domingo, 25 de agosto de 2013

Crônica de um Congresso de catequistas no Rio Grande do Sul

1. Sobre a viagem
Frio e muita chuva. Contam-me que faz dias que chove sem parar e que muitos lugares em diversas cidades estão inundados. No táxi, já na rodovia, vejo regiões inteiras alagadas que lembram uma represa, mas o motorista me diz que na verdade são de ruas e vias de acesso e que o evento se repete todo ano.
De Porto Alegre fui para a pequena e bela Bom Princípio. O meu aplicativo de mapas da Google não contém o mapeamento das ruas da cidade, é a primeira vez que isso acontece. A maior parte da população local fala alemão fluentemente, o padre que me conta isso, tem em seu cachecol as cores da bandeira alemã.
Antes de ir para o seminário menor onde iria ser hospedado, fui a um colégio marista que fica ao lado do seminário. Lá, fui acolhido calorosamente por um grupo de jovens e adultos que trabalhavam em mais uma edição do seu tradicional CLJ (Curso de Liderança Católica). Seus correspondentes em São Paulo são o FSJC  e o TLC, dentre outros.  No evento estava acontecendo uma "Missa catequética", onde o padre explica parte por parte da missa antes que cada parte do rito aconteça. Uma das organizadoras explicou como ocorre esse encontro de jovens, no seu relato ela disse que naquele dia, mais cedo,  os jovens  escreveram uma carta para seus pais ou responsáveis depois de participarem de uma palestra sobre família e que nesta, eles deveriam escrever tudo o que sempre desejaram dizer a eles. Tais cartas tinha ido para a rodoviária e chegando ao seu destino, os pais, já avisados, deviam ir a rodoviária mais perto de suas casas e buscar a carta de seus filhos. No encerramento eles participariam de uma missa com eles. Naquele dia, o cardápio do jantar incluía churrasco.
Mais tarde, por volta das 21:20, fui "encontrado" pelos seminaristas do propedêutico da diocese de Montenegro. Uma vez no seminário, eu, eles e seus reitores jantamos - pizza. Tivemos uma conversa muito proveitosa, trocando experiências e partilhando as realidades da Arquidiocese de São Paulo e da Diocese de Montenegro. Os reitores se mostraram despojados e muito próximos de seus formandos. Um dos seminaristas revela que o bispo também é assim.
2. Sobre o congresso
No dia seguinte começou o Congresso Catequético Vocacional. O encontro que reuniu catequistas de toda a diocese levava esse nome porque nele seria inaugurado o Ano Vocacional diocesano. No café da manhã - comi cuca pela primeira vez - procurei conversar com o maior número de catequistas possível. A maior parte, como em São Paulo e no Brasil todo, é mulher, mas mesmo assim, achei muito expressivo o número de catequistas homens. A faixa etária também era muito diversa, embora os adultos fossem predominantes. Ouvi relatos de pessoas que são catequistas a mais de 15 anos bem como de outros que começaram a pouco tempo.   
É facilmente notável que a diocese está passando por uma fase de reestruturação da catequese e que esta está agradando a catequistas e catequizandos. A diocese caminha rumo a uma catequese de inspiração catecumenal.
Para a catequese de 1ª Eucaristia, como eles preferem chamar, era usado, pelo menos na fala de alguns, o próprio Catecismo da Igreja Católica. Ficava a encargo do próprio catequista adaptar o conteúdo e a linguagem para a realidade do catequizando. Essa catequese já tinha e vai continuar a ter duração de 2  anos. Já a catequese de Crisma que tinha duração de 1 ano, passará a 2. Não havia um material específico. Na catequese de adultos, os catequistas muitas vezes são os padres, seminaristas do seminário maior ou outros leigos com formação teológica. A celebração dos sacramentos com os adultos normalmente ocorre junto com as crianças e jovens e não necessariamente no tempo Pascal.
Em geral, as turmas são formadas por poucos catequizandos. 4, 6, há lugares em que só é permitido ter turmas de até 12 catequizandos. Se houver mais, então outro catequista assume o restante. Parece que a maior parte deles atua sozinho e que os poucos que atuam em duplas, têm turmas um pouco maiores.
A diocese está adotando o material do padre Leomar Brustolin, palestrante do congresso, que propõe uma catequese de estilo catecumenal a partir da leitura orante da Bíblia. O 1° plano de pastoral da diocese será sobre a Iniciação Cristã, tema do nosso congresso.
3. Sobre a fala do Padre Leomar
Padre Leomar iniciou sua fala enfaticamente dizendo que, de fato, pretendemos implantar o processo de Iniciação à Vida Cristã, mas que, uma vez que ninguém dá o que não tem, é preciso primeiro viver e falar da própria experiência de iniciação à vida cristã para depois poder passar a tratar da iniciação das crianças, jovens e adultos. Em outras palavras, precisamos primeiro ser iniciados  - nós, catequistas - para depois iniciarmos aos outros.
Nesse sentido, é preciso primeiro identificar a situação atual o "onde estamos" e depois, propor o "onde queremos estar" da iniciação cristã. Constata-se que ao mesmo tempo em que é "difícil" evangelizar, em razão dos desafios pastorais e da cultura vigente, que nunca tornou-se também tão fácil evangelizar devido a "sede", a falta de sentido em que as pessoas estão imersas.
Outro aspecto por ele levantado é justamente uma crescente maneira de lidar com a fé na esfera do individualismo, criando uma espécie de fé privatizada. Insiste que a fé na catequese tem que ser vivida de forma comunitária. Aconselha, inclusive, que nos encontros de catequese, a forma de rezar seja comunitária também, ou seja, não rezar por individualidades do tipo "minha família", "meu problema", etc, antes rezar por "nossas famílias" e " nossos problemas". Não é cristão rezar apenas pelas próprias necessidades. A preocupação maior do cristão é sempre com o outro.
Ovacionado, pe. Leomar afirmou que  o novo modelo de catequese vai mudar o estilo de ser da paróquia. Uma catequese nova exige uma comunidade nova (Cf. Mt 9,17).
É preciso criar "Comunidades catecumenais" - termo que não conhecia - que são comunidades onde a catequese fortalece todas as lideranças da comunidade. A catequese torna-se a "menina dos olhos" da comunidade, mantendo uma constante relação com as outras pastorais, de modo a oferecer "serviços catecumenais" - outra expressão nova.
Uma metáfora: Nossos batizados, ou que receberam outros sacramentos, mas não foram evangelizados são como que se possuíssem uma poção de sementes que nunca irão plantar.
Agora faz 30°C em São Paulo e estou feliz por saber que vou ver o Sol brilhar. Trago comigo a esperança luminosa de uma catequese cada vez mais iniciática...
Mãos a obra!
25 de Agosto, dia do Catequista.
Em algum lugar, depois de deixar Porto Alegre, RS.

Um comentário:

Camilla Nunes disse...

Belíssima crônica, João, e sobre um tema tão relevante e ao mesmo tempo, um tanto esquecido por nossas Paróquias... ao menos me parece que se dá o devido valor e importância à Catequese, fonte primeira de fé e alimento de Cristão... Parabéns pelo dia do Catequista... :) Abraços! Camilla