Fiquei inquieto com o lançamento do novo Diretório para a Catequese (2020). De fato, tinha escutado por aí que o PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO (PCNE), atual responsável pela catequese no Vaticano, iria deixar de existir com a reforma da Cúria empreendida pelo papa Francisco. Criado por Bento XVI, o PCNE assumiu a catequese no lugar da Congregação para o Clero. Mas o lançamento do Diretório para a Catequese nos leva a crer que esse órgão não deve deixar de existir tão cedo. Além desses dois organismos vaticanos, existe ainda a Congregação para a Evangelização dos Povos, chefiada pelo cardeal Tagle, que poderia muito bem assumir o trabalho do PCNE e a catequese. O número de departamentos da Cúria Romana ainda precisa ser enxugado.
Apesar de lamentar alguns pontos do documento, a impressão que tive do Diretório para a Catequese é muito positiva. Temas extremamente importantes tiveram tratamento ampliado: migrantes, povos nativos (indígenas), população encarcerada, a temática da catequese e ecologia, a cultural digital, a explícita opção preferencial pelos pobres.. são todos apelos universais nos dias de hoje e que foram abarcados pelo texto.
Acho que a maior deficiência do Diretório é o lugar não primordial que a Bíblia ocupa como fonte da catequese - ela figura entre as outras fontes. No Brasil a nossa “velha” ‘Catequese Renovada’ já afirmava o lugar essencial do Bíblia em 1983.
Fisichella sustenta a necessidade de um novo Diretório a partir de dados sobre a situação de evangelização e iniciação cristã hoje na Igreja: a identificação da catequese com o esquema escolar, e a mentalidade de uma catequese feita para a recepção dos sacramentos. De fato, acho que o Diretório Geral para a Catequese (o antigo) já respondia a essas questões que nos interpelam ainda hoje, exceto no que se refere à novidade da cultura digital. Ele dá grande relevância a esse tópico. Pastoralmente, a prática dos catequistas no Brasil é bem deficitária nesse aspecto. Penso que a pandemia do Covid19 ajudou a demonstrar isso. Mas é um assunto complexo. Há muitos catequistas e catequizandos desprovidos de acesso à cultura digital. As realidades são muitas... Há ainda no nosso país um problema muito maior: o protagonismo dos conservadores nessa área digital (como Pe. Paulo Ricardo, vários YouTubers, o site "O Catequista" que têm livros publicados pela mesma editora que publicou Bento XVI no Brasil, etc). Enquanto isso, a CNBB e outras grupos que dependem da boa vontade de voluntários, ainda patinam nesse campo (veja, por exemplo, o site catequese do Brasil, mantido pela CNBB). O Brasil padece de uma televisionalização da devoção popular que cada dia toma ares de devoção midiática criada por grupos flertadores do governo Bolsonaro, e padece também de uma catequese doutrinária impulsionada por gurus digitais que ganham muito dinheiro com isso. Mas, talvez, para a CNBB, esse alerta do novo Diretório para a Catequese sobre a cultura digital, desencadeie novas iniciativas.
O tempo de quarentena nos convida a olhar para a catequese desde casa como uma oportunidade para uma catequese personalizada de estilo catecumenal. “A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos - nesta ‘arte do acompanhamento’, para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro (cf. Ex 3,5)” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 169). Não só os catequistas, mas todos os membros dos diversos grupos, movimentos e pastorais da comunidade podem colaborar nesse gesto de proximidade. Cada membro da comunidade pode acompanhar de forma personalizada um ou mais iniciandos e suas famílias, os conhecendo, ajudando-os e sendo testemunhas de seus percursos de fé e desejos de discipulado (cf. Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, n. 42). Essa personalização da catequese é, na verdade, um ministério específico de quem aqui colocam-se como uma espécie de “introdutor” desses iniciandos. Nesse processo, se propõe um tempo de pré-catecumenato, que é o nome do 1º tempo em que um membro da comunidade faz o acompanhamento espiritual e pessoal de maneira informal e com simplicidade do iniciando e sua família que buscam a catequese. Nesse 1º tempo é feito o anúncio querigmático, ou seja, é nesse período que o nome, ensinamentos, vida, promessas, chegada do Reino e mistério pascal de Jesus de Nazaré são anunciados por um tempo adequado aos iniciandos para lhes despertar a fé e prepará-los para a catequese propriamente dita. Pode-se para isso usar os textos bíblicos dos evangelhos da liturgia do Domingo por meio da Leitura Orante (Lectio Divina). Durante a quarentena, esse acompanhamento pode acontecer também online”.
Diretório Para a Catequese (2020) by João Melo on Scribd
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