus no Evangelho: “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo!” ( Jo 16,33). Quando o idoso depende de familiares, parentes ou outras pessoas para realizar coisas que antes ele fazia sozinho, ele sente sua liberdade pessoal limitada. Nesses casos, é preciso favorecer o diálogo entre as diferentes idades na família do idoso e na comunidade para também assegurar aos idosos o respeito a sua dignidade e as suas necessidades (cf. DNC 186). O idoso é dom de Deus para a vida cristã e para a comunidade porque é de grande experiência de vida. Em alguns casos, é importante apresentar ao idoso outras possibilidades de atividades que ele possa exercer de forma independente. Ele é chamado à vocação da vida de oração: poder dar graças ao Senhor pelos benefícios recebidos, e preencher o vazio da ingratidão que o circunda; poder interceder pelas expectativas das novas gerações e conferir dignidade à memória e aos sacrifícios das passadas. Enfim, a oração purifica incessantemente o coração . O louvor e a súplica a Deus evitam o endurecimento do coração no ressentimento e no egoísmo. 

O idoso hoje
O Brasil caminha para se tornar um país de população majoritariamente idosa. Isso é tão verdade que, segundo dados do IBGE dos anos de 2012 e 2013 divulgados por portais de notícias na internet (Aqui e aqui), a população brasileira, estimada em 201,5 milhões de pessoas, está vendo diminuir o número de crianças e aumentar o de idosos.

Diminuem os filhos, aumentam os idosos...

O número de pessoas acima de 60 anos continua crescendo: de 12,6% da população, em 2012, passou para 13% no ano de 2013. Já são mais de 26,1 milhões de idosos no país. O grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com até 29 anos. A região com mais idosos ainda é a Sul, onde eles chegaram a 14,4% do total. O Norte tem menos, 8,8% de idosos.

Os avanços na área de saúde e da tecnologia, não são acompanhados pela integração da população idosa à vida social ativa. “A sociedade não se ‘ampliou’ à vida!”, foi o que disse o Papa Francisco em uma catequese sobre os idosos.

O número de idosos multiplicou-se, mas a sociedade não se organizou para lhes deixar espaço, mesmo dentro da Igreja, muitas vezes isso pode ser percebido. De fato, o aumento no número de idosos representa uma nova tarefa pastoral para toda a Igreja; a bela tarefa de reconhecimento e agradecimento, pois muitos deles gastaram a vida pelo bem da sua família ou da comunidade. 

Precisamos criar nos agentes de pastorais a consciência de que a Igreja está a serviço sobretudo daqueles que mais precisam e os idosos são ainda no Brasil pessoas necessitadas de atenção pastoral. Trata-se de perceber e valorizar a dignidade, utilidade e amizade de cada um dos idosos, despertando para um sentido comunitário de gratidão e de apreço que levem o idoso a sentir-se parte viva da sua comunidade.
Com efeito, não basta ter pena e lastimar a solidão e o abandono de muitos idosos, é preciso empenhar-se para ajudá-los a prolongar uma vida lúcida, ativa e feliz, assegurando-lhes a dignidade próprio de idoso, isto é, valorizando o seu papel social.

Ora, a razão de propor uma catequese com idosos é justamente porque a Igreja, diante de tanta injustiça, não pode se calar ou estar alheia à situação de uma sociedade materialista e consumista que só valoriza o que produz ou quem produz, marginalizando os idosos e considerando-os cargas ou pesos inúteis. É vocação da Igreja estar do lado dos que mais precisam, dos que têm seus direitos e sua dignidade feridos. É missão da Igreja contribuir de modo que o mundo também dos idosos esteja repleto dos valores do Reino de Deus. Muito pouco se fala de catequese com idosos, mesmo em livros e outras publicações. Há pouquíssimo material nessa área. A falta de uma catequese adequada aos idosos gera também entre eles uma multidão de batizados que não vivem o seu Batismo (cf. EN 56). O espaço de protagonismo dado a eles em nossas comunidades é muito pequeno, comparado muitas vezes com a maior disponibilidade para servir à comunidade, dentro e fora da Igreja que os idosos têm (cf. DNC 185).



Nosso tempo parece esquecer que envelhecer é algo natural; É uma etapa normal da vida, com suas satisfações, atividades e desafios próprios. A fase idosa da vida em muito é resultado de como foram vividas as outras fases da vida. Ser idoso é uma fase da vida que certamente todos nós um dia passaremos...
A cultura do descarte no mundo de hoje é forte. Mas o Senhor nunca nos descarta, lembra o papa Francisco
Na verdade, Deus chama-nos a segui-lo em todas as fases da vida, e inclusive na fase idosa da vida, que o papa acredita possuir uma verdadeira vocação específica.  Como em outros tempos normalmente a expectativa de vida era mais baixa, hoje, faz-se preciso “inventar” ou desenvolver uma espiritualidade das pessoas idosas fundamentada na vida de oração. Eis aí uma grande inspiração para pensarmos uma catequese com idosos!

Sentir-se velho é diferente de ser idoso

Velho é o espírito e só fica velho quem quer! (...) Dona Florinda, convença-se de uma coisa, a juventude e a velhice não tem nada a ver com a idade!”  Professor Girafales.

Dica de filme: O Estudante é um filme emocionante que conta a história de um senhor idoso que deseja voltar aos estudos. Além de mostrar os preconceitos e desafios que o protagonista encara, o longa mostra quão frutuosas podem ser a sabedoria e a experiência de vida de um idoso frente as dificuldades que os jovens enfrentam. Vale a pena!

Trailer Filme O Estudante: https://www.youtube.com/watch?v=odYpSDI6N54

Sinopse Filme O Estudante: http://cinema10.com.br/filme/o-estudante

Filme O Estudante completo: https://www.youtube.com/watch?v=KL-RvZYvFfM 

Os tipos de idosos que geralmente encontramos nas comunidades paroquiais: 

1)      Os afastados da fé: Muitas vezes afastados porque foram esquecidos, inclusive pela Igreja, vítimas de descriminação. Muitos vivem uma vida amargurada; Cabe aqui uma catequese missionária, querigmática, isto é, de um novo anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo que nos dá a vida por amor. O objetivo da catequese aqui é também ajudar a encontrar os valores humanos que dão alegria e sentido à vida;

2)      Os interessados em amadurecer a sua fé: São aqueles que sentem que estão sem catequese há muito tempo ou que precisam completar a sua iniciação. Muitos, despertados à fé e sedentos de mais, sentem a necessidade de um aprofundamento. Com efeito, as experiências de catequese de muitos idosos por vezes não foram as melhores ou até mesmo já aconteceram a tanto tempo que eles mesmos sentem a necessidade de uma reiniciação. A catequese atualizará a alegria do Evangelho para a linguagem e para o mundo dos idosos.

3)      Os fiéis integrados na comunidade: É a etapa de amadurecimento da fé. É catequese permanente que encaminha para a responsabilidade da ação pastoral ou comunitária. Os idosos já plenamente integrados à vida comunitária são, como todos os outros fiéis que participam ativamente da vida da comunidade, convidados a uma catequese permanente. Ninguém é tão bom e experiente que saiba de tudo, nem o idoso. Por isso, as formações são também necessárias para a atuação pastoral.  

UM MARCO: O ENCONTRO INTERNACIONAL DOS IDOSOS E AVÓS

Papa Francisco tem mostrado constante preocupação com a pessoa idosa:

"Um povo tem futuro quando caminha com a força dos jovens e dos idosos".

Foi o quedisse o papa no voo para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio2013. Em uma viagem para encontrar jovens, Francisco afirmou que eles têm um valor importante, são o futuro de um povo; mas disse também que esse futuro também é dos idosos, porque são depositários de uma sabedoria de vida, da história, da pátria e da família.

Marca dessa preocupação do papa, foi o ENCONTRO INTERNACIONAL DOS IDOSOS E AVÓS que aconteceu em Roma no dia 28 de setembro de 2014. O evento organizado pelo Pontifício Conselho para a Família teve como tema “A benção de uma vida longa”.




Nesse encontro, o papa falou que os idosos que têm fé são como árvores que continuam a dar fruto. Eles são chamados a guardar e transmitir a fé, chamados a rezar, especialmente a interceder; chamados a ser solidários com os necessitados... “Os idosos, os avós têm uma capacidade particular de compreender as situações mais difíceis: uma grande capacidade! E, quando rezam por estas situações, a sua oração é forte, é poderosa!”, disse Francisco.

Ele também lembrou da especial missão de quem é avó ou avô: “Aos avós, que receberam a bênção de ver os filhos dos filhos (cf. Sl 128/127, 6), está confiada uma grande tarefa: transmitir a experiência da vida, a história duma família, duma comunidade, dum povo; partilhar, com simplicidade, uma sabedoria e a própria fé, que é a herança mais preciosa! Felizes aquelas famílias que têm os avós perto! O avô é pai duas vezes e a avó é mãe duas vezes”.

PALAVRA DE DEUS E PESSOA IDOSA

A Bíblia costuma apresentar o idoso como que um “catequista” natural. O idoso ou ancião é símbolo da sabedoria e do temor de Deus. Ele é testemunha e guardião da tradição da fé e da experiência de vida (cf. DGC 188). Apresentamos alguns textos que podem iluminar a nossa reflexão:

O 4º Mandamento – Honrar pai e mãe: Ex 20, 12
Honra o teu pai e a tua mãe, para que os teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus”. 
O cristão que afirma amar a Deus, mas descuida da sua relação com os outros, incorre em contratestemunho. De fato, o amor a Jesus e ao Pai leva à realização do amor pelos pais, e também pelos avós. Honrá-los significa ter afeição, reconhecer e valorizá-los; Significa também assumir a responsabilidade de cuidar com carinho deles na fase idosa da vida (cf. Mc 7, 10-13; Eclo 3, 12.16). O cumprimento dessa atitude vem acompanhado de uma promessa que é o resultado do esforço da implantação de uma cultura do cuidado e da justiça: a prolongação dos dias de vida.   

Oração de um idoso: Sl 71 [70], 5.9.18
“Sois Vós, ó meu Deus, a minha esperança. Senhor, desde a juventude Vós sois a minha confiança... Na minha velhice não me rejeiteis, ao declinar das minhas forças não me abandoneis... Quando vier a velhice e até os cabelos brancos, ó Deus, não me abandoneis, a fim de que eu anuncie à geração presente a força do vosso braço e o vosso poder à geração vindoura”.
Esse salmo retrata a súplica de um idoso para que Deus olhe para a sua condição. O autor expressa a sua confiança na ação de Deus, com quem mantém intimidade desde a juventude. A fase idosa da vida é o tempo de fidelidade a Deus, de depositar Nele as esperanças da vida. O salmo retrata na súplica do idoso a angústia de quem não quer ser abandona ou esquecido. Deus não abandona e não se esquece, essa certeza precisa ser alegria na vida do idoso. Com efeito, o idoso do salmo se sente vocacionado a contribuir eficazmente em sua comunidade. Ele encontra o seu espaço de guardião da verdade da fé e transmissor do testemunho da salvação de Deus as novas gerações. A pessoa idosa não é só passiva de atenção pastoral, ela está inserida no protagonismo da ação evangelizadora da Igreja. 

O respeito e acolhida da Tradição dos mais velhos: Eclo 8, 11-12
“Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, dado que eles os aprenderam com os seus pais. Estudarás com eles o conhecimento e a arte de responder de modo oportuno”.
Uma cultura de proximidade às pessoas idosas sabe valorizar a bagagem de sabedoria de vida acumulada que eles têm. Além de beber dessa fonte de transmissão da fé e da tradição, trata-se de ter uma disposição ao acompanhamento carinhoso e solidário na parte final da vida.

A visita de Maria a sua prima Isabel: Lc 1, 39-45
“Naqueles dias, Maria partiu apressadamente se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!”.
Maria é jovem, muito jovem. Isabel é idosa, mas foi nela que se manifestou a misericórdia de Deus e, há seis meses, juntamente com o marido Zacarias, está à espera de um filho. Também nesta circunstância, Maria nos indica o caminho: ir ao encontro da parenta idosa, permanecer com ela, certamente para a ajudar, mas inclusive e principalmente para aprender dela, que é idosa, uma sabedoria de vida.

O velho Simeão e a profetiza Ana: Lc 2, 25-38
“Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo”. O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”. Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”.
 Nesse trecho do Evangelho encontramos uma imagem muito bonita, comovente e encorajadora: É a imagem de Simeão e Ana, ambos idosos. Ana, mulher que não escondia a sua idade, tinha 84 anos (cf. Lc 2,37)! O Evangelho diz que todos os dias esperavam a vinda de Deus, com grande fidelidade, havia muitos anos. Queriam realmente ver aquele dia, captar os seus sinais, intuir o seu início. Talvez já tivessem desanimado, no entanto, aquela longa expectativa continuava a ocupar toda a vida deles, e não tinham compromissos mais importantes do que este: esperar o Senhor e rezar. Quando Maria e José chegaram ao templo para cumprir os preceitos da Lei, Simeão e Ana apressaram-se, animados pelo Espírito Santo (cf. Lc 2, 27). O peso da idade e da espera se foi num instante. Eles reconheceram o Menino e descobriram uma nova força, para uma renovada tarefa: dar graças e testemunhar este Sinal de Deus. Simeão improvisou um lindo hino de louvor e ação de graças (cf. Lc 2, 29-32) — naquele momento foi um poeta — e Ana tornou-se a primeira pregadora de Jesus: “Falava de Jesus a todos aqueles que, em Jerusalém, esperavam a libertação” (Lc 2, 38).

O bom trato com a pessoa idosa: 1 Tm 5, 1
“Não repreenda um homem mais velho, mas o aconselhe como se ele fosse o seu pai. Trate os homens mais jovens como irmãos, as mulheres idosas, como mães e as mulheres jovens, como irmãs, com toda a pureza”.
São Paulo recomenda a Timóteo, que é pastor e portanto pai da comunidade, que tenha respeito e carinho pelos idosos e pelos familiares, enquanto o exorta a fazê-lo com atitude de um filho: os homens “come se fosse o teu pai” e “as mulheres idosas como mães”. 

A FÉ DO IDOSO

O Diretório Geral para a Catequese diz que os idosos têm o direito e o dever de receber uma catequese adequada, como todos os cristãos (cf. DGC n. 186). Para isso, é preciso conhecer os idosos interlocutores do processo de catequese. São-nos apresentados três tipos de condição de fé em que podem se encontrar os idosos:
1)      Fé Sólida e Rica: Pode ser que o idoso já tenha uma fé sólida e rica, nesse caso a catequese será como que o aprofundamento e a plenitude desse caminho de fé percorrido; será atitude de agradecimento e de confiante expectativa. Certamente que a presença e o testemunho dessa pessoa à comunidade será capaz de irradiar a fé e contagiar os outros;
2)      Fé Frágil: Quando o idoso apresenta uma fé e prática cristã frágeis, as vezes supersticiosas, a catequese é momento oportuno para lançar nova luz e proporcionar nova experiência religiosa. É importante sempre valorizar as práticas de fé de cada pessoa e ter cuidado para não ofender ou escandalizar;
3)      Fé Ferida: Às vezes o idoso chega a essa fase da vida com profundas feridas na alma e no corpo.  A catequese vai ajudar a viver a sua condição na atitude do perdão e da paz interior (Cf. DGC n. 187). É bom lembrar que essa catequese pode ser a primeira experiência autêntica de iniciação que o idoso não tive quando mais jovem.

Conhece os direitos da pessoa idosa? Leia o Estatuto do Idoso.

O IDOSO NA CATEQUESE E A CATEQUESE COM IDOSOS

O IDOSO NA CATEQUESE, muitas vezes, são os primeiros catequistas de crianças. É preciso despertar os mais velhos para o protagonismo decisivo que podem exercer na evangelização e no impulso da renovação da comunidade cristã. Idosos não são objetos da ação evangelizadora da Igreja, eles, embora destinatários dela, podem exercer parte ativa em serviço a sociedade e a Igreja.  
Algumas orientações para uma CATEQUESE COM IDOSOS:

1)        Conhecer e visitar, escutar alguns idosos da sua comunidade;
2)        Informar-se sobre a situação do idoso no Brasil, como eles são tratados, qual o lugar que ocupam na sociedade brasileira, sua pedagogia etc; Todo idoso tem: Necessidade de se sentir amado; Necessidade de produzir e ser útil; Necessidade de ser único, original e criativo; Necessidade de dar sentido à própria vida;
3)        Refletir a partir da Palavra de Deus;

Toda catequese com idoso será impregnada de calor humano, de proximidade, de escuta, de acolhida e de compreensão. Ela precisa ser participativa, isto é, não pode converter-se em um “fazer algo” para o idoso. As vezes, quando se chega a essa idade, se tem uma inclinação a passividade, a espera de que os outros façam. A catequese com idoso despertará para o protagonismo, provocando à participação e contribuição dos idosos. Ela pode se tornar um processo de reiniciação cristã de estilo catecumenal.
Algumas experiências e iniciativas:

1)      Atividades litúrgico-sacramental: Homilias próprias nas eucaristias, celebrações da Palavra de Deus com idosos; celebração de aniversários e de bodas de casamentos; celebração do sacramento da Reconciliação e da Unção dos Enfermos;
2)      Encontros periódicos: Grupos de reflexão e oração, etc; São exemplos: Apostolado da Oração; Movimento Vida Ascendente; o serviço de evangelização junto aos idosos da Pastoral da Pessoa Idosa; grupos de Música (bailes, shows, etc); Bingos beneficentes e comunitários;
3)      Catequese sistemática de inspiração catecumenal: Essa catequese que pode organizar-se como processo de reiniciação cristã de estilo catecumenal será também um grande grito profético contra o preconceito e o pouco caso com a pessoa idosa! Uma bela iniciativa é a chamada “Catequese intergeracional” em que iniciandos de diferentes idades interagem na troca de experiências e crescimento mútuo de fé.

Papa Francisco parece encorar essa interação entre as diferentes gerações: “Olhai os nossos jovens: às vezes vemo-los apáticos e tristes; vão encontrar um idoso e tornam-se alegres!”. E ao somar-se ao grupo dos idosos, ele acrescenta: “Podemos recordar aos jovens ambiciosos que uma existência sem amor é uma vida árida. Podemos dizer aos jovens medrosos que a angústia em relação ao futuro pode ser derrotada. Podemos ensinar aos jovens demasiado apaixonados por si mesmos que há mais alegria em dar do que em receber. Os avôs e as avós formam o ‘coral’ permanente de um grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor sustentam a comunidade que trabalha e luta no campo da vida. Como é desagradável o cinismo de um idoso que perdeu o sentido do seu testemunho, despreza os jovens e não comunica uma sabedoria de vida! Ao contrário, como é bonito o encorajamento que o ancião consegue transmitir ao jovem em busca do sentido da fé e da vida! Esta é verdadeiramente a missão dos avós, a vocação dos idosos! As palavras dos avós têm algo de especial para os jovens. E eles sabem-no! Como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre jovens e idosos! E é isto, este abraço, que hoje peço ao Senhor!".

Dica de Leitura para aprofundar o assunto: Livro Psicopedagogia catequética: reflexões e vivências para a catequese conforme as idades, vol. 4 pessoas idosas. De Eduardo Calandro e Jordélio Siles Ledo, editora Paulus.


Texto de João Melo originalmente publicado em Revista Digital Sou Catequista, edição 11, ano 3, agosto/2015, págs. 88-107.

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